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Sabatina Estadão: Datena rejeita nova candidatura e diz que cadeirada freou agressão; acompanhe

Candidato do PSDB se recusou a citar nominalmente Pablo Marçal e disse que não foi o agressor, mas sim o agredido pelo ex-coach

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Foto do author Pedro Augusto Figueiredo
Atualização:
Foto: Werther Santana/Estadão
Entrevista comJosé Luiz Datenacandidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo

O candidato José Luiz Datena (PSDB) indicou nesta quinta-feira, 26, em sabatina promovida pelo Estadão que não disputará novas eleições caso não seja eleito prefeito de São Paulo. Ele disse que escolheu a eleição errada para disputar e que seu “grande sonho” era ser candidato ao Senado, mas ponderou que não se candidata novamente “nem a presidente de time de botão”.

“Eu sou um candidato que participa pela primeira vez e entrei diretamente numa disputa majoritária de uma das maiores cidades do mundo. Talvez tenha sido esse meu erro. A minha intenção era começar pelo Senado. Talvez até começar como vereador para aprender o linguajar político e poder passar as ideias”, disse Datena, que avalia o primeiro debate, na Band, como o ponto de virada de sua candidatura. Até aquele momento ele aparecia no pelotão de frente nas pesquisas eleitorais.

“O comunicador não apareceu e, por consequência, as ideias do candidato ficaram em segundo plano”, avaliou. “Mas considero que ainda assim tenho uma chance de ter votação expressiva na urna”, completou.

Datena se recusou a citar nominalmente Pablo Marçal (PRTB), em quem deu uma cadeira durante um debate após ter sido chamado de “jack”, gíria utilizada nas prisões para estuprador, o chamou de “figura nefasta” para a democracia. Ele voltou a dizer que não repetiria o ato, mas que foi a única maneira encontrada para interromper uma agressão.

Candidato a prefeito de São Paulo, José Luiz Datena (PSDB), durante sabatina no Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

“Eu não fui o agressor, fui o agredido”, disse. “Eu não me arrependo do ato que tive para parar o agressor. Um cidadão de 67 anos, com cinco filhos e seis netos, eu acho até que esperei muito tempo. Tentei responder de uma forma civilizada. Ele continuou com os ataques e aí eu não vi outra maneira a não ser tomar aquela atitude”, justificou.

Leia a entrevista na íntegra:

Gostaria que fizesse uma análise de toda essa campanha, agora que estamos chegando ao final. As pesquisas não têm ajudado muito o senhor.

Claro que eu não vou meter o pau em pesquisas. De jeito nenhum. Quando eu saí em primeiro lugar nas pesquisas, eu comemorei. Você se lembra muito bem. Foi antes do primeiro debate da Band, onde o comunicador não apareceu e, por consequência, as ideias do candidato ficaram em segundo plano.

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Agora é diferente. Eu sou um candidato que participa pela primeira vez de uma eleição e entrei diretamente numa posição de candidato em uma disputa majoritária de uma das maiores cidades do mundo. Talvez tenha sido esse o meu erro. A minha intenção era começar pelo Senado, ou talvez até como vereador, para aprender o linguajar político e poder passar as ideias que você passa.

Eu tive dificuldade em me colocar perante o relógio do debate. Eu não estou acostumado a falar um minuto, responder em dois minutos, réplica, tréplica ou coisas parecidas. Aquilo me atrapalhou demais. Eu falo três horas e meia sem parar, com ninguém me interrompendo. Duas horas no rádio, com pouca gente me interrompendo. Isso me atrapalhou. Talvez eu tenha escolhido a eleição errada. Por isso eu disse que escolhi a eleição errada. Foi a eleição mais difícil dos últimos tempos, e eu não estava preparado para comunicar as ideias políticas que eu teria que colocar. Mas cheguei a ficar em primeiro lugar.

Por isso que dizem: engenheiro de obra pronta. Tem gente que fala demais: “a internet superou a televisão e o rádio”. Não é verdade. Isso não é verdade, porque está tudo em conversão com o ambiente só, com todo esse prédio monstruoso.

