A aliança que colocará um nome do PL como vice na chapa de Ricardo Nunes (MDB) amarra de vez o futuro político do prefeito de São Paulo aos planos do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para 2026. Além disso, a arquitetura operada pelo governador dá mostras da capacidade de articulação de Tarcísio junto a um grupo de 12 partidos que podem estar junto com ele em sua empreitada, seja na reeleição ao Estado ou ao Palácio do Planalto.
É bem verdade que 2026 está longe e que alguns desses partidos, incluindo o próprio Republicanos de Tarcísio, nutrem relações e ocupam cargos no governo Lula. Mas com recados daqui e dali acenando pela ruptura ou outros caminhos em 2026, é difícil imaginar que hoje eles não estejam mais perto do governador de São Paulo do que do petista.
Sobre Nunes, se for reeleito neste ano, será sem dúvida um player importante dois anos depois. Querendo alçar novos voos, seria opção ao Senado ou até mesmo à vice no Estado. Para sair da Prefeitura, porém, teria que entregá-la ao PL. Mais precisamente ao coronel Ricardo de Mello Araújo, cujo nome não foi anunciado ainda apenas pela falta de uma última conversa do governador com Jair Bolsonaro, que deve acontecer nesta quinta. Sua saída, portanto, entregaria mais força a Tarcísio, tornando remota a chance de que ele optasse por um voo próprio, como uma candidatura de oposição à do governador no Estado ou compondo outra chapa, que não a do hoje aliado. Poderia, por outro lado, até ser nome natural ao governo, na aliança de um Tarcísio eventual candidato à Presidência.
Não que romper com o Tarcísio mais adiante passe hoje pela cabeça de Nunes. Ao contrário, ele tem uma relação com o governador que costuma definir como “de irmão”. Quando Tarcísio chegou a SP para disputar o governo do Estado, os dois e suas famílias se aproximaram e o vínculo hoje é mais forte do que a mera institucionalidade de uma relação entre um prefeito e um governador do mesmo campo. Mas como as nuvens da política se movem muito rápido, alinhavar a presença do PL como herdeiro de um eventual segundo mandato de Nunes contribui para manter essa ponte de pé pragmaticamente.
Toda a costura que levou à escolha pelo nome do PL, a despeito das intenções de outros nomes, contou com a participação do governador, que cedeu o jantar de seu aniversário para um encontro dos presidentes nacionais dos partidos da chapa. Serviu para mostrar a relação com essas legendas no âmbito federal e não apenas no Estado de São Paulo, justificando qualquer análise de que, sim, ele disputa e tem boas chances de capturar o apoio de todos eles em uma eventual corrida ao Planalto.
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Como já dito aqui neste espaço, Tarcísio só concorrerá à Presidência se Lula estiver fraco quando chegar a hora de definir seu futuro, no início de 2026. Em meio ao debate sobre a eleição municipal, porém, ele volta a indicar que catalisa um apoio partidário que pode arrastá-lo a ampliar um plano que, de momento, passa pela reeleição no Estado. Um apoio que é mais amplo que o de Bolsonaro. Basta ver as rusgas dos comandos do Republicanos e do PSD, para ficar em dois, o que fizeram com que o governador, e não o ex–presidente, destravasse a disputa pela vaga de vice de Nunes.
Para não passar para 2026 sem andar por 2024, eis o resumo das consequências da decisão que está sendo tomada. Nesta quarta, morreu a candidatura de Kim Kataguiri (União) à Prefeitura de São Paulo. Agora, com a vinculação direta ao bolsonarismo, o grupo de Nunes espera estancar o crescimento de Pablo Marçal (PRTB) junto aos eleitores deste campo. Como consequência, vem a desconstrução do candidato de centro idealizado pelo prefeito para a construção de uma imagem à direita, o que tornará um pouco mais desafiador o segundo turno contra um provável Guilherme Boulos (PSOL) à esquerda. Nunes mostra, porém, que não subestimou o primeiro turno por um benefício no segundo.
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