O prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), deve encontrar menos resistência para aprovar projetos na Câmara Municipal. Segundo levantamento do Estadão realizado com os 55 vereadores eleitos, sua base aliada pode chegar a 30 parlamentares. A oposição ocupa 15 cadeiras, enquanto 10 integrantes do Legislativo se declararam independentes. Entre estes estão Rubinho Nunes (União) e Sargento Nantes (PP), ambos apoiadores de Pablo Marçal (PRTB) no primeiro turno, contrariando as orientações de seus partidos.
Nomes como Tripoli (PV), Marina Bragante (Rede) e Eliseu Gabriel (PSB), de siglas que estavam coligadas ou que declararam apoio à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) durante a disputa, também se declararam como “independentes”.
O cientista político e coordenador do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) Vinicius Alves avalia que a bancada nunista pode garantir ao prefeito reeleito boas condições de transitar no Legislativo. “Se incluirmos os independentes, que podem se alinhar às proposições de interesse do Executivo sem muitas amarras, teríamos mais de 70% das cadeiras da Câmara sem nenhuma possibilidade antecipada de se opor aos projetos do prefeito”, pondera.
O restante da Casa, que se declara como oposição, no entanto, indica que Nunes deve “enfrentar forte cobrança no segundo mandato”, na opinião de Alves.
Em entrevista anterior ao Estadão, o vereador André Santos (Republicanos) avaliou que Nunes poderá enfrentar mais desafios à governabilidade nesta nova gestão, devido ao perfil mais independente de muitos dos eleitos — ao menos 10, segundo o levantamento feito pela reportagem.
“Teremos uma presença maior da extrema direita na Casa e vereadores que tendem a agir de forma mais autônoma, como o Lucas Pavanato (PL) e a Janaína Paschoal (PP)”, disse. “Eu acredito que a relação vai ser projeto a projeto, diferente do que foi nos últimos quatro anos. Além da oposição, foi eleita uma quantidade significativa de vereadores independentes”, acrescenta.
João Jorge (MDB), por sua vez, avalia que o prefeito terá uma margem tranquila para aprovar a maioria das suas propostas. “95% dos projetos apresentados a gente passa com 28 votos. As exceções são projetos de mudança de zoneamento ou do Plano Diretor, que ora precisam de 33, ora de 37 votos. Aí temos que conversar com a oposição”, explica o vereador.
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Tanto as lideranças da Câmara quanto os aliados de Nunes expressam incertezas sobre como será a relação da Prefeitura com a Casa após a saída de Milton Leite. O vereador do União Brasil, que ocupa seu quarto mandato consecutivo como presidente da Câmara, é um importante aliado de Nunes e exerce grande influência nas votações.
Para correligionários do prefeito, dificilmente o próximo presidente da Câmara terá tanto controle sobre os vereadores, o que pode adicionar uma dose extra de dificuldade à relação entre o Legislativo e o Executivo municipais. Existe ainda a possibilidade de as emendas parlamentares se tornarem impositivas, reduzindo o espaço para negociar a liberação de verbas em troca de apoio a projetos.
Antes cotado para assumir a presidência da Câmara, Rubinho perdeu força após “trair” seu partido ao apoiar a candidatura de Marçal durante a campanha. Agora, o nome mais forte para liderar a Casa é o de Ricardo Teixeira (União), que se declarou integrante da base aliada de Nunes e deve ser indicado por seu correligionário e atual presidente Milton Leite.
Em entrevista ao Estadão, o prefeito reeleito vetou o nome do vereador para presidir a Casa, afirmando que o cargo exige uma pessoa com “caráter”. “Não será o Rubinho Nunes”, enfatizou. Ainda assim, o parlamentar do União disse ter respeito pelo chefe do Executivo municipal e sinalizou que pretende tentar uma reconciliação com o emedebista.
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A autodeclaração de Rubinho como vereador independente, e não da base aliada governista, no entanto, pode dificultar os planos para sua tentativa de reaproximação de Nunes. Sargento Nantes (PP), outro nome que decidiu apoiar Marçal e não seguir a indicação do partido de apoiar o emedebista, também se declarou “independente”. O parlamentar do PP indica que “não olhará” a autoria dos projetos na Câmara, mas sim o conteúdo. “Projeto bom para a população de bem não pode ser barrado por guerra ideológica”, disse.
Não responderam ao levantamento ou não quiseram participar: Ana Carolina Oliveira (Podemos), André Santos (Republicanos), Danilo do Posto de Saúde (Podemos), Dr. Murillo Lima (PP), Ely Teruel (MDB), Kenji Palumbo (Podemos), Major Palumbo (PP), Pastora Sandra Alves (União), Renata Falzoni (PSB), Rute Costa (PL), Sandra Santana (MDB), Sansão Pereira (Republicanos), Thammy Miranda (PSD) e Zoe Martinez (PL).
Quando questionado se seria apoiador, opositor ou independente da gestão de Nunes da Prefeitura de São Paulo, o vereador eleito Adrilles Jorge (União) afirmou que está mais próximo do que distante do governo. “Eu serei a base da minha consciência política e social, independente de imposições opressivas e oposição ao que perceber que não seja interessante para a cidade”, disse. Ele, no entanto, não respondeu objetivamente à questão e não teve a resposta considerada para o levantamento.
Dos 55 vereadores eleitos, 40 responderam à reportagem. A classificação entre “provável base” e “provável oposição” foi feita com base no alinhamento partidário dos parlamentares com o prefeito Ricardo Nunes durante a eleição. Dessa forma, partidos coligados ao emedebista foram incluídos como “provável base”, por exemplo.
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