Sem o histórico de representantes da esquerda no governo estadual, Santa Catarina tem este ano na disputa eleitoral um governador afastado do cargo duas vezes em processos de impeachment como líder nas intenções de voto e um congestionamento de candidaturas alinhadas ao presidente Jair Bolsonaro. Pesquisa do instituto Paraná Pesquisas divulgada no mês passado coloca o governador Carlos Moisés (Republicanos) na liderança, com 25,4%, seguido pelo senador Jorginho Mello (PL), com 15,5%, Esperidião Amin (PP), 12,1%, e o ex-prefeito de Florianópolis Gean Loureiro (União Brasil), 10,6%.
Carlos Moisés foi uma das surpresas da eleição de 2018, eleito com 71% dos votos no segundo turno, impulsionado pela onda bolsonarista. O mandato, porém, foi tumultuado. Entre outubro e novembro de 2020 e entre março e maio de 2021, ele foi afastado provisoriamente do cargo em razão de dois processos de impeachment instaurados pela Assembleia Legislativa. Moisés, que é advogado e bombeiro, escapou de ambos - o primeiro processo acusava o governador de conceder aumento ilegal aos procuradores do Estado e o segundo de compra ilegal de respiradores durante a pandemia.
Principal concorrente do governador, o senador Jorginho Mello fez parte do grupo de apoio a Bolsonaro durante a CPI da Covid, no ano passado, e ganhou a simpatia do presidente. Amin e Loureiro também tentam aproximação com Bolsonaro.
Gean Loureiro, que adotou medidas duras de restrição sanitária em Florianópolis durante a pandemia, não dava indícios de que se aproximaria do presidente até a chegada de João Rodrigues (PSD), prefeito de Chapecó e ligado a Bolsonaro, para coordenar sua pré-campanha. “Ele corre o risco de perder esse eleitor que aprovava o seu governo, mas que não tem uma identificação ideológica com o Bolsonaro”, analisa o cientista político e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Julian Borba.
Bolsonaro ainda não se posicionou claramente na disputa em Santa Catarina. No final de junho, durante passagem por Balneário Camboriú para a Marcha para Jesus, o presidente não fez menção à corrida pelo governo catarinense, apesar da presença de Amin e Mello no evento.
Frente ampla da esquerda enfrenta dificuldades
A tentativa de construir uma frente ampla de esquerda enfrenta dificuldades. Tentando repetir a parceria nacional, um acordo entre PT e PSB não foi bem-sucedido e hoje Décio Lima (PT) e o senador Dário Berger (PSB), que saiu do MDB depois de quase 15 anos justamente para concorrer ao governo estadual, prometem disputar a preferência do eleitor. Ambos seguem empatados com 5,3% das intenções de voto.
Até agora Lima tem se saído melhor na disputa. O PT já recebeu apoio de partidos como PSOL, Solidariedade e, mais recentemente, do PDT, o que aumentou o isolamento político de Berger. Os pedetistas devem ter a vaga ao Senado na chapa. A aliança estadual simboliza a união dos partidos que se divergem no plano nacional. Ciro Gomes, por exemplo, tem intensificado os ataques ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Quando um projeto começa mal, acaba mal”, criticou o senador Dário Berger em entrevista para o Estadão/Broadcast no final de junho, fazendo referência a uma aliança da esquerda no Estado.
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