O deputado estadual Renato Freitas (PT-PR), que afirma ter sido vítima de racismo durante um voo da Azul, coleciona episódios de discussão com políticos e policiais, inclusive com prisões, além de ter enfrentado um processo de cassação do mandato de vereador de Curitiba, antes de ser eleito para a Assembleia Legislativa do Paraná.
Nesta quarta-feira,10, o deputado relatou em redes sociais que foi abordado pela Polícia Federal (PF) após ter embarcado em um voo no Aeroporto de Foz do Iguaçu (PR), com destino a Curitiba (PR). Homem negro, ele questionou a “abordagem aleatória” sofrida antes que a aeronave decolasse. “Bando de racistas ignorantes”, diz Freitas em um vídeo. Uma passageira perguntou a ele se “está tudo bem” e ele rebateu: “Tirando o fato de ser humilhado. Quantas pessoas desse voo saíram escoltados pela PF para serem revistados?”
Em 2022, ano em que foi eleito deputado estadual com 57.880 votos, ele chegou a ter o mandato de vereador cassado pela Câmara de Curitiba e só retornou ao cargo após uma decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). No processo de cassação, Freitas foi acusado de invadir uma igreja, em fevereiro do ano passado, durante uma manifestação antirracista motivada pela morte do congolês Moise Kabagambe, no Rio de Janeiro.
A própria Arquidiocese de Curitiba se posicionou contrária à cassação do mandato do então vereador por quebra de decoro parlamentar. Em um processo legislativo marcado por disputas judiciais, a primeira decisão pela cassação do mandato foi suspensa pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), em julho. Um mês depois, em outra votação, ele perdeu o mandato novamente.
A decisão do ministro Barroso foi proferida em setembro de 2022. Nela, ele destacou que “sem antecipar julgamentos, é impossível, no entanto, dissociar o ato da Câmara de Vereadores de Curitiba do pano de fundo do racismo estrutural da sociedade brasileira”. A Câmara de Curitiba recorreu. Freitas já enfrenta também pedido de cassação do mandato de deputado estadual, feito pelo Secretário Estadual de Segurança Pública, Hudson Leôncio Teixeira, após denunciar casos de violência policial na tribuna da Casa.
A ‘bronca’ de Lula
O episódio envolvendo a entrada de Freitas na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos rendeu um “puxão de orelha” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). À época, Lula disse que Renato Freitas estava errado de entrar na igreja para protestar e que o então vereador deveria ter a “grandeza de pedir desculpas”. O jovem político chegou a declarar que ficou triste com o presidente por não tê-lo ouvido, mas considerou razoável a ponderação de Lula.
Prisões e discussões
Renato Freitas, 39 anos, também acumula episódios de enfrentamento a políticos e integrantes de forças de segurança. Em junho de 2021, o então vereador de Curitiba foi detido por desobediência e resistência com mais três amigos, na Praça 29 de Março. A situação começou com uma denúncia anônima de perturbação do sossego. Na ocasião, segundo a Polícia Militar, o vereador utilizou a força para retirar o equipamento das mãos do policial. Eles assinaram termos circunstanciados e foram liberados.
Um mês depois, o político acabou sendo preso pela Guarda Municipal de Curitiba na Praça Rui Barbosa, no Centro, suspeito de ter agredido um homem após uma discussão em uma manifestação contrária ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Freitas foi levado à força pelos guardas. Ele disse, à época, que foi vítima “de mais uma prisão arbitrária, violenta e racista”.
Infância
Nascido em Sorocaba (SP), Renato Freitas chegou ao Paraná ainda criança com a mãe. O pai dele, que estava preso à época, tinha sido transferido para o Estado. O político viveu na periferia da região metropolitana da capital paranaense, onde conheceu o rap. Freitas teve o pai e o irmão assassinados. Apesar das dificuldades econômicas e sociais, ele se formou em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e trabalhou como professor universitário e advogado popular. Ele também é militante do movimento negro.
Correções
A data da abordagem mostrada no vídeo foi confirmada pelo deputado Renato Freitas apenas na tarde desta quinta-feira, 11. A publicação que ele fez na noite de quarta, 10, sugeria que o fato tivesse acontecido no mesmo dia, não no dia 3 de maio, conforme divulgado pelo parlamentar e a Polícia Federal.
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