PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Traduzindo a política

Opinião|Direita tende a crescer na eleição, mas Eduardo Paes é pedra no sapato de Bolsonaro e alento a Lula

Derrota em casa para o bolsonarismo pode ter reflexos em 2026 na disputa com o lulismo em meio à expectativa de melhora em relação ao cenário de 2020

PUBLICIDADE

Foto do author Ricardo Corrêa

Ainda que eleições municipais possam refletir questões locais, é bastante provável que o bolsonarismo consiga, em 2024, resultado melhor do que quatro anos antes nas eleições municipais. Em 2020, Jair Bolsonaro estava no poder e com a poderosa máquina federal nas mãos, mas a pauta predominante naquela disputa, a pandemia de Covid-19 que assolava o Brasil, era altamente desfavorável a ele. Hoje o cenário se inverte. Ainda que Lula comande o País e seja parcialmente dono do destino de recursos e ações que vão impulsionar candidaturas pelo Brasil, o tema da segurança pública deve ser predominante, o que favorece a direita.

Nas capitais, hoje a dúvida não se dá mais sobre se o bolsonarismo crescerá ou não nas próximas eleições, mas o tamanho desse crescimento. Em relatório enviado neste mês para clientes, a Dharma Political Risk and Strategy traçou três cenários. No primeiro deles, considerado de probabilidade alta, a estratégia do governo Lula servirá para uma contenção mínima desse crescimento, com a vitória de candidatos que mesmo não sendo petistas podem ajudar a representar o que Lula definiu como uma frente ampla em 2026. Um segundo cenário, de probabilidade média, indica que, apesar dos esforço governistas, o bolsonarismo sairá vencedor nas eleições, “resultando em uma degradação da capacidade do Palácio do Planalto de construir uma agenda robusta no biênio final do governo, antecipando o debate eleitoral do pleito geral de 2026″. Há ainda um cenário de probabilidade baixa de que a polarização se acentue ainda mais no pleito, contrapondo a mobilização de recursos pelo governo federal e o protagonismo do bolsonarismo nas comunicações.

Eduardo Paes, prefeito do Rio, pode ser grande alento a Lula na eleição em que tende a sofrer para derrotar aliados de Bolsonaro Foto: Pedro Kirilos/Estadão

PUBLICIDADE

Com o petismo incapaz de liderar nas capitais mais importantes do Brasil, um nome desponta com força para se tornar a grande pedra no sapato do bolsonarismo e, talvez possa representar, mais adiante, um esboço do que poderia ser também o pós-lulismo, ainda que hoje receba o apoio do presidente. Trata-se de Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, e que desponta como amplo favorito na cidade em que Bolsonaro fez sua carreira política. Uma derrota “em casa” ainda no primeiro turno seria desmoralizante para o ex-presidente. E seu candidato, o deputado federal Alexandre Ramagem, hoje esforça-se mais para explicar a encrenca da Abin Paralela do que para apresentar suas propostas e contrapor Eduardo Paes.

O prefeito do Rio começa a campanha com tanta força que o principal debate nas eleições é sobre seu vice, exatamente pela real possibilidade de que, em dois anos, ele possa deixar a prefeitura eventualmente eleito governador do Estado. O PT aceita não dar o vice pois, mais importante do que isso, é ter apoio daquele que já concorre em 2024 como favorito ao governo do Rio em 2026.

Apesar da vitória em 2022, Lula perdeu de 56,5% a 43,5% para Bolsonaro no Estado do Rio no segundo turno, após ver Cláudio Castro (PL) ser eleito ainda na primeira etapa de votação. Uma aliança com um Paes bem avaliado, reeleito na capital e favorito no Estado poderia ajudar a ampliar a mínima vantagem obtida contra o bolsonarismo no nível nacional, seja qual for o candidato da direita. Por isso o Rio é tão importante para Lula.

Publicidade

Recentemente, o ministro Alexandre Padilha citou a capital fluminense entre as cidades em que vislumbra o verdadeiro confronto entre os projetos de Lula e Bolsonaro. As outras duas seriam São Paulo e Recife. Em nenhuma delas o PT terá candidato. Em São Paulo, o PL também não terá e, embora a disputa entre Nunes e Boulos tenda a ser acirrada, o prefeito parece largar na frente, com mais amplo apoio partidário, as máquinas municipal e estadual a seu favor e sendo, também ele, de um partido da base de Lula, ainda que seja o candidato bolsonarista. Seria uma tragédia para Bolsonaro perder a capital paulista após abrir mão de ter um candidato e escolher um nome mais ao centro. Em Recife, é bastante provável que João Campos, aliado de Lula, seja eleito com folga no primeiro turno. Resta, portanto o Rio, e Paes quer estragar a festa do ex-presidente.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.