A rejeição à indicação do embaixador Fabio Mendes Marzano para ocupar a posição de delegado permanente do Brasil nas Nações Unidas, em Genebra, é um claro “recado político” do Senado à diretriz externa do governo de Jair Bolsonaro, segundo ex-chanceleres do País.
“É uma derrota muito expressiva, um sinal político inequívoco”, disse Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores nos governos Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. A declaração foi dada em debate ao vivo promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais nesta quarta-feira, 16, e mediado pela colunista do Estadão Eliane Cantanhêde.
Ex-ministro das Relações Exteriores de Michel Temer, Aloysio Nunes afirmou que o “silêncio absoluto” de parlamentares governistas no plenário do Senado reflete o “desprestígio” do Itamaraty. “Ninguém levantou a voz para defender (o embaixador). Silêncio absoluto. Eu acho que isso indica um recado político. É uma indicação do humor político do Senado em relação à política externa brasileira.”
Estado Unidos
Para os ex-representantes das Relações Exteriores, a vitória de Joe Biden, nos Estados Unidos, deixa o Brasil ainda mais isolado no cenário internacional. Mas o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2022, pode mudar esse cenário. “Falou-se da ideia de convidar o Michel Temer para ministro (das relações exteriores)”, lembrou o embaixador Rubens Ricupero. “Talvez isso indique que o presidente estaria, pelo menos em princípio, disposto a usar o Itamaraty como uma moeda a mais no cálculo da sucessão.”
O ex-chanceler Celso Amorim disse que Bolsonaro estará dividido entre buscar uma acomodação com o novo governo norte-americano ou se manter fiel ao apoio da extrema direita. Se escolher a segunda opção, diz ele, terá atritos com os EUA. “E isso terá reflexo na elite econômica brasileira e, portanto, impacto também na reeleição.”
Meio ambiente
A política de meio ambiente brasileira também foi citada pelos ex-chanceleres como uma preocupação. Para o cientista político e pesquisador de Harvard Hussein Kalout, com a eleição de Biden, todos os grandes arranjos comerciais vão obedecer a uma nova doutrina internacional sobre bioeconomia, desenvolvimento sustentável e proteção da biodiversidade. “É impossível o Brasil avançar as suas peças nas relações internacionais mantendo a atual política ambiental.”
Aloysio Nunes disse que é preciso haver uma “correção de rumo” importante na área. O tema do meio ambiente, segundo ele, é “caro” ao Partido Democrata e será um tema delicado entre as duas nações.
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