O candidato a prefeito de São Paulo, José Luiz Datena (PSDB), durante sabatina no Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

É uma honra estar aqui no O Estado de São Paulo. Eu sempre passava pela Marginal e queria um dia entrar aqui. Hoje, eu matei essa vontade. É mais um sonho que eu realizo na minha vida. Mas essa dificuldade de transformar a linguagem que eu sempre tive como jornalista, com liberdade total de tempo, principalmente para discorrer sobre os assuntos, me afetou.

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Apareceu uma figura nefasta que atrapalhou completamente os caminhos da democracia. O cidadão que veio não trouxe uma linguagem diferente. Porque a internet é uma coisa maravilhosa. Tem pessoas geniais na rede social. Do mesmo jeito que tem canalhas, bandidos, idiotas, imbecis, tem gente genial. A maior parte da internet é muito legal, é muito bacana. Eu acho que a internet vai destravar boa parte dos 3% que a gente utiliza no nosso cérebro.

Acho que a máquina tem que ser usada desde que ela não tome o lugar de gente que precisa de emprego nesse país. Faltou uma conclusão: porque quando houve a primeira pesquisa, eu não tinha participado do debate na Band. Então, quando o cara falou assim,’ah, na internet o cara parece melhor que o cara da televisão’, não é verdade. Porque na primeira pesquisa não tinha tido debate.

Eu apareci com 14% no Datafolha, ao lado desse cidadão. Me permito não falar o nome, nem quero falar o nome. Ele tem nome, mas os nomes são muito pesados para que eu os use aqui, em uma entrevista como esta, democrática e respeitosa.

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”Sou um candidato que participa pela primeira vez de uma eleição e entrei diretamente numa posição de candidato em uma disputa majoritária de uma das maiores cidades do mundo. Talvez tenha sido esse o meu erro.”

José Luiz Datena, candidato do PSDB

Os caras estão dizendo que, de repente, a internet é superior à televisão. Ninguém é superior a ninguém. Mas antes daquele debate em que eu não fui bem na Band, eu apareci com 14%, ao lado desse cidadão, na pesquisa da Folha. Já na próxima pesquisa, que foi dois meses anterior ao debate da Band, eu estava em primeiro lugar: o Ricardo Nunes com 20%, e eu e o Boulos com 19%, na pesquisa da Quaest.

Então o senhor não se arrepende absolutamente daquele ato, da cadeirada?

É claro que eu me arrependo do ato, não há dúvida. O que eu quis dizer, ao afirmar que não me arrependo, foi que precisava parar uma série de agressões. Eu não fui o agressor; fui o agredido ali. Fui chamado de estuprador para todo mundo ouvir. O que você faria em um momento como esse? Eu tentei manter o pragmatismo e a fleugma, e a condição do que eu considero um gesto democrático, respondendo de maneira pragmática, explicando que era um assunto que foi investigado e arquivado pelo Ministério Público, e que era um factoide. Isso faz seis anos, é um factoide, é uma calúnia. Eu realmente não respondo por isso, porque nem a polícia, nem o Ministério Público, nem a Justiça encontraram fatos naquele detalhe.

O que me custou muito, pessoalmente, já citei: o caso da minha sogra. Anos antes, minha mulher tinha sido atacada por um violentador em Ribeirão Preto, um dos piores que havia na região. Ela conseguiu se desvencilhar dele, mas o sujeito a pegou pelo braço, jogou-a no chão, entendei? E quase cometeu o crime terrível que estava prestes a cometer. Foi quando apareceram populares que ajudaram a dominar o cidadão, que foi preso. Ela ficou dois dias no hospital. Minha sogra morreu muito por causa disso, por causa de um AVC, três AVCs, que ela teve depois dessas notícias que não eram verdadeiras. Depois, provou-se que eu era completamente inocente e que não tinha nada a ver com essa situação.

