Nesta terça-feira, 9, Marta Suplicy entregou ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) sua carta de demissão da gestão municipal. Após encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-prefeita concordou em retornar ao PT para ser a vice na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) à Prefeitura de São Paulo. No documento, Marta cita mudanças na conjuntura política da cidade e diz que seguirá “caminhos coerentes” com sua “trajetória, valores e princípios”.
Procurada, a Prefeitura afirmou que a saída da secretária municipal de Relações Internacionais foi obtida “em comum acordo” entre Marta e Ricardo Nunes. Tanto o retorno ao PT quanto a oficialização do acordo para ser vice de Boulos aguardam anúncio oficial – no entanto, como revelou a Coluna do Estadão na manhã de segunda-feira, 8, um dirigente petista vê 99% de chances de Marta ser a vice de Boulos.
A tendência, quase certa, já mobiliza os demais pré-candidatos e muda o cenário da disputa na capital paulista. Confira, a seguir, quem são os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo e o que muda diante de uma eventual chapa Guilherme Boulos-Marta Suplicy.
Ricardo Nunes (MDB)
Ricardo Nunes, de 56 anos, é o atual prefeito de São Paulo e será candidato à reeleição. Antes de assumir a Prefeitura da capital, Nunes havia sido vereador da cidade por dois mandatos, permanecendo na Câmara Municipal de 2013 a 2020. No período, Ricardo Nunes pleiteou o cargo de deputado federal em duas ocasiões: em 2014, chegou a se registrar como candidato, mas desistiu da disputa. Em 2018, seguiu com a candidatura, mas não foi eleito.
Em 2020, Nunes foi indicado como vice-prefeito na chapa de Bruno Covas, do PSDB. No segundo turno, a chapa venceu Guilherme Boulos por 59,38% dos votos válidos.
Bruno Covas faleceu em 16 de maio de 2021, vítima de um câncer no aparelho digestivo. Com a morte do titular, Ricardo Nunes assumiu a Prefeitura e o cargo de vice-prefeito permaneceu vago desde então. Por conta disso, o vice da chapa de Nunes é objeto de articulações nos bastidores. O prefeito negocia com o Partido Liberal (PL), presidido com Valdemar Costa Neto, um acordo que angarie o apoio da sigla mediante nomeação do candidato a vice-prefeito.
O prefeito afirmou em entrevista à Rádio Eldorado na última quinta-feira, 4, que não ouviu de Jair Bolsonaro (PL) que o apoio viria apenas com a indicação do vice, mas é provável que o nome escolhido seja de agrado do ex-presidente, como forma de sinalização ao eleitorado conservador. Como mostrou o Estadão, a intenção de Bolsonaro é indicar alguém do seu “núcleo duríssimo” para compor a chapa.
Ricardo Nunes não acreditava num acordo de Marta com o PT, e muito menos com Boulos, que desponta como um dos seus principais concorrentes na disputa eleitoral. Nesta quarta-feira, 10, o prefeito disse que não classifica como “traição” a decisão da ex-prefeita da capital de deixar a sua gestão, mas ressaltou que justificativa usada por ela – da busca dele pelo apoio de Bolsonaro – “não cola”.
Guilherme Boulos (PSOL)
Guilherme Boulos (PSOL) tem 41 anos, está em seu primeiro mandato como deputado federal de São Paulo e conta com o apoio do presidente Lula e do PT para a disputa em 2024. Além de professor, ele é coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).
Caso seja confirmado como candidato na convenção partidária, será a terceira vez que Boulos disputará um cargo do Executivo: ele tentou a Presidência em 2018 e, em 2020, se candidatou a prefeito em chapa com Luiza Erundina, também do PSOL, recebendo 40,62% dos votos válidos no segundo turno contra Bruno Covas.
O apoio do PT à candidatura de Guilherme Boulos contraria uma tendência histórica da legenda. Se o cenário for confirmado nas convenções partidárias, será a primeira vez em quatro décadas que o PT não terá uma candidatura ao comando da maior cidade do País. Desde 1985, quando os paulistanos voltaram a votar para prefeito da cidade, sempre houve um petista na disputa.
O acordo vem de 2022, quando Guilherme Boulos se apresentava como pré-candidato ao governo de São Paulo e concordou em retirar a candidatura para apoiar Fernando Haddad (PT) na disputa ao Executivo estadual e concorrer a deputado federal. Com 1.001.472 votos, Boulos foi o candidato mais votado ao cargo no Estado. Haddad, por sua vez, perdeu para Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Compor chapa com Marta Suplicy pode favorecer Boulos na medida em que o candidato ainda é visto como radicalista por parte do eleitorado. Marta é uma opção que apazigua a percepção desses setores e pode tornar a chapa palatável a mais perfis de eleitores.
