Até 21h39 da última sexta-feira, 4 de outubro, qualquer análise sobre o futuro político do ex-coach e empresário Pablo Marçal deveria pintá-lo como força emergente capaz de rachar a direita e colocar-se como alternativa relevante em 2026. Um minuto depois, quando seu canal no Instagram publicava um laudo falso relacionado Guilherme Boulos ao uso de cocaína, ele mudou decisivamente esse contexto.
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Não que Marçal, que terminou a menos de 1% do segundo turno, não seja de fato um fenômeno capaz de sacudir o tabuleiro da eleição presidencial. Mas, sem qualquer dúvida, assim como o de seu rival neste campo, Jair Bolsonaro, Marçal estará diante de um desafio que dificilmente não o levará à inelegibilidade e, possivelmente, pode fazê-lo também terminar na prisão.
Com uma decisão aloprada que coroou uma campanha de baixo nível e sem qualquer limite ao cumprimento da legislação eleitoral, Marçal perdeu exatamente o único ativo que poderia ter na disputa pelo controle da direita com Bolsonaro: as condições políticas futuras. E não haverá qualquer movimento para livrá-lo por parte de ministros indicados pelo ex-presidente, com quem se indispôs na campanha, ou por Lula.
Não será surpresa se já na próxima semana, fora do escudo imposto pela Justiça Eleitoral em proteção aos candidatos, seja alvo de ação de busca e apreensão no episódio do laudo falso, que deve abrir uma miríade de apurações relacionadas a outros supostos ilícitos praticados na eleição. Há de abuso de poder econômico nos cortes pagos nas redes sociais a acusações de injúria, calúnia e difamação de adversários em debates, sabatinas e nas redes.
Aliviados após superar a campanha agressiva e tóxica do adversário, Nunes e Boulos começam uma nova campanha no segundo turno, agora sim, polarizada de fato. Em desvantagem na corrida nos levantamento sobre esse confronto expostos ainda no primeiro turno, Boulos tentará, agora sem o ruído de um outsider, cravar o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua rejeição no peito de Nunes.
O prefeito, por sua vez, agora dificilmente fará esforços para que o ex-presidente, ausente na primeira etapa, esteja ao seu lado de forma mais efetiva. Ainda que o eleitorado de Marçal seja majoritariamente bolsonarista, seria improvável imaginar que parte relevante migrasse para Boulos mesmo se Nunes desdenhar o ex-presidente. Assim, os malefícios da aproximação com um rejeitado Bolsonaro seriam, agora, bem maiores do que os benefícios para Nunes, que entra na segunda etapa da disputa como franco favorito.
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