Ao romper quase três décadas de hegemonia tucana em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) não apenas inaugurou um novo capítulo na política estadual, mas também se consolidou como a aposta mais certeira de Jair Bolsonaro (PL). Às vésperas de cruzar a metade de seu primeiro mandato, o governador enfrenta um dilema: apostar na segurança de uma reeleição ou arriscar uma candidatura presidencial, enquanto seu padrinho político permanece inelegível e sob a sombra de uma possível prisão.
Seja qual for a sua decisão, Tarcísio completa dois anos de gestão com um estilo próprio de governar e um núcleo enxuto e discreto de assessores. No primeiro escalão, o bolsonarismo se limita à Secretaria da Mulher, liderada por uma secretária de sobrenome Bolsonaro, e à Segurança Pública, pasta sob o comando de Guilherme Derrite (PL), que nos últimos meses do ano se tornou a maior dor de cabeça do governador.
Segundo o Portal da Transparência, Tarcísio tem só quatro assessores especiais, todos ocupando cargos de confiança e com salários que variam entre R$ 21,6 mil e R$ 23,5 mil no valor bruto. Entre eles, há egressos do governo Bolsonaro, um aliado de longa data do governador, além do irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).
Os assessores de Tarcísio
Diego Torres Dourado
Irmão da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, Diego é uma peça-chave na articulação política do governo Tarcísio. Ele atua como ponte entre o parlamento e o Executivo estadual, atendendo às demandas dos deputados e facilitando o diálogo entre os dois poderes. Quando necessário, também entra em campo para garantir os votos necessários à aprovação de projetos estratégicos da gestão, como a privatização da Sabesp.
Diego é descrito por deputados como um “facilitador”, que destrava pendências, como o pagamento de emendas impositivas, e organiza agendas com secretários para atender às necessidades dos parlamentares. Por fazer parte da família Bolsonaro, ele também funciona como um canal entre o bolsonarismo e o governador.
André Marcelo Warol Porto Rodrigues
Coronel da reserva do Exército, Porto é o chefe de gabinete do governador e parte do núcleo duro da gestão. Parlamentares, prefeitos, empresários e outros atores políticos recorrem a ele diretamente para tratar de assuntos sensíveis e urgentes com Tarcísio. Nada relacionado à agenda do governador acontece sem passar pelo coronel.
Porto e Tarcísio se conhecem há décadas. Os dois foram da turma de 1996 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e colegas na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx). Porto também trabalhou no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Bolsonaro, onde coordenou eventos e organizou as viagens nacionais e internacionais do agora ex-presidente. Apesar de não ocupar funções políticas no governo federal, acompanhava de perto as articulações do Planalto.
Antes da chefia de gabinete, Tarcísio designou o coronel para chefiar a Gerência de Apoio do Litoral Norte, criada para coordenar e articular a reconstrução dos municípios atingidos pelas fortes chuvas no litoral paulista. A missão foi encerrada em março. Dentro do governo, Porto é descrito como alguém “habilidoso” e “organizado”, que só deixa o Palácio dos Bandeirantes quando o governador se recolhe na ala residencial.
Gustavo Villaça
Advogado, Villaça atuou como assessor de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) até 2022, antes de ingressar no governo paulista. Com um perfil técnico, sua principal atribuição é acompanhar as reuniões do governador e garantir os encaminhamentos necessários. Após os encontros, ele se torna a figura central no gabinete para tratar dos desdobramentos das pautas discutidas.
José Vicente Santini
Santini atua como chefe do escritório do governo paulista em Brasília — portanto, não faz parte do gabinete do governador em São Paulo. Sua principal função é fazer a interlocução da gestão estadual com os Três Poderes na capital federal: o governo Lula (PT), o Congresso Nacional e o Judiciário. Ele se dedica exclusivamente a questões que envolvem os interesses de São Paulo em Brasília.
Ex-integrante do governo Bolsonaro, no qual ocupou diversos cargos, Santini ganhou destaque em 2020, quando foi demitido pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) após utilizar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para viagem de Davos à Índia. Cerca de um ano depois, ele voltou ao governo.
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