BRASÍLIA - A troca de gentilezas e afagos vista na cerimônia de posse do novo ministro dos Transportes, Renan Filho, testou limites nesta terça-feira, 3, e chegou a incluir até mesmo a possibilidade de o ex-ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro, Marcelo Sampaio, vir a fazer parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Durante seu discurso de posse, Renan Filho lembrou que Marcelo Sampaio, que ocupou a vaga deixa pelo então ministro Tarcísio de Freitas, é um servidor de carreira do ministério. “Você, Marcelo, é a representação do bom servidor”, disse Renan Filho, para emendar uma crítica direta ao ex-presidente Bolsonaro, que deixou o Brasil sem participar da cerimônia de posse de Lula e sem passar a faixa presidencial.
“Você é um grande servidor de carreira, que passou no concurso público 15 anos atrás e chegou ao ápice da carreira como ministro da Infraestrutura do País, e deixa o cargo de maneira digna, enquanto outros saíram do País para não passar o cargo de presidente. O ministro Marcelo aqui está para cumprir com o seu dever”, disse Renan Filho.
Marcelo Sampaio, genro do general Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência do governo Bolsonaro, não deixou por menos e, no palco da cerimônia, aplaudiu Renan Filho pelas palavras, acompanhando a plateia que acompanhou a cerimônia. Ato contínuo, Renan Filho convidou Sampaio, publicamente, para vir a integrar seu governo.
“Tenha certeza, Marcelo, que eu tocarei a agenda do ministério com lealdade integral ao seu trabalho e, quando qualquer linha for cruzada, pode me acionar, tá certo? E depois que você se cansar da iniciativa privada, e eu sei que será logo, porque o serviço público é apaixonante, esse ministério estará de portas abertas para a sua volta. Então, obrigado”, disse Renan Filho.
A cerimônia foi acompanhada por pessoas como ex-presidente José Sarney, o senador Jaques Wagner (PT-BA), o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a ministra do Planejamento, Simone Tebet, e o presidente do Tribunal de Contas da União, ministro Bruno Dantas. O pai do ministro, senador Renan Calheiros (MDB-AL), também estava entre os presentes.
A pasta dos Transportes concentra, historicamente, um dos maiores orçamentos federais, por envolver investimentos pesados em manutenção e expansão de estradas e ferrovias. Tarcísio de Freitas, que foi eleito governador de São Paulo e nomeou Marcelo Sampaio para assumir o ministério quando se tornou candidato, usou como principal bandeira de campanha o papel de executor de obras, de pessoa de perfil técnico. Foi, paralelamente, um dos maiores apoiadores à reeleição de Bolsonaro.
Agora, sob a gestão Lula, a pasta da Infraestrutura foi dividida. Renan Filho cuidará do Ministério dos Transportes, respondendo por rodovias e ferrovias. A segunda pasta será o Ministério de Portos e Aeroportos e ficará sob o comando de Márcio França.
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