Quem são os ‘candidatos’ da direita que se cacifaram com as eleições a substituir Bolsonaro em 2026?

Antigos aliados e novos nomes da direita ameaçam protagonismo do ex-presidente para próxima eleição presidencial

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Foto do author Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – Inelegível para as eleições de 2026, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vê emergir nomes de antigos aliados e novas figuras da direita como potenciais alternativas a seu nome no campo conservador e da direita no País. A disputa municipal fortaleceu a influência de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, dentro do PL – partido do ex-presidente – e revelou que os eleitores bolsonaristas podem encontrar em outsiders como Pablo Marçal (PRTB) um discurso tão extremista quanto o pregado pelo capitão reformado do Exército.

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Apesar da derrota no Rio de Janeiro, berço do bolsonarismo, o PL de Bolsonaro avançou nas grandes cidades. Nas 103 com mais de 200 mil eleitores, a sigla teve o melhor desempenho, com 10 prefeitos. Nas capitais, lidera o ranking de vereadores, seguido por PSD, PP, MDB e União Brasil. No Nordeste, tradicional cinturão vermelho, o PL superou o PT nas principais cidades da região.

Em São Paulo, Tarcísio de Freitas, que já despontava como sucessor natural de Bolsonaro para a disputa presidencial de 2026, ganhou terreno. O apoio do chefe do Executivo paulista foi considerado essencial para que Ricardo Nunes (MDB) fosse ao segundo turno contra Guilherme Boulos (PSOL) na capital do Estado.

Ex-presidente Jair Bolsonaro ao lado do governador Tarcísio de Freitas, Eduardo Bolsonaro e Silas Malafaia no ato do Sete de Setembro em São Paulo.  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Na reta final da campanha, Tarcísio se dedicou integralmente à campanha do prefeito, candidato à reeleição. A campanha de Nunes acendeu o sinal de alerta após pesquisas indicarem uma tendência de crescimento de Marçal, impulsionada pela migração de eleitores bolsonaristas da candidatura do prefeito.

O nome do governador já é tratado pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, como o “número 1 da fila” que o partido deve apoiar na disputa de 2026 para o Planalto. Em entrevista à GloboNews o cacique do PL reforçou que o ex-presidente é “o melhor nome” da legenda, mas que Tarcísio deve assumir o posto de favorito diante da inelegibilidade de Bolsonaro.

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“Eu acho que o Bolsonaro ainda vai ser candidato. Quando o Lula estava preso vocês achavam que ele ia ser candidato? Ninguém achava no Brasil. Mas eu acho que vai ter uma saída (pro Bolsonaro). Acho que vai ter uma saída para isso. A gente vai botar para votar a anistia. O candidato nosso é o Bolsonaro, seria o melhor para nós. Mas o número 1 da fila é o Tarcísio”, declarou o cacique na sexta-feira, 11.

Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas em coletiva após o resultado do primeiro turno em São Paulo.  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Espólio de Marçal

A principal ameaça ao bolsonarismo nas eleições municipais deste ano ficou por conta do candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal. O ex-coach aglutinou eleitores do ex-presidente insatisfeitos com a gestão Nunes e abriu brecha para um disputa de narrativa entre os apoiadores de Bolsonaro.

A relação entre Marçal e o clã Bolsonaro foi marcada por tensões e elogios de ambas as partes durante a corrida eleitoral. Após a derrota do integrante do PRTB no primeiro turno das eleições municipais e o anúncio do ex-coach sobre uma possível candidatura aos cargos do Executivo em 2026, expoentes do bolsonarismo ligaram um alerta a respeito do futuro do influenciador e do ex-presidente.

Pablo Marçal vota descalço a alguns minutos de encerrar o prazo para o fechamento da seção eleitoral em escola no bairro de Moema.  Foto: WERTHER SANTANA

Como mostrou o Estadão, interlocutores de dois grupos demonstraram certa preocupação com o desgaste do capital político do antigo líder do Executivo na capital paulista, e chegaram a defender uma reaproximação entre Bolsonaro e Marçal. Uma possibilidade reduzida após Marçal dizer em uma live na terça-feira, 8, que espera por um pedido de desculpas de Bolsonaro, do pastor Silas Malafaia, do governador Tarcísio de Freitas , do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do atual prefeito, a quem anunciou que não irá apoiar no segundo turno contra Boulos. “Se não engolir o vômito vai ficar sem meu apoio”, afirmou Marçal.

A eleição em São Paulo, que terminou com uma acirrada disputa entre três candidatos por duas vagas no segundo turno, refletiu cenários nacionais que indicam um enfraquecimento das duas principais lideranças do País: o ex-presidente Jair Bolsonaro e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Bolsonaro enfrenta uma clara ameaça com o fortalecimento de Pablo Marçal, de acordo cientista político Renato Dorgan, CEO do instituto Travessia, em entrevista ao Estadão.

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Relação estremecida com Caiado

Outro aliado que vive um relação estremecida com Bolsonaro e que saiu fortalecido das urnas foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). O apoio do Palácio das Esmeraldas, sede do governo goiano, contribuiu para a eleição de 210 prefeitos em um Estado que tem 246 municípios. As estimativas são do próprio governo. Mas os resultados em duas das três maiores cidades de Goiás, incluindo a joia da coroa, a capital Goiânia, podem ofuscar a vitória do governador que ostenta o título de mais bem avaliado do País, com 75% de aprovação, segundo pesquisa AtlasIntel publicada em agosto.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o presidente Jair Bolsonaro (08/11/2019) Foto: Isac Nóbrega/PR

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O parlamentar é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que demarcou a diferença entre a direita de Caiado e a que ele representa ao chamar o governador de “covarde” pela atuação na pandemia. O resultado do primeiro turno na capital de Goiás, no entanto, foi um baque para o caiadismo. Diferentemente do que indicavam todas as pesquisas de intenção de voto divulgas até o último sábado, 5, o primeiro colocado na etapa inicial da disputa foi o deputado estadual Fred Rodrigues (PL), com 31% dos votos.

Centrão mantém domínio

O União Brasil e o PL ganharam quase metade das prefeituras dos 100 municípios mais ricos do agronegócio do País. Os partidos venceram em 47 cidades com maior Valor da Produção Agrícola (VBP) nacional. O União venceu em 25, ou um quarto do total, e o PL levou a vitória em 22. Os números reiteram a predominância da centro-direita nos municípios agrícolas e o alinhamento de líderes e entidades do setor produtivo ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Juntos, estes municípios concentram 16% do VBP nacional, somando R$ 130,405 bilhões do total de R$ 814,508 bilhões.

Das 26 capitais em disputa, candidatos apoiados por Bolsonaro foram eleitos ou estão no segundo turno em 17, em contraste com 7 apoiados por Lula.

O Centrão foi o grande vencedor. O PSD superou o MDB em sua estratégia de capilarização municipal e levou 870 prefeituras, seguido pelo próprio MDB (845), o PP (743), o União Brasil (578), o PL (510) e o Republicanos (430) – todos partidos que transitam do centro à direita.

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