No centro da desavença entre o presidente Jair Bolsonaro e a Polícia Federal do Rio de Janeiro, o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ), que usou o “codinome” de Hélio Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018, é amigo de longa data do presidente.
Na terça-feira, 10, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, mandou a PF investigar uma suposta inclusão fraudulenta do nome do deputado em um inquérito sobre crime previdenciário. O ministro determinou “a imediata apuração dos fatos no âmbito administrativo e criminal, com a identificação dos responsáveis”.
Figura quase constante ao lado do presidente Jair Bolsonaro - o chamado “papagaio de pirata” no jargão político - Hélio Lopes foi o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro, com mais de 345 mil votos, superando Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que foi derrotado, no segundo turno, por Marcelo Crivella na disputa pela prefeitura do Rio, em 2016.
Segundo dados do TSE, o comitê de campanha de Jair Bolsonaro foi o maior doador para a campanha de Hélio, com R$ 45 mil doados, mais da metade do total arrecadado pela candidatura. O comitê de campanha de Wilson Witzel (PSC), eleito governador do Rio, também figura entre os doadores. Hélio participou ativamente na campanha de Bolsonaro e foi uma das primeiras pessoas que visitou o então candidato no hospital após o atentado a faca que sofreu em Juiz de Fora (MG).
“Eu era uma das poucas pessoas que estavam autorizadas a entrar lá, fora a família. Quando ele apertou a minha mão, nossa, chego a arrepiar só de lembrar ele ali”, afirmou em uma entrevista concedida à Globonews. Na mesma entrevista, ele destacou que a primeira aparição social de Bolsonaro após ser eleito foi em seu aniversário de 50 anos, comemorado em Brasília, e se descreveu como uma pessoa de “mentalidade de infantaria”. “É a mentalidade da pessoa que parte para o combate, para o exercício não importa o potencial do inimigo, ele vai sempre naquela finalidade de vencer o obstáculo”, explicou.
O subtenente do Exército, hoje na reserva, é amigo de Bolsonaro há pelo menos uma década. Antes de se eleger deputado com votação recorde, Hélio acumulou derrotas em pleitos anteriores: não se elegeu vereador em 2004, por Queimados (RJ), sua cidade natal, e em 2016, por Nova Iguaçu (RJ), quando obteve apenas 480 votos. Em 2014, teve sua candidatura para a Câmara dos Deputados indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo acórdão do TSE, o indeferimento da candidatura teria se dado pelo fato do então candidato não ter apresentado fotografia nos moldes exigidos pelo tribunal.
"Vamos acabar com essa divisão de classe! Somos todos iguais! Minha cor é o Brasil! A força do Brasil é a união do seu povo!". Foi com essa mensagem que Hélio Negão comemorou sua eleição. Bolsonaro costuma usar sua amizade com o militar - que durante a campanha se apresentava como o “negão de Bolsonaro” - para rebater as acusações de que é racista e preconceituoso. Negro, Hélio já se posicionou em suas redes sociais como contrário às cotas raciais nas universidades públicas, se dizendo a favor apenas de cotas sociais.
Na atual legislatura na Câmara, é titular nas Comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e do Esporte. É autor de 61 propostas legislativas, das mais variadas áreas: uma delas propõe que pessoas em prisão domiciliar arquem com os custos da aquisição e da manutenção da tornozeleira eletrônica; outra busca tornar obrigatória a existência de detector de metais em cada escola pública do País. O deputado também já propôs instituir a Semana do Direito, Ética e Cidadania na escola. Outro projeto de lei apresentado por Hélio Lopes dispõe sobre o exercício da atividade de mergulhador profissional. Até o momento, no entanto, nenhuma de suas propostas foi aprovada.
O deputado é bastante ativo nas redes sociais. Sua conta no Instagram possui quase 800 mil seguidores, que acompanham as inúmeras fotos e vídeos que Hélio posta ao lado de Bolsonaro, sempre promovendo sua amizade com o “Cavalão”, como o presidente é chamado por seus amigos mais íntimos, um apelido dos tempos de paraquedista do Exército.
Em sua conta no Twitter, que conta com quase 78 mil seguidores, o deputado costuma, além de exaltar feitos do governo, fazer críticas à imprensa e não raro exalta e corrobora postagens do filho “02” do presidente, Carlos Bolsonaro. “Não se esqueça: mesmo cansado e abatido, um leão continua sendo um leão”, escreveu Hélio Negão no microblog também na segunda-feira, em um dos vários exemplos de postagens exaltando o “capitão”.
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