RIO – O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) e seus assessores foram alvos de uma operação da Polícia Federal na manhã desta sexta, 25, por suposta associação criminosa voltada para desvio de cota parlamentar. Durante as buscas, a Polícia Federal apreendeu R$ 72 mil com um assessor do deputado. Gayer é alvo de processos no Supremo Tribunal Federal (STF) por injúria e difamação contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi alvo de um processo da Comissão de Ética da Câmara por racismo.
Nas redes sociais, o deputado destacou o fato de a operação ser aberta dois dias antes do segundo turno das eleições, da qual seu candidato participa em Goiânia. Segundo o parlamentar, as buscas visam “claramente prejudicar seu candidato”. “Vieram na minha casa, levaram meu celular, meu HD. Essa democracia relativa está custando caro”, bradou, dizendo não saber do que se trata a investigação.
O deputado federal abriu mão da sua candidatura à Prefeitura de Goiânia para dar o lugar para o ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL). Rodrigues foi deputado estadual por Goiás entre fevereiro de 2022 e dezembro de 2023, e foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por não prestar contas nas eleições de 2020, quando concorreu ao cargo de vereador da capital goiana.
A troca de Gayer por Rodrigues foi arquitetada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que quer Gayer nas trincheiras da oposição ao governo Lula no Congresso Nacional.
Deputada comparou nordestinos a galinhas
Em maio deste ano, o deputado federal bolsonarista comparou os nordestinos a galinhas que recebem migalhas do Estado. O discurso ocorreu durante um evento em que o parlamentar participou para discutir projeto que trata do Sistema Nacional de Educação (SNE).
Gayer contou uma parábola em que Josef Stalin, ex-político da União Soviética, foi contestado sob a alegação de que se continuasse matando a pessoas, haveria rebelião e revolta. Nesse momento, Stalin teria pegado uma galinha, colocado o animal embaixo de seu braço e começado a arrancar as suas penas. A ave teria ficado gritando e perdendo sangue.
Quando a galinha estava quase sem penas, já sofrendo, Stalin teria jogado a ave no chão, tirado algumas migalhas do bolso, e ela teria comido. Após isso, o soviético teria pegado a galinha novamente, que estava mansa e, depois de sair do local, o animal teria ido atrás dele.
“Essa história representa o que a esquerda faz com o Brasil, e principalmente o que a esquerda faz como o nordeste”, afirmou o deputado.
Pedido de cassação por racismo
No fim de junho, Gayer relacionou a existência de ditaduras em países da África à falta de “capacidade cognitiva” da população do continente. Respondendo ao apresentador de um podcast que afirmou que o QI dos africanos era menor que o de macacos, o parlamentar disse que o “Brasil está emburrecido” e “segue o mesmo caminho das nações africanas”.
No mesmo episódio, Gayer disse que a “esquerda percebeu que ter um Congresso também acaba com a democracia deles, então eles estão anulando o Congresso e estão super empoderando o Judiciário”. O parlamentar completou afirmando que o STF “se tornou um escritório de advocacia particular” e, então, rotulou o presidente Lula como “bandido”.
A declaração motivou um pedido de cassação do parlamentar por racismo no Conselho de Ética da Câmara. A proposta não chegou a ser votada pelo colegiado. Em novembro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou denúncia no STF pedindo a condenação de Gayer por injúria e racismo e a cassação do mandato dele, em caso de pena superior a quatro anos de prisão. O caso está no gabinete da relatora, ministra Cármen Lúcia, e ainda não foi concluído.
Além disso, a PGR citou uma publicação dele no X (antigo Twitter), em que afirmou que o então ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, é ”analfabeto funcional” ou “completamente desonesto”. Segundo o órgão, Gayer reforçou “estigmas reprodutores de inferioridade contra minorias raciais”.
Assédio eleitoral para beneficiar Bolsonaro
O juiz Celismar Coelho de Figueiredo, da 7ª Vara do Trabalho de Goiânia, condenou o deputado, em dezembro do ano passado, ao pagamento de R$ 80 mil por danos morais por assédio eleitoral a funcionários de empresas do Estado. A avaliação do magistrado é a de que o parlamentar coagiu moralmente os trabalhadores a votarem no ex-presidente Jair Bolsonaro “como meio de manutenção e criação dos empregos, caso referido candidato fosse reeleito”.
Nas redes sociais, Gayer chamou a condenação de “esdrúxula”. Ele atacou a procuradora do Trabalho, responsável pela ação, a quem chamou de “petista histérica”. Gayer sustentou que “não pediu voto para ninguém, consultou seus advogados e foi condenado por falar o plano de governo dos candidatos, o ladrão e o Bolsonaro”.
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