O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), garantiu nesta quinta-feira, 20, que receberá o apoio do União Brasil na sua tentativa de reeleição em outubro — mesmo com a indicação do coronel da Polícia Militar (PM) Ricardo de Mello Araújo para vice na chapa pelo PL. O acerto teria sido avalizado pelo presidente nacional do partido, Antônio de Rueda, na casa do presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite.
Aliados, contudo, divergem sobre os termos acordados, que podem envolver tanto um apoio ao deputado federal Elmar Nascimento (União-BA) na disputa para suceder Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados quanto a manutenção do partido no comando do Legislativo municipal de São Paulo.
“Está tudo 100% alinhado e ajustado. Não existe nenhum ruído”, declarou o prefeito. “Escutei da boca do Milton Leite e do Rueda de que, se o PL fizer a indicação do coronel Mello, eles vão estar juntos”. O Estadão procurou ambos os líderes do União Brasil para comentar o assunto, mas não teve resposta.
O União Brasil era um dos focos de resistência ao militar como número dois na chapa. A artilharia contra o nome vinha sendo feita publicamente por Leite, que desde o começo do ano vinha se colocando como um dos cotados ao posto. O vereador declarou esta semana que o coronel não agrega votos e não cumpre o requisito básico para a posição, no entendimento do partido, que é dialogar com o eleitorado evangélico.
A notícia de que o União deseja o apoio à candidatura de Nascimento para o lugar de Lira foi divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo. O Estadão confirmou a informação. Segundo um interlocutor, a condição é que ao menos o MDB e o PL, que possuem 44 e 95 deputados, respectivamente, apoiem o deputado baiano. Em troca, o União Brasil retiraria a pré-candidatura a prefeito de Kim Kataguiri (União-SP) na capital paulista.
Outros partidos aliados de Nunes, como o PSD e o Republicanos, também têm candidatos a presidente da Câmara dos Deputados: Antônio Brito (PSD-BA), nome mais ligado ao governo, e Marcos Pereira (Republicanos-SP), este último presidente do partido do governador Tarcísio de Freitas e que participou do jantar no Palácio dos Bandeirantes na quarta-feira, 19. “Não procede. Pelo menos isso não foi tratado no jantar”, disse Pereira ao ser questionado sobre o pedido do União Brasil.
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Nunes também negou que o apoio do União Brasil tenha sido condicionado a votos do PL em favor de Elmar Nascimento. “Zero. Sequer foi tratado desse assunto. Todo mundo sabe que o Marcos Pereira é candidato lá (na Câmara). Ele me disse ‘prefeito, não dá para fazer essa conversa e não sei o quê’. E eu respondi: ‘com certeza, isso não entrará em hipótese alguma na conversa’ e não entrou. Até o União Brasil nem falou, mas, se falasse, eu não vou condicionar a questão do vice a nenhum tipo de acordo que não seja a gente poder trabalhar pela cidade”, afirmou o prefeito nesta manhã.
Já integrantes do PL em Brasília confirmam que ocorreram conversas para apoiar Nascimento, mas há dúvidas sobre a viabilidade do acerto diante da resistência dos deputados do partido a ele. Há quem interprete que nem mesmo uma ordem direta de Bolsonaro faria deputados ligados ao ex-presidente engolirem o cacique partidário do União, que é visto como um político que age com “truculência”. Tarcísio falará com o ex-presidente por videoconferência nesta quinta, 20.
Parlamentares relataram ainda que o compromisso envolveria a garantia a Milton Leite que ele terá apoio para eleger um aliado como presidente da Câmara Municipal a partir de 2025. Neste caso, porém, há resistência da bancada paulistana do PL. “Eles querem apoio na Câmara dos Deputados e também já estão pensando na Câmara Municipal. Aí tem que saber quem vai se eleger como vereador, o tamanho da bancada que o União vai fazer. A eleição tem que ser construída. Se o PL fizer a maior bancada, o PL terá candidato a presidente”, disse o vereador Isaac Félix (PL), líder do partido na Casa. “Ainda vai passar muita água debaixo dessa viaduto”.
Há uma terceira versão nos bastidores, de que o acordo é exclusivamente municipal. O prefeito teria aceitado a continuidade do União Brasil no comando da Câmara Municipal de São Paulo, de forma a superar o entrave pelo coronel Mello. Milton Leite diz não ter a intenção de concorrer a um novo mandato e, caso realmente não vá às urnas, cederia o lugar a um aliado na próxima legislatura, em 2025.
O vereador tem feito campanha para Silvio Antonio Azevedo, o “Silvão Leite”, chefe de gabinete e presidente da escola de samba Estrela do Terceiro Milênio, e Silvio Ricardo Pereira dos Santos, o Silvinho, chefe de gabinete da subprefeitura de M’Boi Mirim, na zona sul da capital paulista. Milton Leite também tem demonstrado proximidade com o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), que atualmente é corregedor da Câmara Municipal.
Apesar do suspense mantido por Nunes, o nome do coronel Mello deve ser anunciado como vice por ele e o governador Tarcísio até esta sexta-feira, 21. Os dois têm uma agenda conjunta no Jardim Ângela, para anúncio das obras do metrô. A definição foi feita durante o jantar no Palácio dos Bandeirantes, organizado por Tarcísio e com presença dos dirigentes partidários das 11 siglas da futura coligação — exceto o União Brasil, que ainda não embarcou oficialmente no grupo.
O apoio do partido a Nunes elimina de vez a pré-candidatura do deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), que havia sido escolhido em uma espécie de “prévia” do Movimento Brasil Livre (MBL) e dependia de uma decisão mais ampla nas convenções partidárias, entre julho e agosto. Kataguiri não decolou nas pesquisas: marcou 4% no levantamento mais recente do Datafolha, empatado em quinto lugar com Marina Helena (Novo) e atrás dos recém apresentados José Luiz Datena (PSDB) e Pablo Marçal (PRTB).
Procurado para comentar o suposto acerto com Nunes, o deputado Kim Kataguiri disse que não recebeu a informação e alegou que o prefeito não conversou com Rueda. / COLABOROU LEVY TELES
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