Eu não me arrependo do ato que cometi para parar um agressor. Como cidadão de 67 anos, com cinco filhos e seis netos, acho até que esperei muito tempo; tentei responder de forma civilizada a esse cidadão. Ele continuou com os ataques, e aí eu não vi outra maneira a não ser tomar aquela atitude. Faria de novo? Claro que não. De jeito nenhum. Mas repito que fui o primeiro a ser agredido de uma forma que dificilmente alguém é agredido. Não é questão minha, não é questão de machismo ou coisa parecida. É uma questão que meu pai me ensinou, desde pequeno, que tenho que responder pela minha honra e pela honra da minha família, principalmente diante de ataques mentirosos. Eu estou na paz do inocente, respondendo a uma agressão naquele fato. Foi lamentável? Foi. Não faria de novo? Talvez não, mas não sei se não faria de novo, porque fui atacado de uma forma muito vil para me segurar ali.

O senhor fala muito sobre escola em tempo integral, e São Paulo realmente está atrás de várias capitais em quantidade de alunos no ensino integral. Qual é a sua meta para isso?

A meta é a meta nacional. A meta é de 25% de escolas integrais, e esse prefeito entregou 17%, se muito. [Proponho] Escola em tempo integral,[ mas] uma escola em tempo integral de verdade, com a criança bem alimentada, bem protegida e, principalmente, alfabetizada.

A ideia é que, nesse tempo extra na escola, as crianças adquiram conhecimento. Um país que não dá conhecimento às suas crianças não cumpre sua obrigação. Nós temos a promessa de entregar a criança alfabetizada às famílias por volta dos sete anos de idade, o que seria o ideal. Acho difícil, dada a situação de São Paulo hoje, mas entre sete e oito anos de idade, preferencialmente aos oito, com as possibilidades que temos hoje.

Você sabe quanto a prefeitura gasta por aluno? R$ 22 mil. O Ceará, que está muito à frente da gente, gasta R$ 5 mil. O Rio de Janeiro melhorou muito e gasta R$ 8 mil. Goiás também está na frente da gente.

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Quantos professores seriam contratados para as escolas integrais e quanto isso significaria em termos de recursos?

Eu preciso entrar na Prefeitura para saber o tamanho do buraco que existe. Não adianta conjecturar e entregar promessas que não cabem dentro do plano de governo.

Nosso plano de governo é muito fraco. Ele teve que ser feito às pressas para que eu fosse candidato. Isso é regimental. Para ser candidato, você precisa ter um plano de governo. Eu fui o penúltimo candidato homologado, e não havia nem essa intenção. A intenção era que eu fosse vice da Tabata mesmo estando no PSDB. Como foi uma coisa de última hora, o plano de governo, apesar de contar com a participação de pessoas muito capacitadas, não foi o ideal. Não é o plano de governo que queremos. Mas isso é perfeitamente contornável porque é mutável.

José Luiz Datena participa de sabatina do Estadão com os candidatos à Prefeitura de São Paulo Foto: Werther Santana/Estadão

Estou aprendendo muito mais nas ruas, com o povo. O que eu mais aprendi nessa campanha foi ter contato com a população. Acho que o prefeito de São Paulo tem a obrigação, ele tem helicóptero, e os caras usam helicóptero para ficar voando à toa. Pelo menos uma vez por dia, você pode pegar um helicóptero e ir para os extremos dos extremos da cidade, que é onde está a periferia da periferia, e ouvir o povo. O povo é sábio e te dá soluções que muitos técnicos não conseguem resolver. Por que não conseguem? Porque não moram lá, não fazem 30 anos que estão dentro de uma enchente, não moram em locais que nunca viram o que é saneamento básico, não sabem o que é uma galeria de esgoto, não sabem o que é faltar uma escola, principalmente escolas técnicas.

Dentro da sua perspectiva e da pergunta, essa educação tem que incluir alimentação pelo menos cinco vezes por dia. Acho isso fundamental. Muitas crianças, infelizmente, no Brasil, por causa da insegurança alimentar, vão às aulas não para aprender e estudar, mas para comer. É o único momento que elas têm para comer.

Eu ganhei um prêmio Herzog de jornalismo de direitos humanos faz uns 30, 40 anos na TV Globo, quando diziam que Ribeirão Preto era a Califórnia brasileira. O professor da faculdade de medicina conceituadíssima desde aqueles tempos de Ribeirão Preto, o professor Dutra, me chamou e falou: “Datena, essa história de Califórnia brasileira é uma falácia. A maioria das crianças que nascem aqui em Ribeirão Preto morrem antes de um ano ou dois anos de idade. E de fome”. E dessa matéria que eu fiz, eu já me lembro daqueles portões grandes. Os portões que têm nas escolas, durante o período da merenda, a molecada ficava em cima do portão passando maçã, passando parte da merenda para a família que ia comer parte da merenda em casa, o irmãozinho, a irmãzinha. Tem que ter educação em todos os sentidos. É o ponto fundamental.

