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Traduzindo a política

Opinião|Troca de socos e greve no metrô impactam estratégia do PSOL de Boulos de passar imagem de moderação

Paralisação dá vitrine ao prefeito Ricardo Nunes e ajuda no discurso dos que defendem que partido de esquerda não tem vocação para o diálogo

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Foto do author Ricardo Corrêa

A estratégia do entorno do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) de neutralizar a imagem de radicalismo em razão da presença forte no movimento social pela moradia tornou-se ainda mais desafiadora nesta semana, após episódios de troca de socos em um congresso do partido em Brasília e da greve do metrô, na CPTM e na Sabesp, contra a proposta de privatização de serviços públicos em São Paulo. O argumento de que o PSOL é radical e incapaz de diálogo é exatamente o que tenta encaixar o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu principal aliado. Não por acaso, ambos enfatizaram isso nesta terça-feira, 3, em meio à greve. Tarcísio exaltou o diálogo com a prefeitura de Nunes, enquanto o prefeito afirmou que a culpa do sofrimento do cidadão é do PSOL.

O PSOL nunca entrou em uma eleição majoritária importante com chances reais de vitória, como tem agora na corrida eleitoral à Prefeitura de São Paulo. Boulos é líder nas pesquisas até o momento e tem como trunfo o fato de ser mais conhecido do que o principal rival, o prefeito Ricardo Nunes, que agora está começando a aparecer mais nos debates para a população comum. Se Boulos já fez campanha no ano passado na corrida ao governo de São Paulo, Nunes precisa muito mais de estar em evidência. E aí está o primeiro ponto de vantagem para o prefeito em toda essa história criada pelos metroviários que têm no comando do sindicato uma presidente filiada ao PSOL. É um presente para Nunes ganhar os holofotes contrapondo-se à greve como tem acontecido desde segunda e nesta terça no dia todo.

Greve no metrô e confusão no PSOL podem impactar campanha de Boulos, que busca passar uma imagem de moderado para atrair o eleitor médio em São Paulo Foto: Felipe Rau/Estadão

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Mas o pior efeito colateral da greve para o PSOL é justamente passar a ideia de que integrantes do partido podem abrir mão do diálogo e partir para uma mobilização direta mesmo sabendo que a população seria a mais prejudicada, como é no caso da greve. É bem mais fácil para o cidadão entender uma manifestação por aumento de salário, por exemplo, afinal todos querem ganhar melhor. No caso específico, porém, é mais complicado trazer a população para o seu lado considerando que, enquanto as linhas públicas param, as privadas continuam funcionando. Se os metroviários pudessem criar um mecanismo que mostrasse ao cidadão que as linhas públicas funcionam melhor que a privada, faria mais sentido. Como se deu, porém, faltou raciocínio político, aparentemente.

Agrava-se o fato de que a discussão sobre a privatização estava colocada na campanha eleitoral do governador. Portanto, não se trata de nenhuma novidade que ele queira agora colocar seus planos em discussão. É válido e até profícuo o debate sobre o que funciona melhor: se o serviço público ou o privado. É bem melhor discutir isso do que se o governo quer criar banheiros unissex ou se vamos virar um país comunista. Ocorre que a privatização não acontecerá amanhã ou depois. O debate ainda perdurará e, aparentemente, ainda que se concordasse com a pauta, não havia urgência suficiente que justificasse uma medida tão dura como parar os trens prejudicando os paulistanos.

Briga em congresso do PSOL também trouxe impacto negativo para a imagem da legenda às vésperas do marco de um ano da disputa eleitoral de 2024 Foto: Reprodução/X

Para o PSOL, é pior ainda que isso tenha se dado na mesma semana em que militantes da legenda tenham trocado socos em um congresso da legenda. Essa briga, isolada, é verdade, está dentro do contexto de uma guerra política entre o grupo de Boulos (vencedor na corrida ao comando do partido) e outro, minoritário, e que tem a deputada Sâmia Bonfim como uma das apoiadoras. Essa disputa, por si só, já tem potencial para prejudicar a campanha. Os sinais passados para o público externo, independentemente da posição de cada um sobre a greve, porém, só reforçam os argumentos de adversários. E Boulos terá agora que lidar com isso.

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Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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