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Traduzindo a política

Opinião|Pesquisa Quaest indica resiliência de Marçal e fracasso inicial de artilharia de Bolsonaro por Nunes

Ex-presidente pode até ter ajudado a estancar o crescimento do candidato do PRTB, que não tirou votos do prefeito desta vez, mas o ex-coach ficou longe de derreter como prometido

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Foto do author Ricardo Corrêa
Atualização:

A artilharia comandada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e por seus filhos Eduardo e Carlos Bolsonaro contra o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), em prol de Ricardo Nunes, pode até ter conseguido segurar o ritmo de crescimento do candidato à Prefeitura de São Paulo, mas não foi suficiente para fazê-lo derreter como um dia prometeu Fábio Wajngarten, assessor e advogado do ex-presidente. E, a considerar a diminuição do peso desses ataques nos últimos dias, pode ter dado a Bolsonaro a sensação de que reverter a derrota de seu candidato na maior cidade do País vai ser bem mais difícil que inicialmente previsto.

Havia nas redes a interpretação de que os ataques não vinham dando tão certo como nos processos de desconstrução de outros ex-bolsonaristas, tais quais João Doria, Wilson Witzel, Alexandre Frota e Joice Hasselmann. Imediatamente, surgiam reações do eleitorado nos comentários, com o argumento de que era Marçal quem fincava pé na pauta bolsonarista, e não o ex-presidente e sua família, com sua insistência em empurrar a turma para votar em um “moderado” Ricardo Nunes. A pesquisa Quaest desta quarta, que apresentou o empate técnico triplo na frente, indicou que essa percepção pode fazer sentido.

Guilherme Boulos, Pablo Marçal e Ricardo Nunes estão tecnicamente empatados na disputa em São Paulo, segundo pesquisa Quaest Foto: Felipe Rau/Estadão

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Marçal pode ter sido subestimado pelo bolsonarismo em um primeiro momento, mas isso não significa que são favas contadas sua ida para o segundo turno. Se Bolsonaro voltou a titubear e diminuiu o ritmo de ataques nas redes, Tarcísio de Freitas, governador e principal eleitor de São Paulo, tem prometido não dar trégua. Tarcísio — que, como o Estadão mostrou, é articulador e peça fundamental na campanha de Nunes — não quer essa derrota em sua conta de maneira nenhuma. A ponto de sinalizar que, em um segundo turno entre Marçal e Boulos, pode até anular o voto.

A declaração do governador paulista fez com que ele, igualmente, apanhasse nas redes. Até de Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente. Mas o governador promete entrar de cabeça no horário eleitoral. E Nunes apenas começou a ganhar a montanha de dinheiro que sua aliança terá na campanha. Marçal, que surfa quase sozinho nas redes, tamanha é sua máquina de viralizar, vai apanhar na TV e ser o grande alvo de todos os lados. Se há um dado bom para o prefeito na pesquisa, é que Marçal até cresceu, tomou eleitores de Datena, mas Nunes não se mexeu — o que significa que pode ter conseguido firmar seus eleitores com a ofensiva contra o ex-coach.

Certo é que a mudança de cenário com a entrada rápida de um terceiro candidato na briga com os dois primeiros forçou seus rivais a ajustarem suas rotas. Se o “fenômeno Marçal” nos primeiros debates fez com que Nunes e Boulos corressem dos próximos encontros, seu desempenho nas pesquisas faz com que eles voltem aos encontros. Todos confirmaram a presença no debate da TV Gazeta, que antes teria apenas Tabata e Marçal.

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As idas e vindas mostram que, até o momento, ninguém sabe mesmo como lidar com uma figura que apresenta uma nova forma de fazer campanha. Mas também é certo que ninguém pode jogar parado, esperando para ver se Marçal cai por conta própria. Tabata foi a primeira a perceber isso e, como não tinha nada a perder, estreou a campanha mais pesada contra ele. Boulos, por sua vez, dá de ombros, pois acha que Marçal, por mais força que venha demonstrando, é um adversário melhor no segundo turno. Sobretudo porque é mais fácil dizer que o radical não seria ele, mas o adversário.

Nunes, porém, não tem escolha nem desculpas. Ou encaixa uma estratégia com Bolsonaro, Tarcísio, seus aliados, dinheiro do fundo eleitoral e programas de TV para neutralizar o crescimento do nome do PRTB ou pode sair do segundo turno e, num cenário mais dramático, tornar-se, em 2024, o que foi o Geraldo Alckmin de 2018. Um passageiro na eleição dominada por uma figura muito mais à direita.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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