Você tem que começar desde a educação infantil com duas horas a mais de creche ao preço de R$ 550 milhões, é pouco para uma cidade rica como São Paulo. Tem que ter duas horas a mais de creche. As mães se viram nos 30 para chegar até a creche para pegar os seus filhos. Tem que ter uma pré-escola bem realizada, organizada. E no ensino básico é fundamental educar essas crianças com segurança. Você tem que ter patrulha da GCM no entorno dessas escolas para impedir, como acontece muitas vezes na vida real, não no metaverso, mas na vida real, de traficantes dominarem o entorno da escola, dominarem até dentro da escola… tem tráfico dentro da escola, a gente já mostrou isso várias vezes.

Tem que ter, se possível, o apoio do Estado para, além da GCM, você ter a Polícia Militar ajudando. Mas o básico é você alimentar a mente da criança, alimentar a criança e [oferecer] todo tipo de esporte, não é só futebol. Os períodos que houver para a criança praticar algum esporte, seja ele futebol, é um projeto dos cinco anéis. Esportes olímpicos, porque dentro de escolas, principalmente na periferia, você vai achar muito talento que pode ser explorado. Isso é fundamental.

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Repito, é a base de qualquer estrutura social, é a base de qualquer País, é a base de qualquer cidade, é a educação. Sem educação você não vai a lugar nenhum, mas isso tem que ser como era na minha época, quando o ensino público era muito melhor que o ensino particular. Só ia para o ensino particular o cara que não passava o ensino público, ia lá para passar de ano e comprava o diploma, como a gente dizia. Nós vamos fazer exatamente o contrário. A escola é a extensão do lar que a criança precisa ter, é o carinho que a criança precisa ter, mas precisa ter educação, precisa ter saber e precisa ter alimentação, esporte e coisas que tais.

O que o senhor pretende fazer para tentar diminuir a quantidade de mortes no trânsito aqui em São Paulo? No ano passado, a cidade registrou um recorde no número de mortes no trânsito. Quase metade das mais de 900 mortes foram justamente motociclistas e entregadores. O que seria a solução? Seria diminuir a velocidade? Aumentar o número de radares? Educação?

As campanhas educacionais são fundamentais. Tem que começar na escola. E as campanhas que o Ricardo não fez... Você sabe quanto é arrecadado de multa por dia na cidade de São Paulo? 4 milhões de reais. Sabe quanto ele investiu em campanhas? Tipo aquelas: “Não use o seu carro como uma arma”, “a vítima pode ser você”,”se beber, não dirija”. Sabe quanto que ele usou dessa verba toda? Sabe quanto que ele arrecadou durante a administração dele em multas? E multas, às vezes, absurdas. De um cara que tomou multa por capacete e nunca teve uma moto na vida. Tomou multa de cinto e nunca teve um cinto na vida. “Ah, não, você paga 40%”. Vou pagar 40% para uma coisa que eu não cometi? É uma indústria da multa. As campanhas educacionais são fundamentais e têm que começar a partir da escola. O saber é importante para o País, para uma cidade, de uma forma absoluta.

Só a campanha resolve? Claro que não. Evidente que não. Você acha que o cidadão que enche a cara... Por isso que eu sou contra essa história de homicídio culposo para quem bebe e pega um carro que pesa toneladas e mata uma pessoa. Homicídio sem intenção de matar? Como? A probabilidade maior de você bêbado, de você sob efeito de droga, o álcool é uma droga pesada que a sociedade admite de uma forma canalha até. Você acabou com publicidade de cigarro porque mata as pessoas de câncer? Por que você não acaba também com a publicidade bebida? Eu falei isso na televisão uma vez que queriam me mandar embora no outro dia. Mas é porque é uma coisa cínica. Entendeu?

