Ex-ministros, deputados, dirigentes sindicais, governadores e simpatizantes do PT participaram neste sábado, 4,do velório da primeira dama Marisa Letícia na quadra do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. A mulher do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva morreu anteontem, aos 66 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC).
A fila para cumprimentar Lula deu a volta no quarteirão. De pé ao lado do caixão, que recebeu uma bandeira do PT e outra do Brasil, o ex-presidente abraçou um a um. Na coroa de flores enviada pelo próprio Lula, lia-se a mensagem: “Minha galega: agora o céu ganha a estrela que iluminou minha vida”. Ao discursar, homenageou a companheira, com quem foi casado por 43 anos. “Marisa foi mãe, foi pai, foi tia, foi tudo”, disse Lula. “Sou o resultado de uma menina que parecia frágil e que me deu a garantia de que eu pudesse viajar para ajudar a criar o PT”, disse, emocionado, ao lado de um dos filhos.
O ex-presidente também afirmou que Marisa “morreu triste” pela “canalhice” e “maldade” que fizeram com ela. Sem nominar ninguém, cobrou pedido de desculpas. “Quero que os facínoras que levantaram leviandades contra ela tenham um dia a humildade de pedir desculpas.”
Ainda sobre as investigações, Lula afirmou que não tem medo de ser preso. "Se alguém tem medo de ser preso, este que está aqui, enterrando sua mulher hoje, não tem. Não tenho que provar que sou inocente. Eles que precisam dizer que a mentiras que estão contando são verdadeiras", afirmou.
Lula relembrou diversos momentos de seu casamento de mais de quatro décadas com Marisa Letícia, como quando se conheceram na sede do Sindicato, onde hoje acontece o velório. Segundo ele, nos tempos em que foi presidente da República (2003-2010), "Marisa nunca pediu um vestido, um anel". "Desde 1975 minha conta bancária é da Marisa. Nunca admiti que ela mendigasse nada para o marido." Além disso, Lula relembrou os nascimentos de seus filhos e se emocionou.
O tom político também permeou o discurso do bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino, que criticou as reformas trabalhista e previdenciária do governo de Michel Temer. “Atentem para que essas reformas sejam contra os pobres e os assalariados.”
Ele também afirmou que Lula está sendo “perseguido” e sem direito de defesa.
Solidariedade. A presidente cassada Dilma Rousseff esteve no local no fim da manhã. Já o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Temer e o ministro José Serra (Relações Exteriores) visitaram Lula na quinta-feira, no Hospital Sírio Libanês, após o agravamento do quadro de saúde de Marisa Letícia, mas não compareceram ao velório.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) falou sobre o encontro entre Temer e Lula, o primeiro desde o impeachment de Dilma, e rechaçou a possibilidade de abertura de diálogo entre eles. “É precipitado dizer que isso vai acarretar em um entendimento na política. Vamos bater duro na reforma da Previdência e consideramos Temer um presidente ilegítimo”, disse Farias.
Já o vereador e ex-senador Eduardo Suplicy (PT) avalia que a visita de Temer a Lula no hospital pode abrir caminho para o diálogo. “Nesse momento de desavenças tão profundas, a morte de dona Marisa pode criar essa vontade de se conversar mais sobre o Brasil.”
Um dos fundadores do PT, o deputado federal Vicentinho (PT-SP) comentou que “sinceridade era a característica” da primeira-dama. “Quando tinha de dar umas duras, ela dava.”
Pela manhã, uma equipe da TV Globo foi hostilizada por parte dos presentes. A equipe deixou o local, e o sindicato pediu que o dia não fosse de “confusão com a imprensa, mas de silêncio”.
Cremação. Terminada a cerimônia, Lula e os familiares foram para o Cemitério das Colinas, também em São Bernardo do Campo, onde o corpo de Marisa foi cremado. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, 20 mil pessoas passaram pelo velório.
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