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Traduzindo a política

Opinião | Debate na Globo é melhor para Boulos e Marçal, mas Nunes sobrevive; Tabata vai bem nas propostas

Candidatos do PSOL e do PRTB parecem ter cumprido melhor as estratégias costuradas para o encontro, mas prefeito apanhou menos do que se espera de um concorrente à reeleição

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Foto do author Ricardo Corrêa

No debate morno realizado na Globo entre os cinco candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto, os candidatos do PSOL, Guilherme Boulos, e do PRTB, Pablo Marçal, têm mais a comemorar. Eles parecem ter atingido mais os objetivos que tinham costurado para o encontro, visando a reta final da campanha, ainda que, no debate de propostas, seja Tabata Amaral a que mais se destacou mais uma vez. Mas o prefeito Ricardo Nunes, que disputa palmo a palmo uma vaga no segundo turno com Boulos e Marçal, sobreviveu, apanhando menos do que em encontros anteriores.

Nunes, como atual prefeito, sabe que, em qualquer encontro que tiver com os demais candidatos, será o principal alvo. Na Globo não foi diferente, mas o nível dos ataques foi menor. Por isso, sobreviveu. E isso, por si só, é motivo de comemoração. Mas Nunes também esteve apagado, nervoso sobretudo na primeira parte, momento de maior audiência. E fez poucos acenos a um eleitorado que precisa conquistar: o bolsonarismo, que tem migrado novamente para a candidatura de Marçal segundo as últimas pesquisas.

Candidatos à Prefeitura de São Paulo na eleição municipal 2024 participam de debate na Globo Foto: Bob Paulino/TV Globo

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O ex-coach, por sua vez, traçou uma estratégia que pode ser mais eficaz. No momento de maior audiência na TV, ao falar para um público mais geral, adotou uma postura moderada, evitando elevar o tom de voz, mas sem deixar de fazer acenos à direita bolsonarista, em especial, aos evangélicos, ao fazer referência à bíblia na hora de citar Cid Moreira. Na segunda metade do debate porém, com menos gente assistindo, elevou o tom de modo a garantir os cortes que usará nas redes sociais para conquistar essa fatia do eleitorado.

Assim, falou mais alto, com veias do pescoço à mostra ao chamar Boulos de extremista e qualificar todos os demais candidatos como esquerdistas. A fala veio justamente quando a busca no Google registrava alta pelo questionamento sobre o posicionamento político dos candidatos, com o objetivo direto de se consolidar entre o eleitorado do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Boulos também tinha uma estratégia costurada e recomendada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma live antes do início do debate. Trazer para o encontro a emoção que faltou à sua campanha. Mesmo a militância criticou muito a falta de um tom mais voltado ao coração do eleitor ao longo da campanha de rádio e TV e nas ruas. Lula pediu exatamente essa mudança a Boulos no debate, explorando que a maioria das pessoas é mais emoção do que razão.

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Por causa disso, o candidato não detalhou propostas, fugiu das explicações para as contradições que foram levadas pelos adversários e tentou se aproximar dos problemas diários das pessoas. Cumpriu o objetivo que tinha para a noite em um momento em que aparece com estabilidade nas pesquisas e boas chances de estar no segundo turno em meio à batalha entre os dois rivais.

Para finalizar, descumprindo a regra, exibiu um exame toxicológico como vacina para eventuais novas acusações de uso de drogas como as feitas por Pablo Marçal na primeira parte da campanha.

Tabata dosou melhor a escolha entre razão e emoção. Tentou engajar seus eleitores, mas gastou muito mais tempo com as propostas, tentando encaixá-las em quase todas as perguntas e respostas. A candidata do PSB sempre se destacou com essa linha, em todos os debates. Novamente, mostrou-se mais capaz de apresentar aquilo que defende para São Paulo.

Mas o discurso técnico até o último Datafolha rendeu apenas 11% dos votos e é difícil imaginar que, com a mesma estratégia, possa dar um salto tão grande quanto precisa para alcançar os três primeiros colocados. Ela vem oscilando para cima, mas com poucos dias até a ida às urnas, talvez precisasse de algo diferente para completar o avanço. A não ser que o objetivo seja deixar a eleição com uma boa impressão, mesmo sem a vaga no segundo turno.

Completando o cenário, Datena fez, no debate da Globo, o mesmo que nos encontros anteriores: empurrou a campanha com a barriga, esperando apenas que o tormento acabe. Foi exatamente em um encontro entre os candidatos que começou o calvário de Datena, que desceu lentamente nas pesquisas até chegar a um piso de candidato nanico neste momento. Lúcido com a situação, o próprio candidato não faz esforço para esconder o desânimo que o acompanha, que tira-lhe forças até para atacar os adversários como fez em debates anteriores.

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A eleição segue aberta e, agora, será travada nas redes. Os cortes do encontro desta noite serão peças fundamentais para que os candidatos explorem na reta final. Com uma oscilação negativa nos últimos dias e vendo uma reação de seu adversário à direita, ninguém mais do que Nunes precisava de uma imagem de pujança e uma novidade na TV. Essa imagem não veio. E esse é o grande desafio na disputa que trava com Marçal à direita pela vaga no segundo turno.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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