Candidato a prefeito de São Paulo, José Luiz Datena (PSDB) participa de sabatina no Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

Então, não há possibilidade de você deter um cara que está completamente bêbado, como aquele cara da Porsche, que eu fui o primeiro cara a pegar no pé dele e dizer que esse cara tem que ser denunciado por homicídio doloso com intenção de matar. O cara enche a cara, como aquele deputado de Curitiba, que ninguém ouviu falar mais, tomou vinho para caramba, pegou um carro e decapitou duas crianças com o carro blindado dele.

Então, um cara bêbado não vai respeitar realmente radar nenhum. Bandido, mesmo com o detecta, não vai respeitar. Fugindo da polícia, em roubo… para isso é o poder de polícia. Tem que ter mais blitz, tem que ter mais polícia na rua, principalmente em horários de madrugada, onde os caras saem completamente bêbados.

Mais marronzinhos (agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego) também?

Marronzinho, mas que sejam utilizados não para aplicar multas só. E multas, às vezes, que não existem. Mas que realmente possam notificar imediatamente uma patrulha de polícia que tem um cidadão passando a 200 quilômetros por hora de madrugada nas marginais. Funcionava mais do que radar. Não que eu seja contra radar, tem que ter radar. Eu não quero é que aumente o número de radares. Mesmo porque a maioria desses radares que tem aí está quebrado. Eu não sei como é que a multa chega.

Você quer ver um exemplo de indústria da multa? Eu pedi, até hoje não recebi da Prefeitura do Ricardo, em momento nenhum, um levantamento de quanto eles aferiram durante a pandemia de multas. Porque ninguém andava de carro. Tinha gente trabalhando de charrete ou a pé. Porque era pandemia. Ninguém andava de carro. As pessoas deixavam o carro em casa. Primeiro porque não tinham dinheiro para pagar, essa paridade do petróleo da Petrobras arrebentou. Não me passaram em nenhum momento quanto aferiram de multa durante a pandemia.

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É uma perspectiva orçamentária. Deixou de ser uma coisa educativa para ser orçamento. O cara fala lá: “vamos faturar esse ano R$ 12 bilhões”. E é aquilo ali. Simplesmente para cobrir buracos, tapar buracos de outros setores da prefeitura, literalmente. Eles não investem em nada. Você é obrigado, pela lei, a investir pelo menos 5% no leito carroçável, que são as camadas asfálticas.

Calçada. De um milhão e meio de metros quadrados de calçadas que a prefeitura, o Bruno, prometeu entregar… “Ah, mas a calçada quem tem que pagar é o dono da casa”. Uma ova. O dono da casa já paga IPTU, já paga luz, já paga água. Como é que ele vai pagar a calçada também? Tem que ser responsabilidade da Prefeitura. Isso foi promessa do Bruno Covas. O cara não cumpriu metade da entrega de um milhão e meio de calçadas, de metros quadrados de calçadas. O que significa que tem muita gente andando no meio da rua. Porque o cara não vai andar na calçada, principalmente a pessoa que tem necessidades especiais, cheia de buraco. O cara não vai andar. Tem lugar que não tem calçada mesmo. A calçada foi levada pela última enchente.

Então, educação em primeiro lugar, desde o princípio, desde o período escolar; usar os radares com as mesmas velocidades, eu não acho que precisa aumentar a velocidade, “acelera São Paulo” ou “desacelera São Paulo”. Não. Tem que ter o radar, tem que ter punição para quem comete multa. Mas eu lembro, mais uma vez, que o sujeito bêbado não vai ser parado pelo radar. Ele bêbado, ele vai embora. Ele vai a 200 quilômetros por hora e daí por diante.

Aí onde entra? Entra no aspecto dos nossos deputados e senadores. Temos que forçar a barra dos nossos deputados e senadores aqui de São Paulo para tornarem a lei mais pesada, botar o cara na cadeia mesmo. O que para esse tipo de gente que mata pessoas na rua todo dia é lei. Esse caso da Porsche foi uma coisa inadmissível. A polícia não tinha bafômetro. O cara estava sendo liberado, o bombeiro chegou e falou assim: “espera um pouquinho”. O cara está sendo liberado porque a mãe pediu para levar para o hospital e era mentira. E esse cidadão estava bêbado. Ele saiu cambaleando. E o rapaz morreu, infelizmente, numa madrugada, num feriado em que ele foi para casa muito tarde, porque ele estava na rua tentando ganhar dinheiro para alimentar a família.

