Quem é o militar próximo a Villas Bôas que faltou a depoimento na CPMI do 8 de Janeiro

Osmar Crivelatti trabalhou com ex-comandante das Forças Armadas e foi braço-direito de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; ministro do STF autorizou o assessor a não comparecer ao colegiado

PUBLICIDADE

Foto do author Natália Santos
Atualização:

O segundo-tenente Osmar Crivelatti não compareceu à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro para prestar depoimento nesta terça-feira, 19. Figura próxima do ex-comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, Crivelatti era subordinado ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

PUBLICIDADE

A ausência de Crivelatti na CPMI foi autorizada pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), no fim da tarde desta segunda-feira, 18. O magistrado acatou um pedido da defesa para que o assessor do ex-presidente não fosse obrigado a ir ao colegiado.

Inicialmente, a CPMI havia se programado para ouvir o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, mas o depoimento foi adiado. A oitiva de Braga Netto foi reagendada e deve ocorrer dia 5 de outubro.

Crivelatti é atualmente um dos assessores pessoais de Bolsonaro e integra a cota de servidores que ex-presidentes têm direito, cujos gastos são custeados pela própria Presidência da República com recursos públicos. Ele é investigado no caso de suposta de vendas de joias recebidas pelo governo Bolsonaro.

Antes, Crivelatti ocupou uma função importante no Exército: ele foi o primeiro adjunto de comando do Exército, cargo criado em 2015 pelo general Eduardo Villas Bôas, que nomeou o segundo-tenente para assessorá-lo. Ele deixou o cargo apenas em junho de 2019 para trabalhar na Presidência, atuando na organização de viagens internacionais, por exemplo. Depois, virou braço-direito de Mauro Cid no cargo de coordenador administrativo da Ajudância de Ordens da Presidência.

Em março de 2023, a defesa de Bolsonaro entregou um fuzil e uma pistola presenteados pelos Emirados Árabes. Na foto, o militar Osmar Crivelatti aparece segurando a maleta com as armas Foto: Wilton Junior/Estadão

Relação com Mauro Cid

Essa relação de proximidade entre os dois deve ser explorada na CPMI do 8 de Janeiro, caso Crivelatti compareça ao depoimento. Os requerimentos dos parlamentares citam as mensagens com planos golpistas que a Polícia Federal (PF) encontrou no celular de Cid. Segundo eles, Crivelatti pode ajudar a entender mais esse ponto da investigação.

Como mostrou a Coluna do Estadão, a convocação de Crivelatti foi um movimento da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em reação à postura de Cid ao depor no colegiado, que ficou em silêncio até quando questionado sobre sua idade – ele havia obtido um habeas corpus para se manter em silêncio ao ser abordado por perguntas que pudessem incriminá-lo.

Publicidade

Cid fechou um acordo de delação premiada com a PF. Após os termos serem aceitos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, Cid deixou a prisão, cumprindo agora medidas cautelares, como o uso de tornozeleira eletrônica.

A CPMI está nas últimas semanas de trabalho. O relatório final deve ser apresentado pela relatora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), no dia 17 de outubro. Como mostrou o Estadão, a parlamentar pretende organizar uma acareação de Mauro Cid com Jair Bolsonaro como gran finale do colegiado. A ideia é colocar os dois frente a frente para confrontar as versões.

“Tal encontro simultâneo entre esses dois personagens, com oportunidade de darem sua versão para os fatos, é essencial para os trabalhos da CPMI, tendo em vista a homologação da delação de Mauro Cid e o conjunto probatório em poder da comissão parlamentar de inquérito, dados estes todos relacionados aos eventos golpistas ocorridos entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023″, disse Eliziane.

Caso das joias

Mesmo não sendo o foco principal do colegiado, Crivelatti também pode ser questionado sobre o esquema de venda ilegal de joias recebidas em missões oficias por integrantes do governo Bolsonaro. Ele foi alvo da Operação Lucas 12:2, que investiga o caso.

Ao prestar um “longo depoimento” à PF, ele adotou uma estratégia diferente de outros envolvidos, que preferiram ficar em silêncio. O órgão investiga a participação do segundo-tenente tanto na retirada de joias do acervo presidencial quanto na posterior “operação de resgate” para devolver os itens ao patrimônio federal.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.