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Traduzindo a política

Opinião|Explosões na Praça dos Três Poderes enterram as chances de anistia a acusados pelo 8 de Janeiro

Episódio mostra que ameaças ao STF continuam vivas e tende a fortalecer as posições duras do ministro Alexandre de Moraes

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Foto do author Ricardo Corrêa
Atualização:

As explosões na noite desta quarta-feira, 13, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, tendem a enterrar de vez as já remotas chances de aprovação de uma proposta de anistia a acusados de participação dos atos golpistas de 8 de Janeiro e, em consequência, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ainda que não estejam plenamente esclarecidas, as circunstâncias do uso de um carro-bomba artesanal no estacionamento da Câmara dos Deputados e de um artefato diante do prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) tendem a reforçar o discurso de que não é possível relevar o que aconteceu no início de 2023, quando os prédios do Executivo, do Legislativo e, sobretudo, do Judiciário foram atacados por apoiadores do ex-presidente.

Há dois fatores que pesam para esse entendimento. O primeiro, o de que o clima de que o pior já havia passado e que as ameaças antidemocráticas tinham ficado para trás deixa de existir. O discurso de parte da classe política de que é preciso que a Corte se recolha em razão de não haver mais ameaças explodiu junto com a bomba desta quinta-feira. Além disso, neste novo cenário, perdoar aqueles que primeiro atacaram a Corte seria visto como um incentivo para que outros possam ousar fazer o mesmo ou agir de forma até mais extremada.

Uma sequência de explosões na Praça dos Três Poderes fez o local ser isolado pela Polícia Militar e corpo de um homem foi encontrado no local após os estrondos Foto: Wilton Junior/Estadão

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Foi o que tentou fazer Francisco Wanderley Luiz, um ex-candidato a vereador pelo PL de Santa Catarina, o dono do carro que explodiu em Brasília e que, depois, viria ele mesmo a morrer em uma aparente tentativa de atingir o prédio do Supremo Tribunal Federal com explosivos. O homem deixou claro suas intenções ao antecipar o atentado pelas redes sociais, onde atacava o STF e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e difundia teorias da conspiração. Não se sabe se agiu como lobo solitário ou se há mais gente envolvida na trama criminosa. Importa menos para o efeito político, porém.

É bom que se recorde dos episódios que remontam à noite de 6 de Setembro de 2021. Naquela ocasião, caminhões invadiram a Esplanada dos Ministérios e ameaçaram descer em direção ao prédio do Supremo Tribunal Federal. Naquela ocasião, o bloqueio que impediu que eles descessem em direção só foi reforçado e impediu uma tragédia após a ameaça de uma decretação de GLO por parte do STF, após a passividade da polícia do DF. Houve forte reação institucional em defesa dos Poderes constituídos no dia seguinte, e o grupo de golpistas recuou.

Pouco mais de um ano depois, no dia da diplomação de Lula, 12 de dezembro de 2022, houve uma tentativa de invasão do prédio da Polícia Federal na capital, e carros e ônibus foram incendiados por toda a cidade, gerando um clima de terror na capital federal. No dia 24 de dezembro daquele ano, uma bomba foi plantada em um caminhão que ia em direção ao aeroporto de Brasília. Já havia acampamentos diante dos quartéis pedindo um golpe de Estado até que, em 8 de janeiro de 2023, aconteceu o que todo mundo já sabe. Se alguém tinha dúvida de que parou por aí, foi lembrado mais uma vez de que não.

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Os estampidos na Praça dos Três Poderes calaram momentaneamente os deputados de oposição na noite desta quinta. Depois, a melhor justificativa encontrada foi de que tratava-se apenas de um maluco e que isso não tem nada a ver com o 8 de janeiro. Foi o que tentou dizer o relator do projeto de anistia, Rodrigo Valadares. Trata-se de um esforço desesperado. A tarefa de convencer parlamentares de centro ou de uma direita moderada a embarcar na empreitada tornou-se bem mais difícil. E a posição do ministro Alexandre de Moraes, considerado duro demais com os golpistas do dia 8, ficou fortalecida. Será dele, inclusive, a missão de conduzir mais essa nova investigação, agora com mais suporte de colegas e mesmo de parte da classe política.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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