Qual seria a função exatamente da Guarda Municipal para que não haja um trabalho igual ao da Polícia Militar? Como é que ficaria essa divisão de tarefas?

A campanha tem me ensinado que, primeiro, nesses últimos anos, eu deveria ter saído mais do estúdio e ter conversado mais com as pessoas. Talvez pela minha idade avançada, eu devia ter feito isso antes. Mas dá tempo ainda, porque na rua você aprende tanta coisa. Então, determinados olhares que você tem sobre a segurança pública, sobre saúde, educação, mudam completamente numa frase de um morador ou uma coisa parecida.

Eu estive na Associação dos Policiais Civis conversando com o doutor André, que me disse o seguinte. Porque acham que eu, prefeito de São Paulo... “Ah, mas Datena, você está falando de ser prefeito de São Paulo? Você podia falar quando você estava lá em cima nas pesquisas”. Bom, pesquisa, eu não vou meter o pau em pesquisa, porque já disse e repito: quando eu saí em primeiro lugar, eu comemorei. Agora que eu estou em quinto lugar, sexto lugar... Tudo dentro da margem de erro junto com a Tabata. Eu também não vou meter o pau em pesquisa. Mas se pesquisa fosse resultado de eleição, para que que ia ter dia da votação? Não ia ter eleição. De repente, as pessoas podem ter uma surpresa.

Não sei se com o número de votos para ser eleito prefeito de São Paulo. Mas o que eu observo nas ruas é uma coisa impressionante quando vou às periferias. Talvez seja pelo fato de que a pessoa me admire como apresentador, mas não queira votar em mim.

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Não acredita em mim como administrador. Mas é impossível: eu ando 30, 40 metros e de repente sou parado, beijado, abraçado e não mudou nada desde o começo da campanha.

Mas e a segurança pública?

Eu ia chegar lá. O doutor André me falou que está tendo uma dificuldade muito grande no setor de inteligência. Ele diz que hoje a carência da polícia em termos de investigação, que é a função da polícia (é grande).

Não sei se você concorda comigo, mas você não pode, de repente, transferir investigação para a Polícia Militar, para outros setores. É a Polícia Civil. Senão ela, de repente, não existe mais. A Polícia Militar tem que fazer o papel de polícia e vem fazendo, na maioria dos casos, muito bem. Com as câmeras corporais funcionando, às vezes até defendendo o policial de possíveis crimes que ele ia responder, mas também acontece o contrário. Quem comete crime tem que pagar, usando farda ou não.

Mas o doutor André me disse o seguinte: esse detalhe da inteligência que você fala, de fazer dentro da GCM um setor de inteligência mais forte, vai nos ajudar. Qual é o policial que está mais próximo da população? É o GCM. Eles têm mais facilidade para conversar com a população. Se eu puder ajudar, mesmo que minimamente, uma polícia que está precisando melhorar a investigação...

Qual é o policial que está mais próximo da população? É o GCM. Eles têm mais facilidade para conversar com a população. Se eu puder ajudar, mesmo que minimamente, uma polícia que está precisando melhorar a investigação...

José Luiz Datena, candidato do PSDB

Eu tenho certeza que o Tarcísio vai melhorar isso. Porque ele sabe, hoje em dia, crime organizado não troca tiro com polícia, à exceção de atos tresloucados, de atos desesperados, de novo cangaço, que melhorou muito com a criação dos BAEPs (Batalhões de Operações Especiais), a tropa de resposta rápida, que eu pretendo também colocar dentro da GCM.

Mas fortalecer esse setor de inteligência para trabalhar em conjunto com a Polícia Civil, com a Polícia Militar e, em alguns casos, cidades que trabalham com a Polícia Federal por causa do tráfico de drogas.

