SÃO PAULO — O empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, morto a tiros no Aeroporto de Guarulhos no último dia 8, colaborava com autoridades públicas com informações sobre atuação de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) para lavagem de dinheiro oriunda do tráfico de drogas.
Em parte de seus depoimentos, Gritzbach citou que uma fintech, a 2 Go Bank, é presidida ― e está entre os sócios ― por um investigador de polícia que trabalha no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Procurado, o servidor público não respondeu até o momento, assim como empresas e demais acusados.
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A fintech teria movimentação de R$ 30 bilhões por ano em negócios entre grandes empresas e bancos. Em 2023, a 2 Go Bank ganhou holofotes na imprensa ao criar o Banco do Torcedor, no qual fornece serviços financeiros como conta corrente, pix, cartão e seguro para o torcedores de clube de futebol. Também se apresenta como uma fonte adicional de receita para clubes, integrando serviços de compra de ingresso, e-commerce de artigos esportivos, serviços de apostas e programas de benefícios para os torcedores.
De acordo com documento de proposta de delação de Gritzbach, o empresário citou a suposta participação de Rafael Maeda, o Japa do PCC, em negociações com fintechs usadas pelo crime organizado. Maeda, que morreu em 2023, agenciava jogadores de futebol e enviava dinheiro a Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, morto em 2021.
O delator afirmou ainda em depoimento que Maeda participava de negociações com outra fintech e se apresentava como dono de um banco onde “um policial civil” seria sócio. Essa outra fintech fora constituída em 2013 com o “propósito específico de realizar contratos com construtoras e esquentar dinheiro”. Se tratava de uma sociedade em conta de participação (SCP) que tinha, segundo Gritzbach, Cara Preta como um dos donos.
Segundo documentos que estão com autoridades públicas, Gritzbach entregou um contrato de gaveta na qual o traficante apareceria como um dos donos.
Ao menos 10 fintechs estão na mira da Polícia Civil de São Paulo, da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo. Em agosto deste ano, uma operação deflagrada em conjunto apontou para uso de fintechs para ocultação de patrimônio de pessoas físicas e jurídicas.
A Operação Concierge cita, por exemplo, que a T10 Bank teria auxiliado pessoas físicas e jurídicas com criação de contas invisíveis para evitar rastreamento das autoridades, o que permite lavagem de dinheiro e evita bloqueio de valores. O PCC é apontado como cliente do grupo. A I9Pay também é uma fintech investigada na operação. De acordo com os dados da investigação, as empresas eram hospedadas em instituições financeiras de grande porte autorizadas pelo Banco Central. Investigados negaram irregularidades.
A UPBus, que está sob intervenção da Prefeitura de São Paulo desde abril último, por determinação das 1ª e a 2º Varas de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, também aparece na Operação Concierge suspeita de abrir uma subconta na T10 Bank para ocultar patrimônio e, assim, evitar penhoras.
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