BRASÍLIA - O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Golpista de 8 de janeiro, deputado Hermeto Neto (MDB), usou a tribuna da Câmara Legislativa do Distrito Federal durante o depoimento de um dos investigados para mentir sobre uma foto feita pelo Estadão que flagrou policiais militares do DF bebendo água de coco enquanto os prédios dos Três Poderes eram invadidos. A imagem teve forte repercussão e foi mencionada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como uma prova de que os policiais não atuaram para evitar a invasão.
O parlamentar acusou a reportagem de tirar a foto de contexto. Na sua versão, a fotografia teria sido tirada às 11h da manhã, quando não havia manifestantes na Esplanada. O deputado mentiu no plenário. Os metadados do dispositivo usado para fazer o registro pela reportagem do Estadão comprovam que ele foi realizado às 15h50 do dia da invasão. Os veículos de imprensa passaram a noticiar a invasão do Congresso - primeiro prédio a ser tomado pelos golpistas - a partir das 15 horas.
A foto dos policiais foi incluída pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no inquérito que investiga a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro. O ministro também mencionou a fotografia ao embasar a decisão de afastamento do governo do DF, Ibaneis Rocha.
Na versão do deputado Hermeto, não havia “um manifestante na Esplanada dos Ministérios” no momento em que a foto foi feita. A acusação ocorreu após o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), afirmar que os policiais bebiam água de coco enquanto os prédios do Executivo, Judiciário e Legislativo eram depredados. Ao contrário do que afirmou o deputado, no momento em que os policiais tomavam água de coco, o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto estavam sendo depredados pelos golpistas.
“Vossa Excelência disse que tinham policiais tomando água de coco. Tem que esclarecer que os policiais tomaram águam de coco eram praticamente acho que eram 11h ou 10h da manhã. Não tinha um manifestante na Esplanada dos Ministérios e a grande mídia fazia ligação que nesse exato momento que estava sedo invadido os policiais estavam tomando água de coco, e não é verdade. Não tinha um manifestante ainda”, afirmou.
Esta foi a segunda vez que mentiras sobre o registro da água de coco foram contada na CPI dos Atos Golpistas. No último dia 28 de abril, a coronel Cíntia Queiroz, que também atua como subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública do DF, alegou que a foto foi tirada de contexto e que teria sido feita de manhã, antes da invasão.
“A gente tem que tomar muito cuidado. Por exemplo, a imprensa muitas vezes divulga uma imagem fora de contexto. Por exemplo a Polícia Militar, foi divulgada uma imagem de três policiais no dia 8 de dezembro (sic) tomando água de coco, como se aquilo tivesse acontecido às 15 horas da tarde, no horário da invasão, mas isso aconteceu às 8 horas da manhã”, disse Cíntia, também reproduzindo uma mentira.
A coronel foi alvo de uma proposta de indiciamento por prevaricação no dia 8 de janeiro feita pela Corregedoria da Polícia Militar do DF. Ela foi responsável por um dos planos de contenção e controle de multidões elaborado pela Secretaria de Segurança Pública da capital para lidar com as manifestações convocada para aquele dia. Como mostraram as imagens, os manifestantes atuaram livremente na depredação dos prédios dos Três Poderes.
Procurado pela reportagem, o deputado Hermeto não se manifestou até a publicação deste texto. Sua assessoria afirmou que retornará com as informações ao término da sessão na Câmara Legislativa.
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