A ideia do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de transferir-se do Republicanos para o PL tem razões para além do pedido de Jair Bolsonaro, seu padrinho político. Divergências no apoio a candidatos a prefeito no Estado e a aproximação do cacique da legenda, o deputado federal Marcos Pereira, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva com vistas à eleição para a Presidência da Câmara se somaram a ruídos anteriores e contribuíram para deteriorar a relação. Tanto Tarcísio quanto Pereira foram procurados para tratar do tema e não se manifestaram, embora tenham já anteriormente ressaltado que nenhum movimento deva feito nesse momento (veja abaixo).
Em Santos, município considerado estratégico pelo Palácio dos Bandeirantes, o prefeito Rogério Santos filiou-se ao Republicanos no fim do ano passado, mas deve abrir mão da reeleição em favor do deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB-SP), que já ocupou o cargo e é ligado ao ministro do Empreendedorismo e da Microempresa, Márcio França, e ao vice-presidente Geraldo Alckmin, que governaram São Paulo.
A auxiliares, Tarcísio não esconde a irritação com este arranjo, que, na sua visão, favorece Alckmin e ajuda o vice-presidente a se cacifar na disputa eleitoral no Estado em 2026. O governador prefere apoiar a deputada federal Rosana Valle. Em São Paulo, ela comanda o PL Mulher, grupo presidido pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. A parlamentar fez parte da equipe de transição de Tarcísio e foi cotada para a Secretaria da Mulher.
A cidade esteve no centro de uma outra briga entre Tarcísio e o Republicanos em janeiro, quando o governo federal ameaçou construir o túnel entre Santos e Guarujá sem a participação do governo do Estado. Na época, aliados do governador se queixaram da inação do ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, que é filiado ao partido, em solucionar o impasse.
No fim, Tarcísio foi a Brasília e, em conversa com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, conseguiu retomar a parceria entre os governos.
Outro ponto que gerou desconforto no Palácio dos Bandeirantes, assim como no entorno de Bolsonaro, é a aproximação entre Marcos Pereira e Lula. O parlamentar quer o apoio do Palácio do Planalto para se eleger à Presidência da Câmara. Este é o último ano de mandato de Arthur Lira (PP-AL) à frente da Casa.
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O temor de aliados de Tarcísio é que haja uma fuga de votos evangélicos do bolsonarismo para Lula, já que Pereira é também pastor da Igreja Universal, uma das maiores congregações cristãs no Brasil.
Na última terça-feira, 5, Pereira admitiu haver uma pressão por parte de deputados do PL para que Tarcísio troque de partido, mas disse não haver motivos para a mudança. Tarcísio também disse que não haveria o que mudar nesse momento. “Os partidos que compõem a nossa base, o PL, o Republicanos, o PP, o MDB, o PSD, a gente considera um grande grupo, é um time só, então eu acho que isso é o mais importante agora. Neste momento, não tem movimento nenhum a ser feito”, disse Tarcísio, sem descartar totalmente uma migração, durante visita à fábrica da montadora Toyota, em Sorocaba (SP).
Auxiliares e Tarcísio dão a mudança como certa, mas não acreditam que ela ocorra nos próximos meses. Veem o atual momento como delicado em função das eleições municipais, em que o Republicanos faz parte da aliança do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e também temem uma possível desarticulação da base na Assembleia Legislativa (Alesp), onde a sigla tem oito representantes.
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