A pedido do ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, a Polícia Federal realizou na manhã desta quinta-feira, 15, uma operação com mais de 100 mandados de busca e apreensão contra envolvidos em manifestações antidemocráticas que se iniciaram após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições, em 30 de outubro. As operações incluem apoiadores do presidente Jair Bolsonaro presentes tanto nos bloqueios das rodovias quanto nas vigílias em frente aos quartéis.
As diligências são realizadas em sete Estados - Acre, Amazonas, Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina -, além do Distrito Federal. O Estadão apurou que o ministro também determinou a quebra de sigilo bancário de investigados e o bloqueio de contas de dezenas de empresários.
Confira a cronologia da crise:
30 de outubro: Início dos bloqueios
Os atos nas rodovias se iniciaram logo na noite do segundo turno. No Mato Grosso, manifestantes pró-Bolsonaro fecham rodovia BR-163. No dia seguinte, os bloqueios se expandiram pra mais de 20 Estados. Em alguns cenários, os apoiadores do presidente fizeram barricadas com pneus e atearam fogo em entulhos.
1ª de novembro: Ordem judicial do STF
Em despacho, o ministro Alexandre de Moraes reforçou autorização do uso de tropas da Polícia Militar pelos governadores de Estados para a “imediata desobstrução de todas as vias públicas que ilicitamente estejam com seu trânsito interrompido”. A medida foi usada por alguns chefes do Executivo estaduais, inclusive pelo governador paulista Rodrigo Garcia, que enviou A Tropa de Choque da PM para desobstruir rodovias em SP.
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2 de novembro: Bolsonaro divulga vídeo sobre bloqueios
Nas redes sociais, o presidente publicou vídeo pedindo aos apoiadores que desbloqueiem as rodovias do País. Na gravação, Bolsonaro afirmou entender que os militantes estejam “chateados”, mas disse que é preciso “ter a cabeça no lugar”.
“Quero fazer um apelo. Desobstrua as rodovias. Isso aí não faz parte, no meu entender, dessas manifestações legítimas. Não vamos perder essa nossa legitimidade”, disse no vídeo que foi divulgado quase 72 horas depois do resultado das eleições.
3 de novembro: Moraes manda PF compartilhar informações sobre líderes de bloqueios
Moraes determinou que a Polícia Federal (PF) apresentasse com urgência todos as informações reunidas até o momento sobre os líderes dos bloqueios nas estradas após a derrota do presidente Bolsonaro. A decisão cobrava em especial a identificação dos donos dos carros e caminhões usados para interditar as rodovias.
9 de novembro: Todas rodovias federais desbloqueadas
Após nove dias do início das manifestações, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que todas as rodovias federais estavam desbloqueadas. Segundo o próprio órgão, mais de 1080 interdições e bloqueios foram desfeitos.
16 de novembro: Financiadores dos atos são identificados
Relatórios enviados pelas polícias Militar, Civil e Federal e pelo Ministério Público nos Estados ao Supremo Tribunal Federal (STF) indicam o perfil dos líderes e financiadores dos protestos com mensagens antidemocráticas que resultaram em bloqueios de estradas após as eleições e concentrações próximas a instalações das Forças Armadas pelo País.
Os relatórios citam políticos, policiais e ex-policiais, servidores públicos, sindicalistas, fazendeiros, empresários do agronegócio e donos de estandes de tiro. Os documentos foram produzidos por ordem do ministro Alexandre de Moraes e reúnem fotos, levantamentos sobre os alvos e detalhes a respeito do trabalho em curso para desmobilizar as manifestações.
17 de novembro: Bloqueio das contas dos suspeitos
Moraes determinou ao Banco Central que bloqueasse contas de dez pessoas e 33 empresas diante da possibilidade de financiamento dos “atos ilícitos e antidemocráticos” que bloquearam rodovias em todo o País. Segundo o magistrado, a medida era ‘adequada e urgente’ e tinha o objetivo de ‘interromper a lesão ou ameaça a direito’.
17 de novembro: Retorno dos bloqueios
Os atos foram retomados por apoiadores de Bolsonaro após a decisão de Moraes.
22 de novembro: Bloqueios federais são contidos
Polícia Rodoviária Federal (PRF) informava que não havia mais bloqueios e interdições nas rodovias federais.
9 de dezembro: Bolsonaro volta a se pronunciar
Na primeira fala a apoiadores em muitos dias, Bolsonaro afirmou que “nada está perdido” e que seus simpatizantes são responsáveis por decidir o futuro do País e “para onde vão as Forças Armadas”. O discurso do chefe do Executivo foi ambíguo: ao mesmo tempo em que disse “respeitar as quatro linhas da Constituição”, sinalizou para o questionamento do resultado das eleições.
“Nada está perdido. O final, somente com a morte. Quem decide meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês”, afirmou em frente ao Palácio do Alvorada, enquanto apoiadores pregavam uma ação de militares para evitar a posse de Lula.
12 de dezembro: Atos antidemocráticos em Brasília e prisão de Serene
A capital federal é cenário de atos de vandalismo com incêndio de ônibus e carros, conflito entre policiais e manifestantes e tentativas de invasão da sede da Polícia Federal. O estopim para as movimentações foi a prisão temporária, por dez dias, do líder indígena José Acácio Serere Xavante, apoiador de Bolsonaro. A ordem foi decretada por Moraes a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) por indícios de crimes e manifestações antidemocráticas em vários pontos de Brasília, insuflados por Serere Xavante.
14 de dezembro: Moraes afirma que “ainda tem muita gente para prender e multa para aplicar”
Dois dias depois das cenas de vandalismo em Brasília, Moraes afirma que “ainda tem muita gente para prender e muita multa para aplicar”. A declaração foi feita durante uma palestra nesta quarta-feira, 14, após o também ministro Dias Toffli citar o caso da invasão ao Capitólio no Estados Unidos.
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