A disputa pelo governo do Estado mais rico e com mais eleitores do País espelhou neste ano como nunca a polarização travada na eleição presidencial. Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), que representam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL), nacionalizaram o discurso ao longo de toda a campanha e, segundo as pesquisas, devem se enfrentar no segundo turno. Pela primeira vez, o PSDB, com o atual governador Rodrigo Garcia, pode ficar de fora.
O ineditismo também marca a trajetória de Haddad, que lidera a corrida desde os primeiros levantamentos e chega ao dia da eleição com 39% a 41% dos votos válidos, segundo as pesquisas Datafolha e Ipec (ex-Ibope), respectivamente, divulgadas ontem. Os índices são os maiores já alcançados por um petista em São Paulo. No Agregador de Pesquisas do Estadão, Haddad tem 41% dos votos válidos, Tarcísio soma 30% e Garcia, 22%.
Colado em Lula e rodeado de aliados não apenas da esquerda, mas do centro político – como o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSD) e a ex-senadora Marina Silva (Rede) –, o petista focou suas críticas aos governos João Doria/Rodrigo Garcia, do PSDB, e os alternou com ataques calculados à gestão Jair Bolsonaro.</IP>
Minar as chances do atual governador chegar ao segundo turno foi estratégia não só de Haddad, mas também de Tarcísio. Ambos chegaram a fazer dobradinhas em debates de TV, numa exposição clara da tentativa de se evitar a debilitada, mas persistente, tradição tucana em São Paulo.
Com o bolsonarismo simbolizado em Tarcísio nesta eleição, Garcia tentou retomar o posto de candidato antipetista ao longo da campanha, centralizando suas críticas à gestão de Haddad na Prefeitura de São Paulo. E, para isso, usou também o tempo de TV e rádio de seu candidato ao Senado, Edson Aparecido (MDB). Coube a ele listar obras atrasadas de Haddad na saúde e a Garcia, relembrar o eleitor dos escândalos de corrupção do PT.
Nesta eleição, no entanto, sem o peso de ter de defender um padrinho político preso, Haddad se arriscou a confrontar adversários sobre políticas de combate à corrupção. Se eleito, promete ampliar e dar autonomia à Controladoria-Geral do Estado, a exemplo do que diz ter feito no Município.
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A proposta de aprimorar mecanismos de controle está nos planos também de Tarcísio que, seguindo as demandas bolsonaristas, foi o único candidato a prometer rever o programa estadual de instalação de câmeras nos uniformes de parte dos policiais militares, que derrubou a taxa de mortes praticadas por PMs.
Mas, para ultrapassar Garcia nas pesquisas de intenção de voto, Tarcísio não seguiu apenas a cartilha do bolsonarismo. Tutelado por nomes do PSD, partido que compõe sua chapa, o candidato decorou rapidamente os principais problemas do Estado, dando prioridade a projetos de mobilidade e logística, suas bandeiras à frente do Ministério da Infraestrutura na gestão Bolsonaro.
Propostas para o 2º turno
Os compromissos assumidos pelos candidatos ao governo de São Paulo vão de impostos congelados e devolvidos a mutirões de cirurgias, conclusão de obras de mobilidade, cartão para compra de alimentos, bilhete único para o transporte entre cidades da Grande São Paulo, ampliação do crédito para o microempreendedor e planos de recuperação da aprendizagem no pós-pandemia, entre muitos outros exemplos.
Como de costume nas últimas eleições estaduais em São Paulo, parte das promessas inclui obras atrasadas de mobilidade, como linhas de metrô e o Rodoanel; ampliação da rede de restaurantes do Bom Prato (agora com a novidade de um cartão para compra de alimentos); projetos de parceria com a iniciativa privada em obras de habitação, saneamento e penitenciárias; e investimento em escolas de tempo integral e técnicas.
Para o cientista político Márcio Black, o segundo turno deve se nortear por propostas de redução das desigualdades no Estado que, apesar de ser o mais rico, viu sua população mais carente crescer nos últimos quatro anos. “Uma eventual disputa entre Haddad e Tarcísio no segundo turno forçará o PSDB a se posicionar também neste sentido.”
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