BRASÍLIA - Os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), tomaram partido no conflito político entre os ministros Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, neste sábado, 24. Maia restringiu seu comentário a um ataque contra Salles, ao passo que Alcolumbre ainda reconheceu o papel de Ramos na relação institucional com o Congresso. O ministro do Meio Ambiente afirmou ao Estadão considerar que "o assunto está encerrado".
O Ministério do Meio Ambiente vive uma queda de braço com o Ministério da Economia e tenta reverter o congelamento de parte do orçamento de sua pasta. Ricardo Salles já pediu a Guedes ao menos duas vezes a liberação da verba, mas teve o pedido negado. Na primeira vez, em agosto, Salles já havia ameaçado parar todo o combate a incêndios e o governo acabou recuando. Na última vez, ocorrida nesta quarta-feira, o Ibama determinou de fato o recolhimento de todos os cerca de 1.400 agentes em campo lutando contra incêndios no País. O motivo foi justamente a falta de recursos.
Diante das dificuldades orçamentárias da pasta do Meio Ambiente, Salles soube que Ramos teria articulado com o Ministério da Economia maiores recursos para as pastas da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional. Para o Meio Ambiente, a orientação dada foi para que impusesse limites. Ao tomar conhecimento de que Ramos estaria minando sua atuação, Salles pediu no Twitter nesta quinta-feira, 22, que o general parasse com a "postura de Maria Fofoca". O termo faz referência à fama entre os ministros de que Ramos vazaria informações à imprensa sobre seus pares.
"O ministro Ricardo Salles, não satisfeito em destruir o meio ambiente do Brasil, agora resolveu destruir o próprio governo", criticou Maia em seu Twitter neste sábado. O ataque à atuação de Salles por parte de Maia não é novidade, mas tem significado diferente diante do teste de forças do chefe do Meio Ambiente com o palaciano Ramos.
Alcolumbre, por sua vez, avaliou não ser saudável que "um ministro ofenda publicamente outro ministro. Isto só apequena o governo e faz mal ao Brasil". Interessado na reeleição no Senado, ele está alinhado com o governo e tem atuado como articulador dos interesses do Executivo. O presidente do Senado ainda defendeu a "importância do ministro Luiz Eduardo Ramos na relação institucional com o Congresso".
Ramos é responsável pela articulação política com o Parlamento e tem o apoio de membros do Centrão e da ala militar do governo. O vice-presidente Hamilton Mourão já havia classificado como “péssimo” o que foi dito por Salles. Além dele, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) também elogiou sua condução na articulação política.
Juntaram-se ao coro o senador Fernando Bezerra (MDB-PE), que agora disse ser "importante dar o testemunho do competente trabalho de articulação política realizado pelo ministro Luiz Eduardo Ramos", e o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), líder do MDB na Câmara, que afirmou ter Ramos construído "uma agenda proutiva e democrática com o Congresso".
Ministro do Meio Ambiente
Ao assistir neste sábado, 24, às reações do presidente da Câmara e do Senado, Salles optou por não contra-atacar. "Para mim, este assunto está encerrado", disse Salles ao Estadão.
O ministro do Meio Ambiente acredita ter passado um recado a Ramos da insatisfação não apenas sua, mas da ala ideológica do governo, que vê no palaciano o responsável pela aproximação do governo Bolsonaro com o Centrão. Saíram em sua defesa ao longo da semana o filho do presidente, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e as deputadas bolsonaristas Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP) e Caroline de Toni (PSL-SC).
Após a repercussão negativa, o Ministério do Desenvolvimento Regional e o Ministério da Economia prometeram recursos para resolver o problema financeiro do Meio Ambiente. Com a promessa, o Ibama já chamou seus brigadistas para retornar ao trabalho. Ramos e Salles estiveram juntos na sexta-feira em evento da Força Aérea Brasileira (FAB) junto do presidente Jair Bolsonaro, que atuou como mediador imparcial para amenizar a relação dos seus dois chefiados. Eles combinaram de conversar em uma situação futura, sem previsão de ocorrer.
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