Então, eu como prefeito de São Paulo, o cara acha que eu vou sair distribuindo fuzil para 14 mil homens, a GCM tem sete mil, pode ter 14 mil, a um custo de R$ 900 milhões, acho que vale a pena e cabe dentro do orçamento. ‘Ah, mas o orçamento de R$ 1,5 bilhão’. Remaneja de outro lugar para cá, descobre o que de corrupção está sendo levado da Prefeitura de São Paulo.

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Enquanto você não souber quanto a Prefeitura está sendo roubada ou está (sendo) lavado o dinheiro dentro da Prefeitura, você não sabe o orçamento que você tem, apesar de ser um orçamento bilionário. Então, inteligência , mais poder de polícia... Os grupos que utilizarão fuzis, esses grupos que podem até utilizar fuzis que o Tarcísio apreende, que o governo aprende, e dá para a Polícia Militar, Polícia Civil. A gente pode utilizar esses fuzis.

Serão grupos especiais e altamente treinados para usar uma arma de letalidade de guerra e só em combate extremo, principalmente com o PCC, que tem mais fuzil do que criança tem pirulito hoje em dia.

Então, não é fuzil para toda a Guarda sair dando tiro para todo lugar. Inteligência você vai descobrir quem são as quadrilhas que operam roubando o celular, Que é crime organizado. O cara acha que roubar celular é um crime menor. Não. Os Pix hoje em dia, isso é tudo coisa de crime organizado com gente que já está acostumada desde há muito tempo a roubar velhinho pela internet.

Começou lá nos princípios de 2005. Crimes lá em Goiânia. Crimes em que o sujeito entrava na conta de alguém, fazia um phishing, pescava dados, e de repente roubava todo mundo sem dar um tiro.

Por que o crime organizado está preferindo isso? Porque a pena é muito menor para estelionato, não precisa trocar tiros. E não combate-se crime organizado só na base da bala, do tiroteio e da morte. Eu não sou a favor do ‘bandido bom é bandido morto’. Bandido bom é aquele que se entrega e segue seu rito judiciário.

Com um detalhe: se um cidadão estiver sendo ameaçado com arma na cabeça, estiver sequestrado, se um cidadão civil, policial ou não, estiver sendo ameaçado pelos bandidos, dentro da legalidade, não quero esquadrão da morte, mas dentro da legalidade tem que ser usada a força letal.

O senhor tem uma série de propostas, falou em aumentar a Guarda, o ensino integral, fazer as UBS funcionarem duas horas a mais, mas ao mesmo tempo o senhor afirma que tem o compromisso pela redução de impostos. Como se faz isso se, de um lado, o senhor promete ampliar os gastos da Prefeitura, e do outro lado, diminui impostos? A conta fecha?

Claro que fecha. A conta fecha não é em São Paulo, é no Brasil. São Paulo, uma das maiores cidades do planeta, tem grandes problemas. Mas você resolvendo grandes problemas em São Paulo, servem esses grandes problemas para resolver grandes problemas no país.

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Não tenha dúvida. Você usando São Paulo como laboratório, você vai ajudar muito o país. Vou explicar como é que começa a conta. Usando de novo o método socrático. Qual o pior problema que existe hoje no Brasil? Evasão fiscal. Se você resolver o problema de trocar, que é a minha proposta, imposto por emprego, o cara vai ter vontade de pagar menos imposto porque ele vai ser aliviado. Boa parte da carga tributária vai ser aliviada.

Muita gente não paga imposto, ou porque é bandido mesmo, sacana, ou não paga imposto porque não tem aqui um sistema como os Estados Unidos, que cobra imposto pra caramba, mas te devolve em forma de tudo, de serviço. No Brasil não é assim.

Muita gente prefere não pagar imposto porque acha que é injusto o pagamento de imposto demais. Então, você trocando imposto por emprego, quem tiver oportunidade de oferecer emprego à população vai pagar menos imposto, vai ter a sua carga tributária diminuída e vai pelo menos pagar imposto.

Só com isso você resolve boa parte do problema da evasão fiscal. Senão é a Receita Federal em cima, pronto acabou. Aí você já tem um ganho monumental. Você vai construir moradias, você vai construir território de emprego, você vai dar lazer pra população.

