BRASÍLIA – Ao ter seu nome lançado pelo Republicanos nesta terça-feira, 29, como candidato à presidência da Câmara, o deputado Hugo Motta (PB) defendeu que o projeto de anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro não pode contaminar as negociações sobre a disputa para a direção da Casa Legislativa. Motta afirmou, no entanto, que há casos de pessoas que têm recebido penas acima do esperado.
Para tentar afastar o tema das articulações da sucessão, o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criou uma comissão especial para discutir o projeto apoiado por bolsonaristas. “Nós tivemos um episódio triste, que foi o 8 de Janeiro, mas também não podemos permitir que injustiças sejam cometidas, como pessoas que têm levado condenações acima daquilo que seria o justo para com a participação ou não dessas pessoas em um ato que aconteceu, e que o Brasil precisa, de uma vez por todas, passar esse assunto a limpo e não permitirmos que isso aconteça novamente, já que foi, digamos, um triste episódio de agressão às instituições democráticas do País”, declarou Motta, ao fazer uma fala com acenos tanto ao PT, que refuta a anistia, quanto ao PL, que a defende.
A cerimônia, na sede do partido em Brasília, ocorreu após Lira anunciar oficialmente o apoio ao paraibano para sua sucessão. O pleito ocorrerá em fevereiro, e o parlamentar tem como adversários os deputados Elmar Nascimento (União-BA) e Antonio Brito (PSD-BA).
Apoio do PT e do PL
Hugo Motta afirmou que acredita no apoio do PT à sua campanha, mas que respeita a “dinâmica” da legenda em não ter se posicionado ainda sobre a eleição. “Preciso, antes de qualquer projeção de apoio deste ou daquele partido, dizer que nós respeitamos a dinâmica interna de cada legenda. Cada partido tem a sua maneira de se reunir. Para vocês terem uma ideia, só hoje nós reunimos o nosso partido”, disse.
Motta continuou: “Às vezes, a ansiedade e a precipitação, ao invés de ajudar, pode acabar atrapalhando. Então, o PT está discutindo internamente. Nós respeitamos o tempo do Partido dos Trabalhadores, que tem a sua dinâmica e deve se reunir nesta semana”. O líder do Republicanos também disse estar ciente de que o PT ouvirá seus adversários na disputa.
O deputado acredita que também terá o apoio do PL. “Vejo o PL como um partido que estará ao nosso lado. Nós temos conversado com o líder Altineu, com o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, com o ex-presidente Bolsonaro, reafirmando o compromisso com a importância que o PL hoje tem na Casa. É o maior partido da Casa”, afirmou.
Motta se tornou o candidato de Lira após uma reviravolta em setembro. O candidato do Republicanos era o próprio Pereira, que abriu mão da candidatura em favor de Motta. O presidente da Câmara, até então, sinalizava que indicaria Elmar para o cargo. A mudança de planos gerou um rompimento entre Lira e o líder do União Brasil, que se aliou a Brito.
“Respeitamos os demais postulantes ao cargo. Temos reforçado sempre a nossa disposição de construir a convergência porque acreditamos que é isso o que vai acontecer até o final deste processo”, afirmou Motta, ao ser questionado hoje sobre a disputa com Elmar e Brito.
Ao anunciar o apoio, Lira afirmou que o líder do Republicanos “vai manter a marcha da Câmara seguindo esta mesma receita”. Aliados de Motta e o próprio Lira têm pressionado a bancada petista a anunciar o mais rápido possível o apoio ao líder do Republicanos. Foi oferecido ao PT o comando da 1ª Secretaria da Câmara na futura composição da Mesa Diretora.
Além disso, como mostrou o Estadão/Broadcast Político, o partido negocia a indicação para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU), e os cotados são a própria presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, e o líder da bancada de deputados, Odair Cunha (MG). O nome de Motta aparecia desde o ano passado, nos bastidores, como uma opção para a presidência da Câmara. No entanto, ele não estava entre os principais cotados para a sucessão porque Marcos Pereira tinha a preferência no partido.
Na avaliação de lideranças do Congresso, Motta conseguiu “subir os degraus” da Câmara e ganhar influência aos poucos. Aliados dizem que ele sempre procurou aprender com os políticos mais experientes. Foi “pupilo” do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e soube atuar nos bastidores, até se tornar o favorito de Lira para a sucessão.
Depois de ter integrado a base dos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, Motta hoje é próximo ao governo Lula e um dos principais interlocutores do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Legislativo.
De atuação discreta, Motta é considerado o “braço direito” de Lira. Os dois costumam fazer caminhadas juntos, na Península dos Ministros, em Brasília, área verde próxima à Residência Oficial da Presidência da Câmara. O líder do Republicanos é mais próximo de Lira e do presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), do que de Marcos Pereira.
Segundo aliados, ele é firme quando se posiciona, mas acaba fazendo o que Lira quer. Na primeira eleição de Lira para a presidência da Câmara, em 2021, Motta foi o “anfitrião” na Paraíba. O deputado alagoano contava com um “chefe de campanha” em cada Estado. A relação entre os dois, segundo interlocutores, é de “respeito” e “amizade”.
Como mostrou o Estadão/Broadcast Político em julho, apesar de Elmar ter sido apresentado desde o começo das discussões como o favorito de Lira, havia crescido nos últimos meses a percepção entre deputados de que o presidente da Câmara, na verdade, estudava uma forma de viabilizar o nome de Motta para a sucessão.
Alguns sinais da articulação por Motta foram dados em junho, durante o Fórum Jurídico de Lisboa, evento realizado na capital de Portugal pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), conhecido como “Gilmarpalooza”. Lira e os líderes do Centrão estavam por lá.
Motta pregou contra ‘agenda de radicalização’ ao lado de Lira
Em um evento do agro na semana passada, em São Paulo, Motta estava ao lado de Lira e pregou contra o que chamou de “agenda de radicalização”. Aliados de Motta dizem que ele é “correto”, “competente” e tem “palavra”, ou seja, cumpre o que promete, é atencioso com os deputados, não apenas com os líderes, mas também com o chamado “baixo clero”, parlamentares de pouca expressão política na Câmara.
Apesar de ser hoje próximo ao governo petista, Motta votou a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016. Na época, ele era do mesmo partido e aliado de Eduardo Cunha, algoz de Dilma. Ele fazia parte de um grupo de deputados conhecidos como a “tropa de choque de Cunha”.
Esse time incluía também Lira, Carlos Marun (MDB-MS), Wellington Roberto (PL-PB), Cacá Leão (PP-BA) e André Fufuca (PP-MA), atual ministro do Esporte. Motta tem 34 anos e é médico. Foi filiado ao MDB até 2018, quando migrou para o Republicanos.
Depois de atuar como deputado estadual na Paraíba, foi eleito deputado federal em 2010, aos 21 anos. Está, atualmente, no quarto mandato como deputado federal. Foi relator, em 2021, da chamada “PEC emergencial”, que permitiu ao governo Bolsonaro pagar auxílios na pandemia de covid-19, e também da PEC dos Precatórios. Em 2015, presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou suspeitas de corrupção na Petrobras.
Siga o ‘Estadão’ nas redes sociais
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.