Saiba quem é ex-juiz do TSE que teria auxiliado golpistas a monitorar Moraes e atacar urnas

Sandro Nunes Vieira foi afastado no ano passado pelo CNJ pelo envolvimento no caso; defesa não comenta; em depoimento, Cid apontou envolvimento de um integrante da Corte e Moraes apontou que ela havia sido identificado

Foto do author Pedro Augusto Figueiredo
Atualização:

O juiz Sandro Nunes Vieira, atualmente afastado do Tribunal Federal da 4ª Região (TRF-4) por suspeita de colaborar na campanha para desacreditar as urnas eletrônicas em 2022, também teria ajudado os golpistas a monitorar os passos do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Vieira foi citado no relatório da Polícia Federal, mas não foi indicado pela PF nem denunciado pela Procuradoria-Geral da República na última terça-feira. Contudo, Moraes abriu um procedimento criminal à parte contra o magistrado. O caso está sob sigilo. O escritório de advocacia que atua na defesa do juiz informou que não comenta casos no qual atua.

Sandro Vieira atuou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre 2019 e 2022, e chegou a ser auxiliar da Presidência da Corte durante a gestão de Luís Roberto Barroso. Também foi indicado pela ministra Rosa Weber, em 2020, para integrar o Programa de Enfrentamento à Desinformação nas eleições daquele ano.

O juiz Sandro Nunes Vieira durante evento virtual representando o TSE Foto: Reprodução/TSE

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Segundo a PF, o magistrado “atuou de forma ilegal e clandestina, ao assessorar o Partido Liberal na representação eleitoral contra as urnas eletrônicas”. A investigação aponta que ele ajudou o Instituto Voto Legal a elaborar o documento que embasou a ação do PL que pediu ao TSE a anulação dos votos depositados nas urnas eletrônicas de modelos anteriores a 2020. modelos mais antigos.

A investigação aponta que Sandro Vieira enviou uma mensagem em novembro de 2022 ao coronel Marcelo Câmara, auxiliar de Jair Bolsonaro (PL), pedindo que ele reforçasse a Valdemar Costa Neto que não associasse o nome dele ao pedido do partido. O presidente do PL não seguiu a orientação e mencionou juiz em uma entrevista no interior de São Paulo como uma das pessoas com quem conversou sobre o assunto. À época, Vieira negou ter falado com Costa Neto sobre as urnas.

A ajuda do juiz porém, pode ter extrapolado o caso das urnas eletrônicas. O ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, disse em sua delação premiada que Marcelo Câmara conseguia obter informações sobre os deslocamentos e a agenda de Moraes com um “ministro” do TSE que ele não sabia o nome. A mesma pessoa, segundo Cid, ajudava o Ministério da Defesa a elaborar documentos em que pedia informações ao TSE sobre as urnas e o processo eleitoral.

Moraes, então, o corrige: “Não é um ministro, é um juiz que nós já identificamos”. O ministro não revelou a identidade do magistrado durante o depoimento no dia 21 de novembro do ano passado. Sete dias depois, no entanto, o ministro do STF abriu uma investigação criminal contra Sandro Nunes Vieira. Ele foi afastado do cargo de forma preliminar pelo corregedor-nacional de Justiça Mauro Campbell, decisão que foi mantida pelo plenário do Conselho Nacional de Justiça. O processo disciplinar segue tramitando em sigilo no órgão.

“Um dos contatos dele [Marcelo Câmara] era um juiz, eu não sei dizer a função, mas um juiz do TSE. Inclusive, era ele que auxiliava as Forças Armadas a redigir os documentos que o general Paulo Sérgio encaminhava pro senhor [Alexandre de Moraes]. Ele mais ou menos que dizia: vai nessa linha, escreve isso aqui. Mas eu não sei efetivamente o nome dele”, disse Cid. Apesar da fala de Cid de que não sabia o nome do juiz, o nome “Dr. Sandro” é citado em uma mensagem de Marcelo Câmara para ele, interceptada pela PF.

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Segundo o depoimento dele, Moraes foi monitorado primeiro a pedido dos kids pretos Rafael Oliveira e Hélio Ferreira Lima. Os dois são apontados pela PF como participantes da operação “Copa 2022″, que pretendia prender e assassinar o ministro do STF.