A alternativa que o presidente da República, Jair Bolsonaro, cogita para superar a crise com o PSL de Luciano Bivar – a fundação de uma legenda própria, o Partido da Defesa Nacional – é uma hipótese que passou a ser ventilada depois que seus aliados encontraram obstáculos ao tentar duas outras opções: a migração para uma legenda em fase final de criação e as negociações com siglas já constituídas.
Em busca de siglas já existentes, Bolsonaro chegou a avançar nas conversas com a presidente do Partido da Mulher Brasileira (PMB), Suêd Haidar, segudo apurou o Estado com aliados do presidente. A negociação não foi consolidada.
Aliados de Bolsonaro, porém, avaliam que o presidente se antecipou ao falar, anteontem, na criação do novo partido. A precipitação do presidente levou sua equipe a correr para registrar o domínio da sigla na internet.
Nesta terça-feira, 29, em Riad, Arábia Saudita, o presidente reiterou ao Estado que está em busca de uma nova legenda.
“Sou paraquedista e quando (a gente) sai do avião tem de ter um paraquedas reserva se algo der errado. Quero ter um partido onde eu tenha as ações, não é para mexer com Fundo Partidário”, disse o presidente. “Eu tenho a (caneta) Bic que tem um poder enorme. Temos ministérios, estatais, diretorias de banco. Se eu quisesse, poderia usar isso aí para comprar alguns apoios. Mas não pretendemos fazer isso. Não estamos fazendo. A briga (com o PSL), da minha parte, não é por dinheiro do fundo, minha caneta é poderosíssima. Eu quero é transparência.”
A estratégia depende, segundo apurou o Estado, do avanço que o Tribunal Superior Eleitoral vem fazendo na digitalização do processo de coleta de assinaturas necessárias.
Assinaturas
Para criar uma sigla, é preciso ter ao menos 491,9 mil assinaturas em no mínimo nove Estados – apoios que devem ser autenticados pela Justiça Eleitoral. Até recentemente, o tempo necessário para atingir essa meta inviabilizaria a empreitada a tempo das eleições de 2020. As cinco legendas com os registros mais recentes no País levaram, em média, mais de três anos para conseguirem seu registro.
No entanto, uma resolução do TSE de maio do ano passado garante a partidos em fase de criação o uso de um sistema desenvolvido pela Justiça Eleitoral para colher as assinaturas mo de eleitores e submetê-lo para validação nos cartórios eleitorais. Uma vez coletadas no sistema, as assinaturas são encaminhadas aos cartórios eleitorais para conferência das informações cadastrais do eleitor e checagem – processo que agilizou a homologação dos apoios.
Aliados e equipe de Bolsonaro também apostam que os esforços da Justiça Eleitoral para implementar a biometria surtam também o efeito de acelerar o processo, já que atualizou as assinaturas dos eleitores, reduzindo o risco de que uma parcela grande de assinaturas não seja reconhecida.
O presidente, porém, declarou sua intenção antes que seus aliados saibam ao certo se os avanços técnicos do TSE terão um impacto decisivo e se outras inovações serão adotadas pelo tribunal a tempo.
A precipitação do presidente fez com que sua equipe tivesse que correr para registrar o domínio da sigla na internet. Ontem o publicitário Luiz Felipe Torres de Freitas, dono de uma agência em Nova Friburgo (RJ) que prestou serviços para o deputado Luiz Lima (PSL-RJ), tentou registrar em seu nome o domínio “pdn.org.br” mas, segundo ele, não conseguiu.
Tentativas. Antes de cogitar a criação de sua própria sigla, o presidente seguia empenhado – desde antes da crise com Bivar atingir o seu auge – nas tentativas de se associar a outras legendas, seja uma já existente ou uma em fase final de criação.
Segundo apurou o Estado, a equipe do mandatário constatou que o único partido em fase de criação que irá cumprir o cronograma a tempo das eleições de 2020 é de um grupo de extrema esquerda.
Procurada pelo Estado, Suêd Haidar negou qualquer tentativa envolvendo a migração de Bolsonaro ao PMB. Luciano Bivar não respondeu aos pedidos de entrevista. O Estado também não conseguiu contato com o PRP. / COLABORARAM JULIA LINDNER, TULIO KRUSE e PAULO BERALDO
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