A TV Globo promoveu nesta terça-feira, 27, o último debate entre candidatos ao governo de São Paulo antes do primeiro turno das eleições. Cientistas políticos ouvidos pelo Estadão apontam que o evento é importante para os postulantes ao Palácio dos Bandeirantes por ocorrer tão próximo ao pleito, momento decisivo para a definição do voto dos eleitores indecisos. Segundo os especialistas, porém, não se espera que haja impacto expressivo no quadro eleitoral, dado que não houve surpresas no desempenho dos candidatos.
O cientista político Bruno Speck, da Universidade de São Paulo (USP), avalia que a estratégia de Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi nacionalizar o debate. Ambos tentam reproduzir em São Paulo a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
“Haddad tentou identificar o candidato Tarcísio com as políticas autoritárias de Bolsonaro. Tarcísio, por sua vez, mobilizou o sentimento antipetista contra seu adversário”, afirma. Segundo ele, o governador Rodrigo Garcia (PSDB) seguiu a linha da regionalização, sugerindo o afastamento da polarização política. Em determinado momento, o tucano visou desqualificar Tarcísio como forasteiro que não conhece os problemas do Estado. O candidato do Republicanos nasceu no Rio de Janeiro.
Eleições no Estadão
“Em geral, o debate ocorreu sem deslizes ou conflitos que saíssem da linha da civilidade. Não creio que os resultados influenciarão fortemente o rumo das três campanhas. A única incerteza parece ser a segunda posição (entre Tarcísio e Garcia) num provável segundo turno, para o qual Haddad parece confirmado”, avalia Speck. Segundo ele, os candidatos Vinicius Poit (Novo) e Elvis Cesar (PDT) tiveram um “papel residual”.
Hilton Cesário Fernandes, cientista político e professor convidado da FESPSP, também identificou a estratégia de Haddad e Tarcísio de promoverem um embate direto, deixando os outros candidatos à margem. “Essa estratégia é interessante para Haddad, que prefere Tarcísio como adversário no segundo turno e provavelmente está guardando sua munição para esse enfrentamento. Ao mesmo tempo, Tarcísio é beneficiado ao deixar de lado Rodrigo Garcia, que busca evitar o reflexo da polarização nacional em São Paulo e desenvolveu bem suas marcas de governo. Elvis Cesar e Vinícius Poit conseguiram ganhar visibilidade, mas ficou evidente que a disputa está concentrada nos três outros candidatos”, afirma.
Fernandes concorda que o evento não deve mudar a configuração da disputa pelo governo. “O debate em São Paulo mostrou candidatos a governador bem preparados, com discursos elaborados antecipadamente e sem grandes falhas nas respostas”, afirma. “Com um debate bem controlado e sem prejuízos aos candidatos, é difícil que ocorram grandes mudanças nas intenções de voto”.
O cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), classificou o debate como “morno”. Segundo sua avaliação, Tarcísio mostrou-se bem articulado, mas pode ter parecido arrogante quando se referiu a Elvis César como um “aluno que não aprende”, se colocando como superior. “Isso pega mal. Porém, não creio que seja decisivo”, diz.
Couto não vê perdas nem ganhos por parte dos outros candidatos. “Rodrigo Garcia é um tanto monótono. Mistura a defesa de seu governo a um certo ufanismo paulista que não acredito que gere muitos votos. Haddad mostra conteúdo e se articula bem, embora sem muito carisma. Elvis César se comunica bem, mas parte de um patamar tão baixo de intenções de voto que dificilmente será capaz de atrair votos que já estão nós três principais candidatos. Poit nem conta”, avalia.
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