Apesar da pandemia do novo coronavírus, uma aglomeração de pessoas vestidas de verde e amarelo ocupou a esquina da Avenida Paulista com a Rua Pamplona, em São Paulo. A polícia militar não divulgou à reportagem uma estimativa dos presentes. Além da pequena adesão de manifestantes, muitos dos presentes têm ligação política com o bolsonarismo.
O único caminhão de som presente exibia o cartaz do Movimento Direita Conservadora. Os gritos entoados pelos dirigentes do grupo pediam a prisão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
"Quem tem medo do 'comunavírus'?", gritavam os manifestantes. "Cada um aqui vale por dez".
Para alguns dos manifestantes, Doria tentou impedir a realização do ato. "O Carnaval eles não tentaram impedir, a parada gay também não", discursou uma das lideranças do carro de som. O Carnaval e a parada gay ocorreram antes da onda de contágio do coronavírus no Brasil. A maioria dos presentes aplaudia quando a epidemia do coronavírus era chamada de "farsa" e poucos usavam máscara cirúrgica. No Brasil, há 176 casos de coronavírus, segundo boletim divulgado no domingo pelo Ministério da Saúde.
A maioria das lideranças do Movimento Direita Conservadora, que manteve o ato pró-Bolsonaro deste domingo, é filiada ao PRTB, partido do vice-presidente Hamilton Mourão.
Vários deles já frequentavam os protestos políticos do País já anos. "Eu e a minha esposa ficamos por meses em 2016 no acampamento pelo impeachment da Dilma Rousseff, como integrantes do movimento Avança Brasil", afirmou Rodrigo Ikezili, marido de Kliohirano Ikezili, pré-candidata à prefeitura de Tupã (SP) pelo PRTB. Ele se referia ao acampamento permanente em frente à Fiesp.
Há pré-candidatos egressos do PSL que deixaram a sigla junto com Bolsonaro. "Saí e agora estou no PRTB junto com o general Mourão", explicou Giovani Falcone, pré-candidato a vereador de São Caetano do Sul.
De acordo com Gabriel Yacob, um dos coordenadores do Movimento Direita Conservadora, o grupo foi informado que terá que pagar multa por colocar um caminhão de som na Avenida Paulista.
Os líderes do movimento são Wagner Cunha, de Uberlândia, e Sargento Anilo, de São Paulo.
O caminhão de som do Movimento Direita Conservadora anunciou às 16h05 arrecadou R$ 11.800,00 na eventualidade de serem multados por terem colocado o caminhão de som, que estava estacionado na Rua Pamplona durante parte do ato, na Avenida Paulista. Eles alegam que o governador João Doria havia proibido caminhão de som na paulista. A reportagem viu inúmeros simpatizantes do movimento entregando dinheiro na porta lateral do caminhão. A contagem do dinheiro foi transmitida ao vivo pelas redes.
Pouco antes das 16h, houve um tumulto e vários simpatizantes do Movimento Direita Conservadora acusaram uma pessoa que estava em cima do caminhão de sim de tentar empurrar do alto o manifestante Antônio Ribas, 70, que preside um grupo favorável à intervenção civil.
Na sexta, o governo de São Paulo e a Prefeitura da capital cancelaram eventos públicos com mais de 500 pessoas. A Secretaria de Segurança Pública do Estado manteve o policiamento dos atos que já haviam sido comunicado à autoridades.
O ato na Paulista contou com a participação de um clube de motociclistas chamado de MotoClube. Sargento Galesco, policial militar e membro do clube, discursou do carro de som e criticou Doria. "Seu Doria, a Polícia Militar tem 180 anos e não é o senhor que vai acabar com ela não".
Orientado a ficar em isolamento, Bolsonaro encontra apoiadores
Orientado a ficar em isolamento até refazer testes para o coronavírus, o próprio presidente Jair Bolsonaro passou de carro ao lado de manifestantes no ato pró-governo na Esplanada dos Ministérios em Brasília e, na volta, foi ao encontro de apoiadores no Palácio do Planalto.
Primeiro com o punho fechado, Bolsonaro cumprimentou apoiadores. Depois, chegou a usar o telefone celular de algumas pessoas para tirar selfies ao lado delas, além de cumprimentá-las com as mãos abertas. Em alguns momentos, chegou a colar o rosto ao de apoiadores para fazer fotos.
"Desculpa, Jair, mas eu vou"
Em pronunciamento oficial na quinta-feira, 12, em meio às suspeitas de que havia contraído o coronavírus, Bolsonaro sugeriu que as manifestações fossem adiadas. Apesar do pedido, apoiadores do presidente iniciaram nas redes sociais um movimento "Desculpa, Jair, mas eu vou", convocando a população para as manifestações pró-governo em meio ao risco de disseminação do coronavírus entre os participantes.
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