A reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os seus ministros, realizada nesta quinta-feira, 15, no Palácio do Planalto, durou nove horas ininterruptas, começando pela manhã, às 10h30, e terminando após o anoitecer, às 19h30. A longa conversa buscou criar um “freio de arrumação” no governo, cobrando rapidez para atender a pedidos vindos do Centrão.
Na reunião ministerial – a terceira desde o início do mandato de Lula –, foram discutidas a crise da articulação política entre o Planalto e o Congresso e a da comunicação entre a Esplanada. A conversa veio no momento em que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), adverte o governo sobre as suas negociações com o Legislativo, ameaçando não votar projetos que são de interesse de Lula.
Na reunião, o presidente e os ministros também discutiram temas econômicos, como a taxa Selic e as movimentações no Banco Central. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, levantou novas críticas ao BC e afirmou que a queda dos juros vai significar “a volta do emprego, do crédito e da produção industrial”
Especialistas ouvidos pelo Estadão, no entanto, alertam para o formato adotado por Lula no encontro com os ministros. O professor de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Almeida analisa que reuniões muito longas são “cansativas e tendem a não ser muito produtivas”. Segundo ele, o ideal é fazer reuniões mais frequentes e acompanhar de perto as metas estabelecidas pelo governo.
“O líder deve dar oportunidade para que todos se expressem e evitar preferências e monólogos. Este, inclusive, foi um dos motivos do longo tempo de duração da reunião. O presidente já havia ressaltado que a reunião seria longa, pois cada um dos membros do seu governo, além dos líderes no Congresso, teria dez minutos para discursar”, diz o professor.
Almeida também enxerga que a comunicação do governo deve ser mais estratégica, e vê que esse é um dos objetivos de Lula, que começou o encontro deixando um recado para os ministros de que a conversação entre a Esplanada precisa ser mais eficiente. Porém, o professor alerta que as falhas de comunicação podem estar sendo cometidas pelo próprio chefe de governo.
Uma das críticas do professor é sobre a piada que Lula fez sobre o peso do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, durante a reunião. No almoço servido aos ministros, o presidente disse que serviriam “pouca comida” para Dino, sendo seguido de risadas pelos outros participantes.
“Essa reunião vai demorar pelo menos umas seis horas ou um pouco mais. Não teremos almoço. O almoço será uma comida leve servida aqui na mesa, ninguém precisa se levantar. Enquanto um fala, os outros comem e assim a gente vai se revezando a nossa degustação na hora do almoço. O Flávio Dino também, mas nós vamos trazer pouca comida para ele”, disse o presidente.
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O professor da UnB, que é especializado em Gestão na Comunicação, observa que Lula deve ser cuidadoso em suas reuniões, principalmente nas que têm um importante peso estratégico para o governo como a desta quinta. “A piada que Lula fez com o peso de Flávio Dino durante a reunião, além de não ser legal, pode levar a importância da reunião para outro foco”, afirma o professor.
Reuniões devem ser mais constantes e curtas
Já Fernando Dantas, mestre em Gestão do Conhecimento e consultor no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Distrito Federal (Sebrae-DF), diz que a longa duração da reunião pode ser positiva, desde que não seja feita semanalmente. Nesta periodicidade, o especialista analisa que o recomendado seria de, no máximo, uma hora.
“Analisando como se fosse uma empresa e, neste caso, a empresa ‘Brasil’, com todos os seus ministros, eu vejo com bons olhos (a duração da reunião). Ele ouviu todos, com pontos que estavam sendo mencionados para uma boa gestão de projetos importantes para o País”, diz.
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