Rússia é o agressor, e Ucrânia deve receber apoio internacional, diz líder romeno em almoço com Lula

Recebido em Brasília, o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, destoou de declarações recentes do anfitrião brasileiro a respeito da guerra; petista afirmou que democracias ocidentais deveriam parar de prover armas a Kiev

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Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - Anfitrião de uma visita de Estado ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu nesta terça-feira, dia 18, um duro recado do presidente da Romênia, Klaus Iohannis, que destoou de declarações recentes do petista a respeito da guerra na Ucrânia. O romeno disse, durante almoço no Itamaraty, que a comunidade internacional tem o dever de ajudar a defesa ucraniana e que a Rússia deve ser claramente identificada como “agressora”.

Nos últimos dias, Lula disse mais de uma vez que os Estados Unidos e a União Europeia, fornecedores de armas e recursos para a defesa militar ucraniana, incentivam a continuidade da guerra. Segundo Lula, essas democracias deveriam parar de enviar armamentos. O petista colocou em posição de equivalência as responsabilidades dos presidentes da Ucrânia, Volodmir Zelenski, e da Rússia, Vladimir Putin, pela ausência de fim para o enfrentamento bélico.

Os presidentes Lula e Iohannis brindam durante almoço no Itamaraty, em Brasília - REUTERS/Ueslei Marcelino Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

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Diante de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e boa parte da cúpula do Ministério das Relações Exteriores, o presidente romeno pregou uma postura “implacável” na defesa da Ucrânia, país que definiu como “vítima da agressão russa”. Ele disse que a Rússia violou a Carta das Nações Unidas e que “todos os efeitos negativos dessa agressão global são consequência direta de sua ação, contrária ao direito internacional”.

“A mensagem da Romênia é clara, forte e deve ser compreendida por nossos parceiros: por mais que Moscou tente justificar suas ações, a Rússia é um Estado agressor, que violou à força a soberania territorial da Ucrânia e tentou anular sua independência”, disse o presidente romeno, durante almoço em sua homenagem, oferecido por Lula, no Itamaraty. “A comunidade internacional tem o dever de apoiar a Ucrânia para repelir a agressão e vencer esta guerra para libertar o país.”

As falas de Klaus Iohannis não foram veiculadas ao público brasileiro ao vivo. A TV Brasil, emissora oficial, interrompeu a transmissão da cerimônia logo após o brinde oferecido por Lula, antes que o chefe de Estado romeno começasse a discursar. O Estadão obteve a versão de seu discurso transcrita e gravada posteriormente.

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A Romênia é um país vizinho à Ucrânia e sofre diretamente as consequências humanitárias e econômicas da invasão unilateral, deflagrada em 24 de fevereiro de 2022, por ordem de Vladimir Putin. A fronteira entre os países tem cerca de 600 quilômetros. Até mesmo cidadãos brasileiros que viviam na Ucrânia escaparam da guerra por meio de gestões consulares e diplomáticas com auxílio da Romênia, que facilitou o escape por seu território.

O país é membro da membro da União Europeia, desde 2007, e integra a aliança militar Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), cuja expansão Putin tenta frear - o que serviu de alegação para invadir a Ucrânia e bombardear Kiev.

“A Romênia continuará implacável em apoiar a Ucrânia, e qualquer apoio à segurança da Ucrânia é, de fato, apoio à segurança da Romênia e de seus cidadãos”, afirmou o presidente do país no Leste Europeu.

O romeno usou uma linguagem enfática ao abordar sua visão para o conflito, com termos que costumam ser rejeitados, por sensibilidades políticas, interesses econômicos e geopolíticos, pela diplomacia nacional. Ele falou, por exemplo, em uma “guerra de agressão lançada pela Rússia contra a Ucrânia”. O governo brasileiro costuma usar termos mais amenos, como “conflito” e até “crise”, para se referir ao enfrentamento bélico, e prega que as preocupações dos dois lados devem ser consideradas.

O presidente Lula recebera na véspera, no Palácio da Alvorada, sua residência oficial, o longevo chanceler russo Sergei Lavrov, homem de confiança de Vladimir Putin. Sem nenhum reparo do lado brasileiro, o ministro russo afirmou que Brasil e Rússia partilham da mesma visão sobre o conflito. Lavrov usou uma palavra específica em russo, para a qual não existe tradução literal em português, mas que em inglês foi entendida como “alinhamento”, por parte de diplomatas dos Estados Unidos.

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Durante o almoço, Lula não citou a Rússia, mas abrandou o tom adotado nos últimos dias e voltou a dizer ontem que Brasil “condena” a violação territorial da Ucrânia. Lula sofreu forte pressão e cobrança nos Estados Unidos e na Europa, para que se posicionasse explicitamente sobre a guerra iniciada por Moscou.

“Ao mesmo tempo em que meu governo condena a violação da integridade territorial da Ucrânia, defendemos uma solução política negociada para o conflito”, afirmou Lula.

O presidente falou de forma mais protocolar. Leu um discurso elaborado por sua assessoria especial no Palácio do Planalto. O presidente percebeu a ampla reação negativa no exterior a suas entrevistas recentes, sobretudo em países que são parceiros comerciais e tradicionais importantes.

Um embaixador disse que Lula “voltou ao eixo” da posição manifestada por seu próprio governo antes, nas Nações Unidas. O Brasil condenou a violação territorial na Ucrânia, se opôs a sanções contra Moscou e propôs a montagem de uma comissão negociadora, popularmente chamada de “clube da paz”.

Os dois presidentes avaliaram as consequências da guerra, sobretudo na questão de refugiados da crise energética e na escassez de alimentos. Lula voltou a propor de forma urgente a reunião de países que tentem levar russos e ucranianos à mesa de negociação, para selar a paz e cessar-fogo.

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