Relembre a atuação de Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF, no dia das eleições de 2022

Suposta interferência do ex-diretor ao bloquear estradas motivou ordem de prisão assinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes

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Foto do author Isabella Alonso Panho

O ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques foi preso na manhã desta quarta-feira, 9, sob a acusação de ter interferido no segundo turno das eleições de 2022. No final de semana da votação, a corporação chefiada por ele realizou blitzes em diversas rodovias do País, com foco no Nordeste, região em que o PT concentra mais votos.

Um relatório da PRF divulgado em abril deste ano mostrou que, entre os dias 28 e 30 de outubro de 2022, quase metade dos ônibus (47%) abordados pela PRF trafegavam pelos Estados do Nordeste. Em números absolutos, isso corresponde a 2.185 dos 4.591 ônibus abordados pela corporação no período.

O ex-diretor-geral da PRF foi preso nesta quarta-feira, 9 Foto: WILTON JUNIOR

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A medida foi uma estratégia da campanha de Jair Bolsonaro (PL), selada em reunião no Palácio do Alvorada em 19 de outubro, 11 dias antes da votação, como mostrou o Estadão. Na véspera dessa data, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso havia permitido que prefeituras e concessionárias ofertassem transporte público de forma gratuita no dia da eleição.

Diante desse cenário, o argumento apresentado pela PRF foi de que seria necessário fiscalizar o transporte irregular de eleitores. Jair Bolsonaro (PL) foi contra a gratuidade do transporte no dia das eleições e chegou a recorrer à Justiça contra a determinação de Barroso. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato adversário na época, tinha a preferência do eleitorado mais pobre – por isso, a avaliação da campanha de Bolsonaro era de que o petista seria beneficiado com a oferta de transporte sem tarifa.

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A reunião no Alvorada que desenhou a estratégia da PRF no dia das eleições contou com a participação de Bolsonaro e da equipe de coordenação de campanha. Na semana seguinte, no dia 28 de outubro, Silvinei Vasques participou de uma coletiva de imprensa ao lado de Anderson Torres, então ministro da Justiça, e Márcio Nunes, ex-diretor-geral da Polícia Federal (PF), sobre o esquema de segurança no segundo turno do pleito.

Dois dias antes do segundo turno das eleições, em 28 de outubro, Silvinei Vasques (esq.) participou de uma coletiva de imprensa ao lado de Anderson Torres (centro) e Márcio Nunes (dir.), da PF, para anunciar medidas do governo para fiscalizar o transporte irregular de eleitores  Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Ex-diretor da PF pediu votos para Bolsonaro

Silvinei Vasques apoiou abertamente a reeleição de Bolsonaro nas eleições de 2022. Um dos episódios mais evidentes da preferência política dele foi uma publicação nas redes sociais em que pediu votos ao ex-presidente.

“Vote 22, Bolsonaro presidente”, publicou o ex-diretor na conta do Instagram no dia da votação do segundo turno. Ele apagou a postagem horas depois.

Silvinei Vasques pediu voto para Jair Bolsonaro nas redes sociais  Foto: Reprodução/Instagram

Dezenove dias antes das eleições, Vasques discursou na abertura do II Curso de Cinotecnia Policial criticando “autoridades que defendem a liberação das drogas”, fazendo uma referência ao adversário do ex-presidente. “Eu fico até assustado quando vejo eventuais autoridades, que poderão ser (eleitas), a depender da escolha, defenderem a liberação das drogas. Eu acho que nunca devem ter ido em uma cracolândia ou conhecido a mãe de um jovem desse que está na droga”, disse o ex-diretor no evento.

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Ações de Silvinei Vasques entraram na mira de Moraes

A conduta de Silvinei Vasques foi parar na mira do ministro do Supremo Alexandre de Moraes – que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No dia do segundo turno das eleições, 30 de outubro, o ex-diretor foi intimado pelo magistrado a prestar esclarecimentos sobre as blitzes feitas pela PRF.

Operação da PRF na Bahia no dia do segundo turno das eleições de 2022 Foto: Reprodução

Vasques foi preso no âmbito da Operação Constituição Cidadã, que também realizou buscas e apreensões em dez endereços em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Distrito Federal e no Rio Grande do Norte. As diligências foram autorizadas por Moraes. A investigação da Polícia Federal que mira o ex-diretor investiga o uso de estruturas públicas para interferir no segundo turno das eleições.

CPMI do 8 de Janeiro

No dia 23 de junho, Silvinei Vasques foi ouvido na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. A relatora do colegiado, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), entendeu que ele apresentou dados falsos sobre a operação que a PRF fez na votação do segundo turno das eleições. Nesta quarta, a parlamentar lamentou que o ex-diretor não tivesse sido preso no dia em que prestou depoimento.

“Lamentamos que essa prisão não tenha sido feita lá na CPMI, quando da oitiva dele. Silvinei, na época, mentiu descaradamente diante do volume de informações que tínhamos oficialmente”, afirmou a senadora à Coluna do Estadão. Ela defende que ele seja convocado novamente pelo colegiado.

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Silvinei Vasques: aposentadoria após ser exonerado da PRF

O apoio a Bolsonaro e a ação da PRF no dia do segundo turno das eleições colocaram Silvinei Vasques no banco dos réus da Justiça Federal carioca. Ele responde a uma ação de improbidade administrativa na qual é acusado de usar indevidamente o cargo de diretor da corporação para beneficiar o ex-presidente.

O Ministério Público Federal (MPF) chegou a pedir o afastamento do cargo, porém, antes de o Judiciário decidir sobre a questão, Vasques foi exonerado. No começo de dezembro, ele se aposentou da PRF, aos 47 anos, recebendo seus proventos integrais.

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