Coaf aponta movimentação suspeita de caixeiro viajante, ourives e tio da mulher de Mauro Cid

Órgão cita ainda transações entre Mauro Cid e outro militar do Exército preso em operação da Polícia Federal que apura fraudes em cartões de vacina de Covid-19

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Foto do author Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – Preso e investigado por suposto envolvimento na falsificação de cartões de vacina de Covid-19, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel do Exército Mauro Cid, fez uma série de movimentações bancárias, entre depósitos e recebimento de valores, considerados atípicos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O órgão administrativo destrinchou a vida financeira de Cid nos últimos dez meses e apontou quatro nomes que chamaram a atenção dos servidores – um militar preso pela Polícia Federal; um “caixeiro viajante”, comerciante que faz negócios fora da cidade ou região em que mora; um ourives, que produz ou vende metais preciosos; e um empresário, tio da esposa de Cid.

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As informações sobre as “movimentações atípicas” de Mauro Cid foram enviadas pelo Coaf para a CPMI do 8 de Janeiro, que apura os atos antidemocráticos na capital federal. De acordo com o documento, Cid recebeu, entre julho de 2022 e maio deste ano, três lançamentos financeiros no valor de R$ 82.150,00, do sargento Luis Marcos dos Reis. O militar também integrava a equipe de ajudantes de Bolsonaro e foi preso, em maio, acusado de atuar junto à Cid na falsificação dos cartões de vacina.

Segundo o Coaf, as transações entre Mauro Cid e Luis Marcos podem ser “indícios do crime de lavagem de dinheiro”. O salário mensal de Reis, segundo o órgão, é de R$ 13.346,79, o que indicaria uma inconsistência entre a renda e os depósitos realizados.

“Considerando a movimentação atípica, sem clara justificativa e as citações desabonadoras em mídia, tanto do analisado quanto do principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir-se em indícios do crime de lavagem de dinheiro”, diz o relatório do Coaf.

Reis é um dos investigados pela PF no âmbito da Operação Venire, da Polícia Federal, que investiga as supostas fraudes em carteiras de vacina. O sargento teria mobilizado o próprio sobrinho, o médico Farley Vinicius Alcântara, para preencher e carimbar um dos cartões falsos emitidos em nome da mulher de Cid.

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Operação Venire: foram presos pela PF o ​tenente-​coronel Mauro Cid, o major d​a reserva​ Ailton Gonçalves Moraes Barros​, ​o secretário municipal de Governo de Duque de Caxias João Carlos de Sousa Brecha​, ​o policial militar Max Guilherme, o sargento Luis Marcos dos Reis​ ​e o assessor ​​Sérgio Cordeiro Foto: Dida Sampaio/Estadão e Reprodução/Justiça Eleitoral e Redes sociais

‘Caixeiro viajante’ e ourives

O levantamento produzido pelo Coaf a partir da análise da movimentação bancária de Mauro Cid aponta que o militar recebeu R$ 1,6 milhão no período e teria movimentado R$ 2 milhões em débitos. Militar da ativa, o tenente-coronel recebe mensalmente uma remuneração de R$ 26.239.

Além do colega de farda de Cid, o Coaf cita outros três nomes que fizeram movimentações financeiras consideradas suspeitas pela órgão: o empresário João Norberto Ribeiro, tio da mulher dele, Gabriela Cid; um caixeiro viajante e um ourives. Eles não são apontados como investigados pela Polícia Federal.

No período de 27 de julho de 2022 e 25 de janeiro de 2023, o tenente-coronel recebeu R$ 1,4 milhão nas contas analisadas. O oficial do Exército recebe R$ 26.239,50 brutos. Nesse período, Mauro Cid teria feito um resgate de aplicação no valor de R$ 946 mil, recebido R$ 99 mil por meio de Pix e outros R$ 45 mil por outras modalidades de transferência bancária.

Já nos primeiros cinco meses deste ano, comunicado do Coaf registra que as contas de Mauro Cid receberam R$ 225,8 mil, sendo que R$ 38,4 mil foram recebidos pelo militar por meio de Pix e outros R$ 32,4 mil por transferência bancária via TED/DOC.