Atualizada às 13h56
Uma obra para a ampliação do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na região da avenida Paulista, em São Paulo, teve trabalhadores encontrados em situação análoga à escravidão pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A denúncia foi feita por um dos trabalhadores que teve seu salário retido por 2 meses. A obra é tocada pela empresa Racional Engenharia que, segundo matéria da agência de notícias Repórter Brasil, afirmou não saber das irregularidades. A empresa alegou que os trabalhadores respondiam a uma empresa terceirzada, a Genecy, criada por um ex-funcionário da construtura.
Segundo o coordenador do Grupo de Combate ao Trabalho Escravo Urbano da Superintendência do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP), os operários tinham a liberdade restringida e chegavam em São Paulo com dívidas contraídas pela passagem comprada pelo empreiteiro Clemilton Oliveira. As pessoas foram aliciadas no Maranhão, em novembro, e vieram a São Paulo em ônibus clandestinos.
A empresa Racional alega que o empreiteiro era o culpado pelas condições em que os trabalhadores foram encontrados. Oliveira foi funcionário da construtora por 32 dias e abriu uma empresa para a prestação de serviços. O relatório apresentado pelo MTE responsabiliza a empresa, já que "os trabalhadores e o encarregado e pseudo-empresário Clemilton são completamente dependentes economicamente de seu contratante único e exclusivo: a Racional".
A operação foi finalizada em 10 de fevereiro, quando a Racional recebeu os 28 autos de infração pelas irregularidades encontradas. Os trabalhadores retornaram ao Maranhão em 23 de janeiro, após receberem as verbas rescisórias e guias para sacar o Seguro Desemprego do Trabalhador Resgatado.
A obra de ampliação do Hospital Oswaldo Cruz conta com cerca de 280 trabalhadores. No local, ocorreu um acidente fatal em novembro de 2011: um operário morreu ao cair de um andaime da altura de oito andares. A Racional é uma das maiores empresas do ramo no Brasil e, em São Paulo (SP), foi responsável pela construção de shoppings como o Morumbi e o Pátio Higienópolis, de fábricas, hotéis, empresas e obras viárias, entre outras edificações de grande porte.
Em agosto de 2011, a rede varejista espanhola Zara teve trabalhadores da cadeia de fornecedores da empresa encontrados em situações análogas à escravidão. Depois de propor um acordo em novembro, em dezembro do mesmo ano, a empresa assinou um acordo com o Ministério Público do Trabalho para o pagamento de multa, no valor de R$ 3,4 milhões, que serão revertidos em investimentos sociais.
Em nota, a Racional Engenharia afirmou que a realização de uma obra conta com a participação de diversos fornecedores conforme a sua fase de execução e que desconhecia a situação em que os trabalhadores eram mantidos. Segundo a empresa, a Genecy "omitiu que mantinha alojamento" e tão logo soube providenciou "para que fossem pagas todas as verbas trabalhistas, garantido o bem estar dos trabalhadores e o retorno dos mesmos às suas cidades de origem".
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