Em seu terceiro mandato como deputado federal pelo Progressistas, Arthur Lira (AL) conquistou nesta segunda-feira, 1º, um dos cargos mais importantes da política nacional: a presidência da Câmara dos Deputados. Na campanha pela cadeira então ocupada por Rodrigo Maia (DEM-RJ), o líder do Centrão ganhou o apoio de ninguém menos do que o presidente da República. Além de inúmeras reuniões para converter votos, Jair Bolsonaro escalou ministros-deputados para reforçar a votação e, como revelou o Estadão na semana passada, abriu o cofre do governo e distribuiu R$ 3 bilhões em recursos extraordinários para garantir apoio ao candidato. Da mesma forma, o Planalto liberou também um valor recorde de emendas parlamentares ao Orçamento para o mês de janeiro, equivalente a R$ 504 milhões.
A associação ao chefe do Executivo levantou dúvidas sobre a independência de Lira em uma eventual vitória. Baleia Rossi, candidato do MDB à presidência da Casa, chegou a questionar se o líder do Centrão analisaria os pedidos de impeachment de Bolsonaro, tema que ele evitou tratar durante toda a campanha. A ideia de um aparelhamento entre Câmara e Planalto foi reforçada pela declaração do presidente de que iria “participar e influir” na disputa pela presidência da Câmara.
Lira nega qualquer dobradinha e já afirmou que, se eleito, será “altivo e autônomo”. No entanto, tanto ele quanto Rodrigo Pacheco (DEM-MG), candidato de Bolsonaro no Senado, que venceu a disputa na Casa com 57 votos, já se comprometeram em barrar possíveis comissões parlamentares de inquérito (CPIs) com potencial de atingir o Palácio do Planalto. A CPI das Fake News, cujo alvo é o “gabinete do ódio” e os filhos do presidente, é uma delas, assim como a CPI da Saúde, que pretende investigar falhas do governo na condução da pandemia de covid-19.
Corrupção
Amigo do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, atualmente em prisão domiciliar, Lira responde a uma série de ações na Justiça. Em 2018, foi denunciado pela Procuradoria-Geral de República (PGR) por lavagem de dinheiro e corrupção, seis anos depois que um de seus assessores parlamentares foi flagrado com dinheiro escondido embaixo da roupa. Em outro caso, foi acusado pelo Ministério Público Federal de chefiar um esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa de Alagoas. Como o Estadão revelou, os documentos indicam desvios da ordem de R$ 254 milhões.
Lira também foi condenado em segunda instância na esfera cível por improbidade administrativa. Mesmo com a Lei da Ficha Limpa, conseguiu tomar posse em 2018 como deputado federal graças a uma liminar do Tribunal de Justiça de Alagoas. Empresário, advogado e agropecuarista, Arthur Lira já foi deputado estadual por Alagoas e vereador em Maceió, sua cidade natal. Seu pai, Benedito de Lira (PP), foi deputado estadual, federal e senador por Alagoas. Atualmente, aos 78 anos, é prefeito de Barra de São Miguel, no litoral sul alagoano.
Lira é líder do Centrão, bloco que passou a compor a principal base de sustentação do governo no Congresso. O grupo de centro-direita, conhecido pelo fisiologismo, deve garantir uma vaga na reforma ministerial de Bolsonaro em caso de vitória.
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