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Traduzindo a política

Opinião | Preocupação do Senado é se Dino irá persegui-los, e não se será um bom ministro

Oposicionistas usaram suas perguntas pra questionar sobre qual será a atuação do ministro frente aos adversários, enquanto ele esforçou-se ao apontar que um ‘ex-político’ no STF pode ter suas vantagens

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Foto do author Ricardo Corrêa
Atualização:

As perguntas direcionadas pelos senadores - em especial os oposicionistas - ao ministro Flávio Dino deixam claro que o legítimo objetivo de uma sabatina - questionar sobre a capacidade de um indicado de assumir uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) - foi deturpado. Das indagações feitas ao indicado por Lula para a vaga, poucas versaram de fato sobre o notório saber jurídico, sobre a conduta ilibada ou sobre temas de interesse geral do país. Em regra, o foco estava em medir se Dino não usará o cargo para perseguir seus adversários. Da parte dele, embora houvesse um esforço de dissociar o atual político do futuro ministro, vieram argumentos para dizer que, bom, um político na Corte pode não ser ruim para a classe política. O nome de Dino foi aprovado na CCJ por 17 a 10 e por 47 a 31 no plenário.

Senadores de oposição gastaram pouco tempo para versar sobre a atuação de Flávio Dino na Pasta que ocupa ou em sua vida política. Polêmicas vividas entraram nas perguntas apenas como notas de rodapé. Os questionamentos sobre a atuação no 8 de janeiro ou a ida ao Complexo da Maré, antes principais críticas a Dino, foram lembrados discretamente. O episódio da presença da ‘dama do tráfico’ no prédio de seu ministério, em reuniões com seus assessores, nem apareceu.

Sabatina de Flávio Dino no CCJ incluiu esforço da oposição para questioná-lo sobre o risco de uma atuação em vingança contra adversários quando estiver no STF Foto: Wilton Junior/Estadão

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É que o foco ali era outro. A oposição queria saber diretamente sobre como ele lidará com os adversários quando estiver sentado na cadeira de ministro do STF. Trocando miúdos: se precisariam se preocupar com a vingança ou com condenações. O senador Rogério Marinho (PL-RN), por exemplo, não deixou dúvidas disso ao perguntar, duas vezes, se Dino vai se declarar impedido em ações que tenham como alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Dino não o respondeu. Flávio Bolsonaro levantou suspeitas de perseguição a adversários e indagou: “Imagina o senhor ministro do STF e dando as cartas ainda na Polícia Federal? Pois o chefe da Polícia Federal vai continuar sendo o amigo do Lula, indicado por proximidade”. Magno Malta falou em ‘ditadura do Judiciário’ para dizer que responde na Justiça por ataques que fez à Corte. Sergio Moro foi além, ao pedir que o ministro abra mão da representação criminal que já fez contra parlamentares, para colocar “uma pá de cal” nesses embates. Completou que eles precisavam ter a segurança de que Dino iria “vestir a toga, e não o contrário”. Seus colegas à direita bateram o tempo todo nessa tecla para questionar se ele lidará como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, ministros que eles consideram ‘inimigos’ na Corte.

Dino percebeu logo que esse era o tom traçado para a sabatina. E, por esta razão, discorreu sempre que podia sobre políticos que já estiveram na Corte para dizer o quanto isso pode ser benéfico para a classe. Enfatizou que essa interlocução fica mais fácil, que entende o processo legislativo, que defende que só a colegialidade pode interferir na validade de uma lei e que a declaração de inconstitucionalidade é uma hipótese excepcionalíssima. Ou seja: que como político, ainda que já tenha sido juiz, poderia respeitar a atuação legislativa de forma mais plena do que um outro indicado advindo do meio jurídico.

No fim, Dino disse o que a oposição queria ouvir: que se atuar como político no STF, será em defesa de todos eles, e não em vingança a uma parte deles. E, contendo o deboche e os ‘coices’ que aplicou em oposicionistas nas idas anteriores ao Senado e à Câmara, tornou a sabatina bem mais morna do que se imaginava inicialmente. De ambas as partes. Ele, por causa dos votos, e os opositores, pelo medo da vingança.

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Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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