Tabata Amaral (PSB)
Tabata Amaral, do PSB, tem 30 anos e está em seu segundo mandato como deputada federal. Se confirmada como candidata pelo partido, será a primeira vez que Tabata disputará um cargo no Executivo. Ela já foi filiada ao PDT, sigla da qual foi suspensa por ter votado a favor da Reforma da Previdência de Jair Bolsonaro. Ela migrou para o PSB e conseguiu manter o mandato por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O apresentador José Luiz Datena foi recentemente filiado ao PSB e há dirigentes no partido que desejam que a pré-candidata componha a chapa com ele. Tabata, no entanto, ainda não definiu o vice.
Se a escolha dependesse apenas da pré-candidata, Marta Suplicy seria uma das opções. Em publicação nas redes sociais sobre suas leituras neste início de ano, a deputada acenou para a secretária ao posar ao lado de um livro de Marta e dizer que ela “foi uma das melhores prefeitas que São Paulo já teve”. Para Tabata Amaral, o acerto de Marta com o PT e Boulos enterra de vez a perspectiva de tê-la na chapa.
Kim Kataguiri (União Brasil)
O líder do Movimento Brasil Livre (MBL) Kim Kataguiri, de 27 anos, está em seu segundo mandato como deputado federal e se apresenta como pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo União Brasil. No entanto, segundo interlocutores ouvidos pela Coluna do Estadão em dezembro de 2023, uma ala do partido de Kim deseja manter a posição da sigla nos cargos da Prefeitura e, eventualmente, pleitear a vaga de vice na chapa de Ricardo Nunes. Para isso, o partido estaria, à revelia de Kataguiri, articulando uma aliança com o prefeito.
Um acordo do União Brasil com o atual mandatário inviabilizaria sua candidatura, mas o líder do MBL permanece convicto de que pode vencer a convenção do União. “Apesar do choro e ranger de dentes, irei até o final”, disse Kim à Coluna.
Seria a primeira vez que Kim Kataguiri disputaria um cargo do Executivo. Nas eleições de 2020, o MBL foi representado pelo ex-deputado estadual Arthur do Val, o “Mamãe, Falei”. Pelo Patriota, legenda hoje fundida com o PTB para criar o PRD, Do Val obteve o 5º lugar naquela eleição, com 522.210 votos. Meses depois, ele viria a ter o mandato de deputado estadual cassado em razão do vazamento de áudios sexistas.
Ricardo Salles (PL)
A candidatura de Ricardo Salles (PL), deputado federal de 48 anos, segue num impasse desde que o ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro manifestou interesse em ser prefeito da capital paulista.
Salles se colocou como pré-candidato no início de 2023, mas foi rifado pelo PL, que preferiu articular apoio a Ricardo Nunes. O partido de Jair Bolsonaro, no entanto, passou a rediscutir a aliança em meio a sinais de distanciamento do emedebista e, em outubro do ano passado, o ex-ministro chegou a declarar que estava “de volta ao jogo” da eleição.
Depois de “retornar” à disputa, Ricardo Salles chegou a ser conclamado pelo padrinho político. Em dezembro de 2023, Jair Bolsonaro pediu “Salles prefeito” em conversa com jornalistas na saída de evento do PL em Brasília. Semanas depois, no entanto, a aproximação do ex-presidente com Nunes, mediada por Valdemar Costa Neto, voltou a esquentar e a ameaçar candidatura do ex-ministro, que afirma aguardar um ”Dia D” para ratificar ou não a pré-campanha.
Uma liderança do PRD ouvida pelo Estadão afirmou que estava em tratativas avançadas com Ricardo Salles e que, se o deputado federal não conseguir o apoio de sua sigla, o recém-formado partido poderia abrigar o ex-ministro e sua candidatura.
Marina Helena (Novo)
A economista Marina Helena, de 43 anos, foi anunciada pelo Partido Novo como pré-candidata a prefeita de São Paulo em outubro de 2023. Durante o governo de Jair Bolsonaro, ela foi diretora da Secretaria Especial de Desestatização, órgão do Ministério da Economia, então comandado por Paulo Guedes. Também foi diretora do think tank Instituto Millenium. Em 2022, saiu da gestão do Instituto para ser candidata a deputada federal, mas obteve apenas a suplência.
Nas redes sociais, Marina Helena elogia Javier Milei, atual presidente da Argentina, que, enquanto candidato, adotou para si a bandeira do “libertarianismo”. “Conheça a candidata em SP ‘liberal libertária à la Milei’”, diz o título de uma entrevista com Marina republicada pelo perfil no Instagram da ex-diretora de Paulo Guedes.
Se confirmada pelo partido, seria a primeira vez que Marina disputaria uma eleição para o Executivo, além de configurar a estreia do Novo numa eleição à Prefeitura de São Paulo. Em 2020, Filipe Sabará chegou a iniciar a campanha, mas, no meio do processo, teve a candidatura suspensa.
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