A Polícia Federal (PF) já capturou até o início da tarde desta quinta-feira, 6, 48 dos 208 foragidos por envolvimento nos atos golpistas de 8 de Janeiro. As diligências fazem parte da Operação Lesa Pátria, que foi às ruas em 18 estados e no Distrito Federal cumprindo mandados de prisão preventiva.
A PF informou que não divulga a lista de foragidos, porém, a identidade de pelo menos 10 bolsonaristas fugitivos ficou conhecida após eles terem quebrado as tornozeleiras eletrônicas e saído do País. A PF não informa se eles estão entre os procurados nesta quinta, mesmo que nos últimos endereços informados à Justiça.
Os alvos que ainda são investigados – estão respondendo ao processo no Supremo Tribunal Federal (STF) – e descumpriram medidas cautelares não são considerados foragidos. Tecnicamente, uma pessoa é considerada foragida a partir do momento em que há um mandado de prisão contra ela e a mesma não se apresenta à Justiça ou não é encontrada.
É o caso de pelo menos 7 bolsonaristas, que foram condenados a mais de 10 anos de prisão pelo STF, que quebraram as tornozeleiras que faziam o monitoramento eletrônico, impostas como medida cautelar pelo ministro Alexandre de Moraes. Os fugitivos foram para a Argentina e o Uruguai, utilizando as fronteiras de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As informações foram divulgadas em maio pelo portal UOL. Saiba quem são eles:
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Ângelo Sotero
O músico Ângelo Sotero, de 59 anos, é morador de Blumenau (SC) e foi condenado pelo STF a 15 anos e seis meses de prisão pelos crimes de tentativa de golpe de Estado e associação criminosa em novembro do ano passado.
Ele foi preso enquanto invadia o Palácio do Planalto, mas foi solto em agosto do ano passado, mediante uso de tornozeleira eletrônica. Há cerca de dois meses, ele quebrou o equipamento e fugiu para a Argentina, utilizando a fronteira de Dionísio Cerqueira, município de Santa Catarina.
Ao Estadão, o advogado de Ângelo, Hemerson Barbosa, disse que não tem conhecimento do paradeiro do músico.
Gilberto Ackermann
Outro catarinense que fugiu do território brasileiro é o corretor de seguros Gilberto Ackermann, de 50 anos, que residia em Balneário Camboriú e foi condenado a 16 anos e seis meses de prisão em outubro do ano passado. A Corte considerou que fotos e mensagens recuperadas no celular dele mostram o corretor na linha de frente das invasões.
Em 25 de abril, a 1º Vara Criminal de Camboriú ordenou que o STF fosse comunicado “com urgência” de que a sua tornozeleira parou de funcionar. A informação chegou na Corte apenas no dia 29, em um malote digital.
Ao Estadão, a defesa de Ackermann disse que não sabe do paradeiro do cliente e que o catarinense entrou no Palácio do Planalto na invasão golpista, mas não “quebrou nada”.
“É uma condenação totalmente injusta. Ele é um preso político, ele não fez nada. Esses processos são uma aberração jurídica. As provas do processo não foram analisadas, pelo contrário, o que foi analisado foi em desfavor do meu cliente. Ele é uma pessoa correta, uma pessoa de princípios. Quando ele me falou que não quebrou nada, eu acredito”, afirmou.
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Raquel de Souza Lopes
Moradora de Joinville (SC), Raquel de Souza Lopes também fugiu para o território argentino em abril. Como Ackermann, ela foi condenada a 16 anos e seis meses de prisão em outubro.
A Polícia Federal encontrou no celular de Raquel diversas fotos e filmagens dentro do Palácio do Planalto, durante os atos golpistas. Em um dos vídeos, ela comemora o que achava que foi a chegada das Forças Armadas para concretizar o golpe de Estado.
Ao Estadão, a advogada Shanisys Massuqueto, que representa Raquel, se negou a falar sobre o paradeiro da cliente. “O nosso escritório não está falando com os jornais sobre esse caso”, afirmou a defensora.
Alethea Verusca Soares
Moradora de São José dos Campos (SP), a cabelereira Alethea Verusca Soares, de 49 anos, foi condenada a 16 anos e seis meses de prisão por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado, golpe de Estado, deterioração do patrimônio tombado e associação criminosa.
Em depoimento ao STF, ela afirmou que esteve em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023 para conseguir “mais transparência acerca de como ocorreram as votações e segurança das urnas eletrônicas”. Ela foi presa durante os ataques, mas foi solta em agosto do ano passado por ordem de Moraes.
Em janeiro, ela fugiu para o Uruguai utilizando a fronteira terrestre do município gaúcho de Santana do Livramento. Segundo o UOL, ela deixou o território uruguaio e foi para a Argentina em abril.
O Estadão entrou em contato com a defesa de Arethea Verusca Soares, mas não obteve retorno.
Rosana Maciel Gomes
A moradora de Goiânia (GO), de 50 anos, foi condenada a 13 anos e seis meses de prisão em novembro do ano passado. No celular dela, os investigadores encontraram mensagens voltadas para “efetivar a ação antidemocrática, interromper o Estado Democrático de Direito e prevalecer o golpe de Estado com intervenção militar”.
Ela está foragida desde 15 de janeiro. Assim como Alethea, ela foi para o Uruguai utilizando a fronteira de Santana do Livramento e ingressou na Argentina em abril. Por conta da fuga, o STF confiscou suas contas bancárias.
O Estadão não obteve retorno da defesa de Rosana.
Jupira Silvana da Cruz Rodrigues
Em outubro, Jupira Silvana da Cruz Rodrigues foi condenada a 14 anos de prisão pelo STF por golpe de Estado, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa.
Moradora de Betim (MG), ela também fugiu para o Uruguai utilizando a mesma fronteira, de Santana do Livramento, em janeiro deste ano. Em depoimento, admitiu ter entrado no Palácio do Planalto, mas negou ter quebrado vidros e mobílias do prédio.
O Estadão entrou em contato com a defesa dela, mas não obteve retorno.
Fátima Aparecida Pleti
A empresária de Bauru (SP) Fátima Aparecida Pleti, de 61 anos, foi a que teve a condenação mais recente. Em abril, foi condenada pelo STF a 17 anos de prisão por participar do vandalismo em Brasília.
Em 2022, ela trabalhou na campanha do candidato a deputado estadual Luiz Carlos Valle (PL-SP), que não se elegeu. Segundo a prestação de contas de Valle ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Fátima recebeu R$ 2 mil pelos serviços.
No dia 26 de março, enquanto ainda estava sendo julgada, ela quebrou a tornozeleira eletrônica. Segundo o UOL, a autoridade penitenciária do governo de São Paulo só informou o STF duas semanas depois.
O Estadão entrou em contato com a defesa de Fátima, mas não obteve retorno.
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