BRASÍLIA – O deputado federal André Fufuca (PP-MA) tem a sua trajetória política marcada por ações que contrariaram posicionamentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Partido dos Trabalhadores. Escolhido na noite desta quarta-feira, 6, para ser o novo ministro do Esporte, Fufuca integrou da tropa de choque do ex-deputado Eduardo Cunha e é apadrinhado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Fufuca tem 34 anos de idade e será o ministro mais novo do governo Lula. Formado em Medicina, ele é natural de Santa Inês, município que fica a 280 quilômetros da capital maranhense São Luís. Por lá, é chamado de Fufuquinha. O seu pai, Francisco Dantas Ribeiro Filho, prefeito do município de Alto Alegre de Pindaré, é conhecido como Fufuca Dantas. Fufuca é um apelido regional para Francisco.
A carreira política de André Fufuca começou em 2010, quando, aos 21 anos, foi eleito deputado estadual pelo PSDB. Na Assembleia Legislativa do Maranhão, foi apelidado como “Menudo”, por ser o mais jovem de um grupo de parlamentares que haviam sido empossados naquela legislatura. O nome faz referência a boy band portorriquenha que fez sucesso nos anos 80.
Em 2014, foi eleito deputado federal pelo Partido Ecológico Nacional (PEN), que hoje se chama Patriota. O momento de maior destaque da carreira como parlamentar foi em 2017, quando comemorou o seu aniversário de 28 anos tomando posse como presidente interino da Câmara dos Deputados, cargo que ocupou por sete dias devido a uma viagem do ex-presidente da Casa, Rodrigo Maia.
Fufuca se filiou ao PP em 2016, e é o atual líder da bancada do partido na Casa. Ele é apadrinhado e fiel aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). No programa de entrevistas Roda Viva, da TV Cultura, veiculado no último dia 31 de julho, Lira disse que o partido estava ajudando o governo Lula apenas porque os dois haviam feito um pedido aos seus correligionários.
“O meu partido está ajudando o governo a meu pedido e a pedido do líder (André) Fufuca. O presidente Ciro (Nogueira) nunca fez nenhum veto, nenhuma mobilização na bancada da Câmara para que não ajudasse nas matérias importantes para o País”, disse o presidente da Câmara.
Novo ministro votou a favor de impeachment de Dilma e fez palanque para Bolsonaro
Na Câmara, Fufuca se posicionou de forma contrária aos interesses do Partido dos Trabalhadores. Em abril de 2016, o novo ministro de Lula votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Membro da “tropa de choque” de Eduardo Cunha, então presidente da Câmara no processo de deposição da petista, o parlamentar foi, em junho daquele ano, um dos nove deputados contrários à cassação de Cunha no Conselho de Ética da Casa, que foi aprovado no colegiado por 11 votos.
Enquanto Cunha prestava depoimento no colegiado, um bate-boca entre Fufuca e o deputado mineiro Júlio Delgado viralizou na internet. Delgado afirmou que Fufuca era um soldado a serviço do ex-presidente da Câmara e que o chamava de “papi” nos corredores do Congresso Nacional. A reação do maranhense foi dizer que era desrespeitado por ser um parlamentar jovem.
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“Não queira macular minha imagem pela minha juventude. Vossa Excelência é o exemplo de que até os canalhas envelhecem. Nesta Casa, ninguém me viu usar tal ato de bajulice. Até porque eu venho de um Estado que nós não temos o costume de usar esse termo ‘papi’, um termo que, com todo respeito a quem aqui está, é até afeminado”, disse.
Depois que o ex-presidente da Câmara foi cassado, Fufuca tentou descolar-se da sua imagem. Porém, nunca negou que existe uma amizade entre os dois. Em uma entrevista concedida ao G1 em 2017, Fufuca disse que Cunha ajudou diretamente na sua ascensão política. “A minha relação com Eduardo Cunha era de amizade, todo mundo sabe que eu tinha amizade. Quando eu cheguei aqui, foi ele que me deu espaço. Agora, a minha relação com Eduardo é de amizade. Política, a relação é zero. Ele é do Rio de Janeiro, eu, do Maranhão. Eduardo era do PMDB, eu era na época do PEN. Fui para o PP, ele queria que eu fosse para o PMDB”, afirmou.
Apoiador do impeachment de Dilma em 2016, Fufuca não teve o mesmo posicionamento em 2021, quando no auge da pandemia de covid-19, falava-se em abrir um processo para afastar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por causa da sua gestão na crise sanitária. Ao portal O Antagonista, ele disse que era contrário à deposição do então chefe do Executivo. Durante o mandato de Bolsonaro, Fufuca também foi líder do PP na Câmara, sendo um dos responsáveis por aproximar a sigla do governo.
Na campanha presidencial do ano passado, Fufuca pediu votos para Bolsonaro em um evento no Maranhão, declarando que o escolheu nos dois turnos e pedindo para que os seus eleitores também apoiassem o ex-presidente. “A gente tem uma missão, não apenas aqui mas no Brasil inteiro que é dar a maioria absoluta para Jair Messias Bolsonaro”, disse.
“Eu peço para quem eu acho correto. Eu peço voto para aquele que olhou para a BR-135 e inaugurou ela depois que quase 15 anos de abandono. Eu peço voto para quem colocou recurso para terminar a BR-010. Eu peço voto para mais de dois milhões de famílias que recebem o auxílio no nosso Estado. Isso quem fez foi o presidente Bolsonaro”, afirmou o novo ministro de Lula.
Como parlamentar, teve apenas um projeto de lei aprovado
Em oito anos de Câmara dos Deputados, Fufuca apresentou 27 projetos de lei, mas apenas um foi aprovado. A proposta que entrou em vigor no País foi a da criação da bula digital de medicamentos, em 2021, que permitiu aos laboratórios farmacêuticos inserirem um QR Code nas embalagens para os consumidores poderem acessar detalhes sobre as suas composições.
A justificativa do então deputado foi que, em médio e longo prazo, à medida que a população se acostumasse a utilizar a bula digital, o uso das folhas seria desnecessário, podendo baratear o custo final dos medicamentos. “Além disso, haverá uma considerável redução no consumo de papel e tinta, no acúmulo de resíduos sólidos e na poluição ambiental.”
Fufuca fez parte da maior derrota do governo Lula no Congresso
No fim de maio, o líder do PP fez parte daquela que é a maior derrota do governo Lula na Câmara até o momneto: a aprovação do projeto de lei que prevê o marco temporal da ocupação de terras por povos indígenas. O partido do ministro deu 37 votos a favor e quatro contrários à proposta. Em abril, quando o governo ainda se articulava para tentar barrar a votação do tema, Fufuca apresentou um requerimento para pedir urgência da votação, que foi negado.
Além do PP, a derrota na Câmara só foi possível a partir de votos de deputados integrantes de partidos que possuem ministérios na Esplanada, como MDB, União Brasil, PSD e PSB. Isso fez o governo se atentar para a sua articulação com o Poder Legislativo, motivando a criação da estratégia de se incluir membros do Centrão no governo, no qual a indicação de Fufuca faz parte.
Por outro lado, Fufuca apoiou as principais pautas econômicas do governo Lula. O ministro votou a favor da aprovação do arcabouço fiscal, da reforma tributária e da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Transição.
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