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Traduzindo a política

Opinião | Pablo Marçal destrói mais um debate nos primeiros minutos. Faz sentido que esteja nos próximos?

Não teve cadeirada, mas outro encontro de baixo nível, com acusações sem provas, ofensas, gritaria e mais uma derrota do ‘direito de resposta’

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Foto do author Ricardo Corrêa
Atualização:

O debate nem tinha começado e já era possível saber o que o eleitor poderia esperar. Ao chegar para o encontro, sem a tipoia ou sinais das dores da cadeirada do domingo anterior, Pablo Marçal bateu boca com um repórter do Uol sem qualquer motivo. No estúdio, reclamava até da água que lhe ofereciam. E quando começou o debate, deu a lógica. Bastaram poucos minutos para transformar tudo novamente na mesma briga de rua. Aceita por Ricardo Nunes e Datena, sobretudo. Com cadeiras parafusadas, elas não voaram, mas gritos, xingamentos e acusações sem provas povoaram já o primeiro bloco, geralmente um período mais leve dos encontros entre candidatos.

Candidato Pablo Marçal participa de debate realizado pela Rede TV! e pelo portal UOL Foto: Taba Benedicto/Estadão

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Nem mesmo o choque com a agressão perpetrada por Datena contra ele fez com que Marçal mudasse sua estratégia, que incluía apelidos jocosos, gestos debochados e até um adesivo colado na boca para ridicularizar o encontro. E o debate mais uma vez começou a ser sobre ele. Até aí, tudo bem. Mas a transformação do encontro em uma briga feroz parece ser uma tônica que não mudará, o que leva à discussão se faz algum sentido que ele seja convidado para os próximos.

Em terceiro nas pesquisas, ou em primeiro em alguns levantamentos, é bastante lógica a ideia das emissoras e organizadores em convidá-lo. Mas se sua presença impede plenamente o debate razoável sobre a cidade, a discussão de propostas, que é o objetivo dos debates, é algo a se pensar.

A legislação não obriga o convite a Marçal. Diz apenas que os partidos que têm representação mínima no Congresso precisam estar representados. Não é o caso do PRTB. Se os demais candidatos não quisessem comparecer a um debate com ele, Marçal não estaria. Mas, até aqui, eles têm topado.

Os que rejeitaram ir ao encontro promovido pela revista Veja, em que ele estava, acabaram percebendo que a ideia não valeu à pena pois o encontro aconteceu, já que Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo) não aceitaram compor o boicote. Compreensível também o raciocínio das duas, que, bem abaixo nas pesquisas, não podem abrir mão de visibilidade. Sobretudo sem Nunes e Boulos, que, por serem líderes e representantes da polarização, costumam ganhar mais atenção e possuem tempo à vontade no horário eleitoral.

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Com Marçal no palco do debate Rede TV!/Uol, o clima foi quente desde o início e não houve quem não tivesse que se defender de alguma crítica. Faz parte do jogo, evidentemente. O que não faz parte é a gritaria generalizada fora do microfone, as acusações absolutamente sem provas sendo jogadas sem que um direito de resposta de 45 segundos possa repará-las.

Eis um grande problema dos debates de 2024: a derrota do direito de resposta, que já foi temido e hoje é tratado como bobagem. Tem valido a pena descascar o adversário com adjetivos que maculam sua honra pois os 45 segundos para responder foram normalizados. Antes, era visto como prova de um erro. Agora, interferência externa no direito de falar o que pensa. Vale para os debates e também para a propaganda eleitoral.

O cenário parece cansar até mesmo os candidatos. Depois do início bélico, o debate passou a um período insosso, com respostas rasas sobre propostas das maiorias deles, entrecortado por inúmeros direitos de resposta, mas sem qualquer embate mais quente, após Guilherme Boulos, Ricardo Nunes e Datena serem orientados a evitar as provocações de Marçal. A dúvida agora é se o eleitor cansou também.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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