A Jacu-Pessêgo tem 6 milhões de pessoas, quase a cidade do Rio de Janeiro, em seu torno ali na zona Leste. A gente pretende criar esses territórios de emprego. Quem construir ali vai ter a contrapartida, isenção de IPTU, que já é importante.

E não precisa ser lá, tem outras obras da cidade. Serão prédios mistos, serão moradias e embaixo você tem comércio, você tem escolas técnicas, você tem todo tipo de aproveitamento, até postos de saúde.

Mas tem que contratar 20% da mão de obra pra erguer esses territórios de trabalho que vão ajudar a atrair empresas. Por exemplo, empresas de logística. Ali é muito perto do Aeroporto Internacional de Guarulhos. E outras empresas, startups, audiovisual. Você pode fazer com Nova York, por exemplo. É um sonho? Não. São Paulo tem potencial e tem verba pra isso. E o principal ponto, aí sim, combater a corrupção. Até que ponto o crime organizado está infiltrado dentro da Prefeitura de São Paulo?

O quanto de dinheiro esses bandidos estão levando do dinheiro público de São Paulo? O quanto dessas obras que não tiveram que ter licitação porque entraram em período emergencial? Parte durante a pandemia, parte não.

Quanto dessas obras, 70% estão sendo investigadas por conluio e coisas que tais.

O prefeito é responsável por tudo isso?

Não, mas como autoridade da maior cidade do país, você pode ajudar, e muito, a ter conversas e contato com quem resolve. Você pode falar com o Lula, você pode falar com quem você quiser, com o governador do Estado. Você representa uma cidade-Estado dentro do Estado mais populoso da União. A região de São Paulo tem quase 12 milhões de habitantes, quase a população de Bruxelas, que é a capital da Comunidade Europeia.

Prefeito de uma cidade como essa é prefeito de uma cidade-Estado, dentro de um Estado que tem a maior população. A região metropolitana de São Paulo tem metade da população de São Paulo e tem a população proporcional da França, da Espanha e daí por diante.

A autoridade do prefeito se resume na lei a determinados limites, mas a autoridade moral do prefeito, a autoridade do prefeito da cidade de São Paulo, ela extrapola os parâmetros da lei e você pode pelo menos estabelecer conversas com as maiores autoridades do País para tentar resolver essa situação.

E enquanto você não souber o quanto está sendo roubado de São Paulo, o dinheiro público que está sendo extorquido de São Paulo, você não pode ter noção de quanto você vai ter de usar e acrescentar no orçamento. Acho que é fundamental você saber disso.

Você sabia que, conversando com um delegado, eu me permito não dizer o nome dele aqui, mas é um dos caras que mais combate o crime organizado em São Paulo, eu cheguei a uma conclusão um pouco diferente da que eu tinha. Você sabia que o PCC está louco para sair dessas companhias de ônibus?

Não é só a polícia ou a força-tarefa do Ministério [Público] que vai tirar esses bandidos de lá e quem os colocou lá vai colocar na cadeia. Sabe qual é o negócio do PCC? É contrabando de armas e principalmente, tráfico de drogas.

O ônibus, quando começou a aparecer a infiltração do PCC, começou a dar ruim para o PCC. O PCC não quer aparecer. Quanto menos aparecer para o PCC, melhor é.

Ele está começando a tirar as suas garras dessas companhias de ônibus porque não é interessante, ficou muito exposto. O negócio é tráfico de drogas e isso a gente pode ajudar a combater também.

Essa, se o senhor não vencer, é a última eleição do senhor ou o senhor ainda pretende candidatar ao Senado eventualmente?

Nem a presidente de time de botão. O meu grande sonho era ser candidato ao Senado. Esse era o meu grande sonho e eu deixei também, por isso que eu disse que era, na realidade, a eleição errada. As outras duas eleições do Senado eu tinha 25%, 30% de intenções de voto e estaria praticamente eleito, mas considero que ainda assim tem uma chance de ter uma votação expressiva na urna. Vamos esperar a urna falar.

Acho que eu cumpri o meu papel durante essas eleições porque o nosso partido, de todos os partidos que tem aí, é o que menos tem dinheiro para gastar e estão gastando enormidades. Chega a se falar em R$ 800 milhões de campanha de prefeito, chega a campanha a presidente dos Estados Unidos.

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