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Traduzindo a política

Opinião|Eleições 2024 são teste de fogo para a sobrevivência de um dividido PSDB, sobretudo em São Paulo

Partido enfrentará urnas rachado, sem lideranças fortes para conduzi-lo e sob ameaça de agravar encolhimento registrado nas últimas disputas

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Foto do author Ricardo Corrêa

Nas últimas semanas, ao tentar entender o imbróglio sobre a decisão da Justiça que determinou uma nova eleição no PSDB nacional, ouvi de um tucano aliado de Eduardo Leite uma frase curiosa: “É até bom que lembram da gente”. A frase tem razão de ser. Nas eleições de 2024, um menos lembrado PSDB enfrenta a disputa mais desafiadora de sua história. Sobretudo em São Paulo, onde dominou o cenário eleitoral por tantos anos e, agora, irá às urnas sem a força de nenhuma das três máquinas (federal, estadual e municipal), sem uma grande força política para conduzi-lo e enfraquecido pela diminuição de bancadas e número de prefeitos filiados. A resistência no momento de maior dificuldade é essencial para a manutenção da sigla como um partido relevante no país.

O encolhimento do PSDB é visto por qualquer ângulo. Em 2016, a sigla elegeu 799 prefeitos. Em 2020, foram 520, dos quais muitos já deixaram a legenda. Em São Paulo, onde houve embates de toda sorte e o avanço de aliados do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), estima-se que metade dos mandatários da sigla já tenha trocado de partido.

PSDB de Eduardo Leite tem desafio para 2024, enfrentando eleição difícil sobretudo em São Paulo, onde perdeu força Foto: PSDB/Divulgação

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Os olhares para o Legislativo também não são favoráveis. Se em 2016 elegeu 5.360 vereadores em todo o país, em 2020 foram 4.336. Na capital paulista, a bancada caiu de 11 para 8 eleitos. Na Alesp, se em 2014 eram 22 parlamentares, em 2018 passaram a ser 8, e agora são 9. Na Câmara Federal, entre 2018 e 2022, a sigla diminui pela metade, indo de 29 para 14. No Senado, saiu de 8 para 4 eleitos nas últimas eleições, e agora só tem 2.

O peso de São Paulo nessa conta que mostra o enfraquecimento do PSDB é enorme e, por isso, a eleição de 2024 é apontada como definitiva para saber se o partido conseguirá suportar seu momento mais traumático em que enfrentará uma eleição sem uma grande liderança estadual para conduzi-lo. Da última eleição municipal para esta, Geraldo Alckmin foi para o PSB, João Doria se desfiliou após brigas internas e José Serra se afastou dos mandatos políticos em razão de cuidados com a saúde do avançar da idade.

Embora a sigla considere que há quadros importantes para manter a relevância da legenda no Estado, sabe-se que é preciso muito mais exposição para que se tornem opções no futuro. E é exatamente aí que reside um dos motivos de embate entre duas alas da legenda. Uma, proeminente no diretório municipal, defende claramente o alinhamento a Ricardo Nunes (MDB). A outra, mais ligada ao estadual, insiste que é preciso ter um nome da própria legenda. Os dois lados têm um argumento semelhante: o PSDB precisa permitir que novos quadros ganhem destaque. A diferença é que enquanto uns pregam que isso funcionaria melhor com uma candidatura própria que mantivesse o nome da legenda em evidência, os outros, majoritários neste momento, apontam que o caminho mais adequado é estar com Ricardo Nunes para indicar secretários que apareçam bastante na próxima gestão e ganhem espaço para futuros voos mais altos. Mais do que saber qual lado vai ganhar essa disputa, resta saber se o lado vencedor terá escolhido a melhor estratégia que permita que o PSDB sobreviva na cidade, no Estado e no país.

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Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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