A artilharia comandada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e por seus filhos Eduardo e Carlos Bolsonaro contra o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), em prol de Ricardo Nunes, pode até ter conseguido segurar o ritmo de crescimento do candidato à Prefeitura de São Paulo, mas não foi suficiente para fazê-lo derreter como um dia prometeu Fábio Wajngarten, assessor e advogado do ex-presidente. E, a considerar a diminuição do peso desses ataques nos últimos dias, pode ter dado a Bolsonaro a sensação de que reverter a derrota de seu candidato na maior cidade do País vai ser bem mais difícil que inicialmente previsto.
Havia nas redes a interpretação de que os ataques não vinham dando tão certo como nos processos de desconstrução de outros ex-bolsonaristas, tais quais João Doria, Wilson Witzel, Alexandre Frota e Joice Hasselmann. Imediatamente, surgiam reações do eleitorado nos comentários, com o argumento de que era Marçal quem fincava pé na pauta bolsonarista, e não o ex-presidente e sua família, com sua insistência em empurrar a turma para votar em um “moderado” Ricardo Nunes. A pesquisa Quaest desta quarta, que apresentou o empate técnico triplo na frente, indicou que essa percepção pode fazer sentido.
Marçal pode ter sido subestimado pelo bolsonarismo em um primeiro momento, mas isso não significa que são favas contadas sua ida para o segundo turno. Se Bolsonaro voltou a titubear e diminuiu o ritmo de ataques nas redes, Tarcísio de Freitas, governador e principal eleitor de São Paulo, tem prometido não dar trégua. Tarcísio — que, como o Estadão mostrou, é articulador e peça fundamental na campanha de Nunes — não quer essa derrota em sua conta de maneira nenhuma. A ponto de sinalizar que, em um segundo turno entre Marçal e Boulos, pode até anular o voto.
A declaração do governador paulista fez com que ele, igualmente, apanhasse nas redes. Até de Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente. Mas o governador promete entrar de cabeça no horário eleitoral. E Nunes apenas começou a ganhar a montanha de dinheiro que sua aliança terá na campanha. Marçal, que surfa quase sozinho nas redes, tamanha é sua máquina de viralizar, vai apanhar na TV e ser o grande alvo de todos os lados. Se há um dado bom para o prefeito na pesquisa, é que Marçal até cresceu, tomou eleitores de Datena, mas Nunes não se mexeu — o que significa que pode ter conseguido firmar seus eleitores com a ofensiva contra o ex-coach.
Certo é que a mudança de cenário com a entrada rápida de um terceiro candidato na briga com os dois primeiros forçou seus rivais a ajustarem suas rotas. Se o “fenômeno Marçal” nos primeiros debates fez com que Nunes e Boulos corressem dos próximos encontros, seu desempenho nas pesquisas faz com que eles voltem aos encontros. Todos confirmaram a presença no debate da TV Gazeta, que antes teria apenas Tabata e Marçal.
As idas e vindas mostram que, até o momento, ninguém sabe mesmo como lidar com uma figura que apresenta uma nova forma de fazer campanha. Mas também é certo que ninguém pode jogar parado, esperando para ver se Marçal cai por conta própria. Tabata foi a primeira a perceber isso e, como não tinha nada a perder, estreou a campanha mais pesada contra ele. Boulos, por sua vez, dá de ombros, pois acha que Marçal, por mais força que venha demonstrando, é um adversário melhor no segundo turno. Sobretudo porque é mais fácil dizer que o radical não seria ele, mas o adversário.
Nunes, porém, não tem escolha nem desculpas. Ou encaixa uma estratégia com Bolsonaro, Tarcísio, seus aliados, dinheiro do fundo eleitoral e programas de TV para neutralizar o crescimento do nome do PRTB ou pode sair do segundo turno e, num cenário mais dramático, tornar-se, em 2024, o que foi o Geraldo Alckmin de 2018. Um passageiro na eleição dominada por uma figura muito mais à direita.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.