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Traduzindo a política

Opinião | Rejeição e decisão de voto expressas em pesquisa tornam virada de Boulos sobre Nunes improvável

Mais do que a distância de 22 pontos em favor do prefeito no primeiro levantamento, as condições em que ela foi criada indicam eleição encaminhada para Nunes

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Foto do author Ricardo Corrêa
Atualização:

Os números divulgados nesta quinta-feira pelo instituto Datafolha indicam que é bastante reduzido o espaço para uma virada de Guilherme Boulos sobre Ricardo Nunes na corrida à Prefeitura de São Paulo. A rejeição ao candidato do PSOL disparou e o índice de decisão de voto nos dois candidatos está bem mais alto do que se esperava para o início ainda da nova batalha. Isso indica que os eleitores de Pablo Marçal, sobretudo, escolheram rapidamente migrar para a candidatura do prefeito, sem esperar qualquer sinalização dos concorrentes.

Mais do que o número geral, que indicou um placar de 55% a 33% para o prefeito, pesa contra Boulos o índice de 58% de sua rejeição, bem maior do que os 37% de Ricardo Nunes. Esse índice, de acordo com o instituto, alcança 92% entre os eleitores de Pablo Marçal, enquanto apenas 9% desse grupo que votou no ex-coach diz rejeitar o prefeito e candidato à reeleição.

Os candidatos a prefeito de São Paulo Ricardo Nunes e Guilherme Boulos Foto: Werther Santana/Estadão

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A rejeição passou a ser, assim, o principal motivador para a escolha do eleitor. Por isso, 68% dos eleitores de Nunes afirmam ter escolhido o prefeito na segunda etapa por não haver uma opção melhor. Outros 31% acham que ele é o candidato ideal. Já entre os partidários de Boulos, são 56% os que acham que ele é sim o melhor candidato, enquanto 43% os que apontam que o escolheram por exclusão. Isso indica como Boulos perdeu espaço como segunda opção de voto.

Mas o número que tende a preocupar mais Boulos é outro, o que mostra a decisão de voto. Diferentemente do que poderia se esperar em um início ainda de segundo turno, 85% dos entrevistados disseram já estar totalmente decididos, enquanto 15% apontam que o voto pode mudar. Esse índice varia pouco entre os dois candidatos (85% entre os eleitores de Nunes e 86% entre os de Boulos).

Até aqui, Boulos não apenas não apenas não conquistou os eleitores de Marçal e Bolsonaro, como sequer conseguiu vantagem plena entre os de Tabata Amaral e Lula. No grupo que votou na deputada federal, 50% migraram para o candidato do PSOL, mas 35% preferiram o prefeito e o restante está indeciso ou disposto a votar em branco ou nulo. Entre os “marçalistas”, são 84% os que escolheram Nunes e só 4% indicam voto em Boulos.

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Enquanto o prefeito conseguiu a adesão de 85% dos eleitores de Bolsonaro mesmo sem a participação plena do ex-presidente na campanha, só 63% dos lulistas dizem que vão votar em Boulos, mesmo com o apoio mais declarado e os atos de campanha do petista na capital.

Boulos iniciou o segundo turno disposto a desconstruir Nunes, fustigando-o com denúncias e o argumento de que ele seria “mais do mesmo”. Mas com rejeição tão alta e com a vinculação a Lula não sendo suficiente sequer para atrair os votos refratários a Bolsonaro até aqui, parece fazer mais sentido que a reta final seja para tentar reforçar posição junto ao eleitorado lulista para ao menos diminuir o tamanho do prejuízo e, em consequência, limitar o estrago político de uma derrota folgada. Isso, claro se, diante da derrota iminente, Lula estiver mesmo disposto a reforçar a campanha na capital paulista. A vitória, se não houver fato novo relevante até o dia da eleição, está nas mãos de Ricardo Nunes.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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