Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro fizeram, na Avenida Paulista, neste sábado, 7 de Setembro, um ato menor e mais radical do que aquele realizado em 25 de fevereiro, quando uma multidão de apoiadores também foi às ruas. Tanto nas faixas no público, agora liberadas por Bolsonaro, quanto nos discursos, houve um recado de que a oposição pretende endurecer o debate para tentar derrubar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Esparsas e menores – foram 45 mil pessoas contra 185 mil dos atos de fevereiro, segundo o Monitor do debate política no Meio digital da USP –, tais manifestações não devem surtir efeito. E pode ser considerado frustrante para a direita o fato de que mesmo a suspensão no X nos últimos dias não representou o aumento de público e apoio institucional.
A única boa notícia para eles foi dada justamente por Lula, que ao levar Alexandre de Moraes para a primeira fila do desfile em Brasília, carimbou no ministro uma dose de política, a despeito de seu papel jurídico.
Mesmo no trio elétrico da Paulista, a diversidade de apoios foi menor. Governadores que tinham se mostrado presentes no ato mais genérico de fevereiro decidiram não participar agora que havia uma pauta mais direta contra Moraes. Casos dos presidenciáveis Ronaldo Caiado (Goiás) e Romeu Zema (Minas Gerais), que deram desculpas diversas para não participar de evento de pauta tão delicada.
Quem foi, escolheu, além de Moraes, um novo alvo: Rodrigo Pacheco, criticado e atacado em faixas, cartazes e discursos de diversos dos políticos que foram ao microfone. O presidente do Senado tem sido pressionado a aceitar a abertura de um processo de impeachment de Alexandre de Moraes, o que parece estar bastante longe de acontecer. Pacheco, que tentava se equilibrar entre lulistas e bolsonaristas, sobretudo por enxergar possibilidade de disputar o governo de Minas em 2026, foi empurrado para a esquerda pelos bolsonaristas.
No ato deste sábado, não houve constrangimentos para enfatizar a lista de exigências do bolsonarismo para acabar com a guerra institucional: o fim da prisão de aliados acusados de atos antidemocráticos, a anistia para os presos por atos golpistas de 8 de janeiro (leia-se também a anistia a Bolsonaro), o fim dos inquéritos das fake news e das milícias digitais e o impeachment de Alexandre de Moraes. O próprio Bolsonaro, pela primeira vez, pediu que o Senado coloque um freio no ministro, ou seja, aprove sua derrubada.
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O ato serviu também para candidatos a vereador e prefeito Brasil afora. Muitos transformaram a oportunidade em uma plataforma política. Aliados do candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, espalharam seus materiais por toda a Paulista. Havia venda de bonés e bandeiras com seu nome. Ele chegou na reta final do evento e se envolveu em uma confusão com Silas Malafaia ao tentar subir no trio quando o ato já tinha se encerrado. Ricardo Nunes (MDB) também esteve presente. Se em fevereiro apareceu com uma camisa amarela de uma campanha de adoção de animais, agora usou a camisa da seleção que mais identifica os bolsonaristas convictos nas manifestações. Mas foi discreto. Usou o ato para montar materiais de campanha, mas sem aparecer na linha de frente enquanto eram feitas críticas a Morares e ao STF.
A Paulista trouxe más notícias para um nitidamente mal-humorado Bolsonaro. É claro que ele continua conseguindo mobilizar muita gente, mas não há uma onda a seu favor. As pesquisas podem até mostrar incômodos com a atuação do STF, mas insuficiente para estourar a bolha bolsonarista e gerar uma pressão na sociedade que possa levar à queda do ministro. Ao menos de Brasília veio a boa notícia: o reforço de Moraes como figura política, feito por Lula, contribui com o discurso de perseguição que será usada na batalha para tentar anistiá-lo. O caminho é difícil, mas está delimitado.
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