Marielle Franco era uma socióloga e militante pelos direitos humanos que se tornou vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL em 2016, com a quinta maior votação da cidade. ‘Cria’ da favela da Maré, ela foi assassinada aos 38 anos no dia 14 de março de 2018, junto com seu motorista Anderson Gomes, quando ambos saíam do evento “Jovens Negras Movendo as Estruturas”. O carro em que eles estavam foi atingido por 13 tiros.
A Polícia Federal prendeu neste domingo, 24, mais de seis anos após o assassinato, dois suspeitos de terem ordenado o crime: o deputado federal Chiquinho Brazão e seu irmão Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, além do delegado Rivaldo Barbosa, acusado de atuar para proteger os irmãos e de participar no planejamento do ato. Os três negam envolvimento.
A prisão ocorreu após a homologação da delação de Ronnie Lessa, ex-policial militar apontado como responsável por executar os disparos. Outro ex-PM, Élcio de Queiroz, confessou no ano passado que dirigiu o carro utilizado no assassinato.
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Marielle iniciou na militância quando fazia cursinho pré-vestibular e uma amiga foi vítima de bala perdida durante um tiroteio entre traficantes e policiais no complexo da Maré. Ela começou na política em 2006 quando passou a integrar a equipe de campanha do então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Após a eleição, se tornou assessora do gabinete dele e acompanhou a CPI das Milícias de 2008, que investigou a atuação de milícias no Rio e seu envolvimento com políticos e com o poder público. Uma das conclusões de Freixo como presidente da comissão foi de que crime, política e polícia não se separam no Rio de Janeiro – posição que voltou a mencionar depois das prisões deste domingo.
Marielle se formou em sociologia pela PUC-Rio e depois se tornou mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). O tema da sua dissertação foi “UPP: a redução da favela a três letras”, que fazia referência às Unidades de Polícia Pacificadora instaladas em comunidades cariocas. E justamente essa foi uma de suas principais bandeiras como parlamentar.
Eleita em 2016 para a Câmara Municipal, a vereadora era crítica da forma como a Polícia Militar atuava nas favelas e frequentemente fazia denúncias de abusos e violações cometidas por policiais. Antes de seu assassinato, em março de 2018, Marielle também se opôs ao início da intervenção federal capitaneada pelo Exército na segurança pública do Estado. A intervenção esteve em vigor entre fevereiro de 2018 e janeiro de 2019.
A vereadora também tinha como bandeira a defesa dos direitos humanos e militava por mulheres, negros e comunidade LGBT. Ela teve uma filha aos 19 anos e era casada com a militante e hoje vereadora da capital fluminense, Mônica Benicio (PSOL-RJ).
A irmã de Marielle, Anielle Franco, é a atual ministra da Igualdade Racial no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nas redes sociais, comemorou a ação da Polícia Federal neste domingo. “Só Deus sabe o quanto sonhamos com esse dia! Hoje é mais um grande passo para conseguirmos as respostas que tanto nos perguntamos nos últimos anos: quem mandou matar a Mari e por quê?”, escreveu na rede social X (ex-Twitter).
“Agradeço o empenho da PF, do gov federal, do MP (Ministério Público) federal e estadual e do ministro Alexandre de Moraes. Estamos mais perto da Justiça! Grande dia”, finalizou.
O advogado Ubiratan Guedes, que representa Domingos, e o advogado Alexandre Dumans, que representa Barbosa, negam a participação deles no assassinato da vereadora. A defesa de Chiquinho Brazão foi procurada neste domingo, mas não se manifestou. No último dia 20, em nota, ele se disse “surpreendido por especulações que buscam lhe envolver no crime”.
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