Eleitores da região Nordeste viraram alvo de ataques xenofóbicos nas redes sociais após o primeiro turno das eleições. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderou a votação nos nove Estados da região.
A maioria das mensagens preconceituosas são de perfis de apoiadores do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). Com todas as urnas do País apuradas, o petista teve 48,43% dos votos e o atual chefe do Executivo, 43,20%; eles se enfrentam em um segundo turno no dia 30 de setembro.
Postagens associam o Nordeste à pobreza. A região aparece como dependente de “assistencialismo”, enquanto as demais seriam responsáveis pela produção de riqueza do País. Algumas publicações se referem aos nove Estados como “Cuba do Sul” ou Venezuela. Há ainda mensagens que afirmam que os nascidos no Nordeste “não pensam”, além de classificá-los como “manipuláveis” e “massa de manobra”.
Em alguns casos, usuários insinuam que nordestinos deixam o Nordeste para “vender redes” no Sul e Sudeste, e declaram que eles não seriam mais bem-vindos nessas regiões após o primeiro turno: “Nunca mais vamos comprar rede desses nordestino (sic) que vem aqui pro Sul do Brasil. Acabou. Fica (sic) vendendo aí nas suas cidades”, escreve um usuário em perfil anônimo.
Algumas mensagens incitam violência. “Alguém avisa o presidente da Rússia que o Nordeste também faz parte da Ucrânia”, escreveu uma internauta.
Conforme mostrou o Estadão, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MP-MS) pediu que a Polícia Civil e a Polícia Federal investiguem a página “Mídia Dourados” no Facebook por racismo contra nordestinos. O perfil apócrifo tem 57 mil seguidores na rede social. Após a apuração dos votos no primeiro turno das eleições, no domingo, 2, a página atacou os nordestinos. “Depois vem pro Sul vender rede (sic)”, diz a publicação.
Em fevereiro, o Estadão informou que Bolsonaro virou alvo de notícia-crime no STF por se referir a nordestinos como “pau de arara”. O termo pejorativo foi dito pelo presidente durante sua live semanal.
O Monitor de Redes encontrou, entre às 16h e às 20h de hoje, cerca de 41 mil mensagens que falam sobre a região e também discutem a xenofobia.
No Telegram, as mensagens xenofóbicas já apareceram durante a apuração dos votos. “Tem que deixar o Nordeste na fome”, publicou uma usuária num grupo com mais de 30 mil pessoas. “Nordeste que vai decidir isso! Povo ignorante!”, adicionou outro membro.
O Twitter afirmou que suas equipes “estão acompanhando a situação e trabalhando para detectar potenciais violações”. A Meta, representante do Instagram e do Facebook, informou que desde domingo, “antes mesmo do fim da apuração dos votos”, trabalhavam para “detectar e remover das nossas plataformas discurso de ódio contra a população do Nordeste, conteúdos que violam as nossas políticas”. “Devido à escala dos nossos serviços, proibir determinados conteúdos não significa incidência zero.”
Exaltação e valorização do Nordeste
Após os ataques com mensagens preconceituosas ao Nordeste, teve início nas redes sociais um movimento de usuários que passaram a exaltar a região.
Economista, ex-participante do Big Brother Brasil e pernambucano, Gil do Vigor pediu respeito. “Em termos de política, precisamos colocar a cabeça no lugar, se conscientizar, respeitar o outro”, falou. “O nordestino é capaz, é potente e tem conhecimento, sim.” No momento, ele está nos Estados Unidos, onde cursa PhD na Universidade da Califórnia em Davis (UC Davis).
A cantora paraibana, também ex-BBB, Juliette Freire usou as redes para para incentivar seus seguidores a denunciar a xenofobia. “Você tira print, vai no site da Polícia Federal ou do Ministério Público Federal, preenche o formulário e faz sua notícia crime. Já que não há respeito, resta pelo menos, justiça.”
A presidente do PT Gleisi Hoffmann se disse “horrorizada com os apoiadores de Bolsonaro espalhando preconceito e xenofobia contra o povo nordestino por conta do apoio que a região deu ao presidente Lula”. “É esse o Brasil que o povo quer? Do discurso do ódio? Nordeste é orgulho!”, escreveu no Twitter.
O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, também usou as redes sociais para para dizer que “nossos amigos do Nordeste são vítimas de governo passados”.
Essa não é a primeira eleição em que eleitores do Nordeste não alvo de xenofobia. Em 2014, quando Dilma Rousseff (PT) teve mais votos do que Aécio Neves (PSDB) no Nordeste, também foi registrada uma onda de comentários preconceituosos nas redes sociais contra os moradores da região.
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