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Traduzindo a política

Opinião|Nunes e Boulos são alvos e dobram aposta, Tabata e Datena mudam e Marçal some em debate na Record

Acostumado a ser estrela dos eventos, Marçal ficou apagado ao ser isolado a maior parte do tempo, enquanto embates mais relevantes se deram entre o prefeito e o candidato do PSOL

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Atualização:

Em contraponto aos encontros anteriores, o debate entre os candidatos a prefeito de São Paulo na Record não teve um personagem dominante, nem para o bem nem para o mal. Mas levaram Ricardo Nunes e Guilherme Boulos ao alvo principal dos demais candidatos e protagonistas dos embates mais duros, embora em nível bem mais moderado do que nas ocasiões anteriores. Com mudanças de postura de Tabata Amaral e José Luiz Datena, Pablo Marçal acabou isolado e apagado, enquanto tentava apresentar uma postura bem menos belicosa que nas ocasiões em que os debates terminaram em barraco.

Marçal, dessa vez, tinha apenas um alvo definido. Ricardo Nunes, mas com o cuidado de não passar do ponto ou de evitar garantir direitos de resposta aos adversários. Aliás, diversos foram pedidos ao longo dos embates, mas nenhum concedido, o que indica que o nível foi sim menos subterrâneo do que nos outros programas. O candidato do PRTB só tentou cruzar a linha definida por regras duras uma vez. Foi quando chamou Boulos de “Boules”, simulando ter sido sem querer, para testar no que daria. Perdeu 30 segundos nas considerações finais e, dali para frente, não ousou mais. Não deixou de usar artimanhas, como tentar confundir o eleitor sobre o número de Guilherme Boulos, mas engoliu até o orgulho para fazer uma dobradinha com José Luiz Datena para criticar Ricardo Nunes.

Debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo na Record Foto: ANTÔNIO CHAHESTIAN/RECORD

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A postura mais amena de Marçal busca o voto indeciso, concentrado sobretudo nas mulheres e nos eleitores de baixa renda e baixa escolaridade, que têm na TV uma importante fonte de informação sobre os candidatos. A consequência, porém, foi perder o domínio na internet durante o confronto. As linhas de dados do Google Trends, que medem as pesquisas no Google, mostram que ele ficou atrás de Tabata Amaral e, sobretudo Guilherme Boulos, em diversos momentos. Nos encontros anteriores, ele reinava absoluto durante quase todo tempo de transmissão.

Tabata, aliás, foi a que mostrou mudança mais sensível na estratégia. Começou mirando em Boulos pela primeira vez, em busca de fustigá-lo e tentar evitar que um eleitor mais moderado à esquerda migre para a candidatura dele. Também apostou mais no apelo emocional, enfatizando a relação com as pessoas ao longo da campanha, a coragem, a fé e a energia que pode demonstrar como prefeita. O objetivo foi reforçar uma narrativa de mais vitalidade e menos tecnicidade, evitando focar apenas em um debate profundo sobre propostas, o que chamou atenção mas não funcionou para conquistar o eleitor nos debates anteriores.

Quem também mudou foi José Luiz Datena, que evitou cair em provocações e, embora tenha mantido as críticas ao prefeito Ricardo Nunes sobretudo nas dobradinhas com Guilherme Boulos, diminuiu muito o tom contra o prefeito. Chegou a dizer que, a pedido do emedebista, não trataria das questões pessoais. E quem não mudou foi Marina Helena, que discutiu ideologia e temas nacionais pois, embora formalmente candidata a prefeito, faz campanha é para deputada federal daqui a dois anos.

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Mas o debate recolocou mesmo o foco foi em Ricardo Nunes e Guilherme Boulos, aqueles que lideravam as pesquisas lá atrás, que sempre contaram com segundo turno, que sofreram com o furacão chamado Pablo Marçal e que, agora, levam rasa vantagem na reta final da campanha. Os dois foram fustigados, o prefeito um pouco mais, e mantiveram a estratégia de manter a polarização entre eles, com críticas mútuas. Assim, contribuíram com o isolamento de Marçal, que garantiu que o debate tenha terminado de forma bem diferente do anterior. Sem socos ou cadeiradas e sem um vencedor. Para quem está um pouco à frente, ficou de bom tamanho.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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