As eleições de 2024 chegarão ao fim neste domingo, 27, deixando saldo negativo e preocupações para os principais postulantes ao Palácio do Planalto em 2026. Ainda que daqui e dali alguns deles possam ter colhido vitórias, o fato é que o resultado geral das eleições indica que os caciques ou mostraram menos força do que imaginaram ou viram o espaço em seus campos se reduzir ou se dividir.
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Como já dito aqui neste espaço, o caso de Lula é mais cristalino. O presidente da República não conseguiu aproveitar a presença na máquina federal para fazer com que o PT saísse do abismo que se meteu desde os piores momentos do governo de Dilma Rousseff, quando começou a perder espaço nas eleições municipais pelo País. Neste domingo, o partido do presidente chega às urnas com chances reais em Fortaleza, onde é difícil cravar o resultado por conta de um empate técnico com vantagem numérica incerta, embora ainda tentando reduzir vantagens mínimas de adversários em Cuiabá e Natal.
Apoiando candidatos de centro, Lula venceu em cidades importantes, mas sem que sua participação tenha sido relevante. O centro se fortaleceu e a direita também, o que deve fazer com que deputados que vão buscar a reeleição em 2026 dificultem a vida do governo para dialogar com uma parcela relevante da população que se posicionou contra a esquerda.
O inelegível Jair Bolsonaro, que corre atrás de uma anistia para poder concorrer, já entrou na eleição em situação complicada. Tem uma série de denúncias na porta de sua cozinha e indiciamentos também. Até 2026 e depois disso deve travar suas maiores batalhas nos tribunais. As eleições só trouxeram mais problemas. Bolsonaro brigou com aliados pelo País, deixou imagem ruim na eleição em São Paulo ao fugir da corrida eleitoral quando Nunes estava em situação difícil e, principalmente, viu Pablo Marçal desafiá-lo e cooptar boa parte de seu eleitorado, tornando-se uma sombra à direita.
Se Marçal concorrer em 2026, não será qualquer indicado por Bolsonaro que conseguirá êxito apenas por ter a bênção do ex-presidente. Mas mesmo Marçal também saiu da eleição com motivos para se preocupar, após colocar um importante ativo conquistado na corrida à Prefeitura de São Paulo em risco por ameaças judiciais. Ao publicar um laudo falso em que acusava Guilherme Boulos de uso de drogas, ele entrou de vez na mira da Justiça eleitoral e a maioria dos especialistas que são consultados sobre o tema apontam que é muito grande a chance de que ele fique inelegível muito em breve.
Tarcísio de Freitas é um nome que torce para isso. Dos postulantes a 2026, tende a ser aquele a ter o melhor saldo, caso eleja Ricardo Nunes na capital paulista. Foi o governador quem segurou o touro na unha quando Bolsonaro fugiu da polarização com Marçal e as pesquisas indicaram a chance de o prefeito ficar fora do segundo turno. Mas o esforço teve custos políticos também ao governador, que precisou entrar em embates com o ex-coach por causa disso. Basta ver as redes sociais de Tarcísio para perceber que uma parte do eleitorado de direita ficou profundamente incomodada com o esforço de Tarcísio pró-Nunes. E se Marçal não ficar inelegível, pode ser uma ameaça a Tarcísio até mesmo em uma disputa à reeleição no Estado.
Tarcísio, porém, ainda teve papel relevante na campanha. Como teve também Ronaldo Caiado, que provavelmente conseguirá eleger seu candidato, Sandro Mabel, em Goiânia. Houve custos, contudo, com a deterioração da relação com Jair Bolsonaro, o que pode interditar seu caminho em 2026 junto ao grupo ligado ao ex-presidente na hora da escolha de um sucessor. O ex-presidente chegou a chamar Caiado de covarde e acusá-lo de se associar à direita.
Ratinho Júnior, outra opção à direita, também sofreu até aqui. Trabalha até o fim para eleger neste domingo Eduardo Pimentel como prefeito de Curitiba. Mas viu a direita rachar também no Paraná, com Cristina Graelm chegando ao segundo turno e desafiando seu candidato mesmo sem apoio formal, mostrando que o bolsonarismo está muito pouco afeito à escolha de um nome na centro-direita. Ainda que Ratinho vença, sua força no Paraná mostrou-se menos eficaz do que a esperada. Enquanto isso, ele vê o próprio presidente de seu partido dizer que ele só terá espaço para ser candidato se Tarcísio de Freitas não concorrer ao Planalto.
Houve quem viveu campanha pior entre os pré-candidatos de 2026. Romeu Zema, por exemplo, expôs irrelevância política no próprio Estado. A candidatura de seu partido não sobreviveu à fase de pré-campanha na capital mineira. Apoiou, então, Mauro Tramonte no primeiro turno, foi escondido na campanha todo o tempo e viu o candidato ficar fora do segundo turno. Depois aceitou apoiar Bruno Engler, nome da direita que aparece levemente atrás nas pesquisas, contraposto por Fuad Noman, candidato de Rodrigo Pacheco (PSD) e Alexandre Silveira (PSD), pré-candidatos ao governo e/ou Senado em 2026 e principais adversários hoje em Minas Gerais. Zema tentou se nacionalizar, visitando campanhas pelo País, mas sua presença praticamente não foi notada.
Também Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, mostrou pouca força em seu próprio Estado. Na capital gaúcha, sua candidata, Juliana Brizola (PDT), não conseguiu avançar à reta final. O tucano, que viu seu partido se deteriorar ainda mais por todo o Brasil, precisou apoiar Sebastião Melo na segunda etapa, mesmo com o prefeito tendo sido contra ele dois anos antes. Diante de tantos problemas a serem enfrentados com a tragédia da chuva no Sul e após uma eleição em que foi discreto, seu nome já é desconsiderado por muitos como opção em 2026. No fim de 2024, sobram mais derrotados que vencedores com vistas à disputa pelo País que ganha impulso já amanhã, quando as urnas de 2024 se fecharem.
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