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Traduzindo a política

Opinião | Marçal repete circo em debate, mas decisão de Nunes e Boulos de deixá-lo falando sozinho tem riscos

Estratégia do ex-coach é justamente se colocar como alguém que incomoda os demais candidatos; no debate, Marina Helena funcionou como linha auxiliar e Tabata ganhou pontos ao confrontá-lo

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Foto do author Ricardo Corrêa
Atualização:

A decisão dos dois líderes das pesquisas, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), de faltarem ao terceiro debate em São Paulo, organizado pela revista Veja, após as baixarias protagonizadas por Pablo Marçal (PRTB) nos encontros anteriores pode até ser necessária para eles no momento, mas é também perigosa. Como Marçal tem em sua estratégia justamente o argumento de que seria o único diferente dos demais, deixá-lo falando sozinho pode servir justamente para reforçar seu argumento espalhado nas redes sociais.

A prova disso se deu imediatamente após as primeiras notícias sobre as ausências de Nunes, Boulos e também de José Luiz Datena (PSDB), esse que nunca confirmou presença e que começou a campanha eleitoral em marcha bem lenta. Marçal correu nas redes sociais para dizer que todos eram “farinha do mesmo saco” e, depois, em entrevista, falou da falta de “homens viris” e emplacou até uma bizarra comparação com os lares chefiados por mães-solo. Pode até não ter nada a ver uma coisa com a outra, mas para o objetivo de público que Marçal quer atingir, pode servir.

Pablo Marçal, Tabata Amaral e Marina Helena foram os únicos a participarem do debate promovido pela revista Veja Foto: Werther Santana/Estadão

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O risco é maior para Ricardo Nunes, que disputa o eleitorado bolsonarista com Marçal. Uma parcela desse eleitorado quer mesmo é ver o confronto e o discurso de Marçal pode pegar. Sobretudo por incutir no prefeito a imagem de que ele dialoga demais com outros nomes mais à esquerda. Em uma sociedade saudável, seria mérito, mas, para parcela mais radicalizada, é um pecado capital. Marçal quer justamente enfatizar o discurso de que incomoda a classe política. Não ir ao debate, por essa lógica, serviria para reforçar essa narrativa.

Tabata Amaral (PSB), que compareceu a despeito da certeza de que enfrentaria as dobradinhas entre Pablo Marçal e Marina Helena (Novo), pode acabar ganhando algo com isso. Embora ela própria também tenha sido alvo de Marçal durante a pré-campanha, quando ele, em ataque torpe, sugeriu que ela era culpada pela morte do próprio pai, a presença serviria mais a ela do que a ausência. Tabata precisa se tornar conhecida, corre por fora hoje, tem pouco a perder, e pode capturar votos daqueles que acham que Marçal tem de fato passado do ponto mas que precisa ser enfrentado.

No debate, enquanto Marina Helena serviu como linha auxiliar para o candidato do PRTB, ignorando o fato até de ele se recusar a fazer a primeira pergunta a ela, foi Tabata a responsável por tirá-lo da zona de conforto. Marçal não quis responder as perguntas feitas, deixando para tratar delas apenas em seu Instagram. Tabata ironizou: fazia isso para que outro respondesse por ele. Completou também que ir ao debate para fugir das perguntas também seria covardia. A estratégia da candidata do PSB foi, então, deixar claro que, por mais que três candidatos tenha ido ao estúdio, apenas uma queria efetivamente debater suas propostas. Pode ser bem útil para o eleitorado que quer atingir, aquele cansado da polarização e também da antipolítica.

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Para os outros, também há uma ideia de forçar os demais organizadores de encontros a não chamarem Pablo Marçal (por representação, o PRTB não precisaria ser chamado). Mas talvez funcione menos a ausência no debate e mais as ações na Justiça Eleitoral. Boulos já ganhou algumas contra Marçal, incluindo uma em que obriga o candidato do PRTB a destinar espaço em suas redes um direito de resposta em razão das acusações sem provas a respeito do uso de drogas. Tabata também tem ido às redes contra Marçal. Se essas ações forem mais frequentes, talvez deixe de valer à pena para Marçal levar o nível do debate para o subterrâneo. Até aqui, tem valido à pena para ele.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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